Por Hermes C. Fernandes
De acordo com as Escrituras, a história da saga humana começa num jardim e termina numa praça. O que os difere é que o jardim era cercado de árvores, enquanto a praça é cercada de edifícios. No centro de ambos, a Árvore da Vida. Ora, a menos que a tal árvore tenha mudado de lugar, somos levados a crer que se trata do mesmo ambiente. O jardim do Éden foi promovido a praça da Nova Jerusalém. E ao redor da Árvore da Vida erigiu-se uma civilização. Uma sociedade formada de seres humanos regenerados. Gente que abriu mão de viver para si, para construir suas vidas ao redor do trono da graça.
O perímetro onde a Árvore da Vida está plantada representa a esfera relacional de plena comunhão entre o Criador e a criatura. O Éden, jardim das delícias, nada mais é do que isso. O pecado nos exilou da presença imediata de Deus. Alienamo-nos d'Ele desde o dia em que, ao comermos de um fruto que nos era vetado, tornamo-nos num ramo de outra árvore, a do conhecimento do bem e do mal. Nossa rebeldia não poderia ter custado mais caro. Fomos expulsos do paraíso de mala e cuia. Nossa nudez foi exposta. Queríamos ser como Deus e descobrimo-nos como animais. Se o fruto do qual comemos fosse apenas do conhecimento do bem, tudo seria mil maravilhas. Mas ele também nos introduziu ao outro lado. O mal se nos tornou familiar. Eis a razão pela qual o mundo está doente.
Sorte nossa Deus não ter desistido de Sua obra.
Desde então, a criação inteira ficou na expectativa de que esta sina seria revertida. Um dia a Árvore da Vida nos seria franqueada novamente. Porém, para isso, alguém teria que enfrentar a espada dos querubins guardiões do jardim. Aquela era a espada da lei. Quem se atrevesse a enfrentá-la, certamente morreria. Por isso, sobre a tampa da Arca da Aliança onde as tábuas da lei foram depositadas, havia dois querubins. O Santo dos Santos onde a Arca fora colocada representa o centro do jardim, lugar da presença imediata de Deus. Cristo enfrentou a espada da lei que bloqueava nosso acesso à Árvore da Vida. Apesar de inocente, tal espada não O poupou. Seu sangue pavimentou nosso caminho de volta ao paraíso, lugar que representa nossa comunhão com o Pai. Seu corpo foi depositado num túmulo emprestado e escoltado por dois anjos, os mesmos que guardavam a Árvore da Vida. Coube a eles anunciar às mulheres lá estiveram que Jesus já não estava ali. A última aparição destes guardiões se deu quando o mesmo Jesus foi assunto ao céu.
Sua morte vicária na cruz reinaugurou o paraíso. O ladrão que morria ao Seu lado foi o convidado de honra para cortar a fita. Os guardiões da Árvore da Vida foram promovidos a arautos do reino. "Ele não está mais aqui!", anunciaram à porta do sepulcro que ficava exatamente no centro de um jardim.
Todo aquele que n'Ele crê, alimenta-se do Seu fruto e recebe a vida eterna. Foi Ele mesmo quem nos afiançou: "Quem de mim se alimenta, também viverá por mim" (Jo.6:57).
Cristo é a Árvore da Vida. Como Deus e Homem, Ele é aquele que enfrenta a espada da lei para garantir-nos acesso a Si mesmo. E ao d'Ele nos alimentarmos, tornamo-nos ramos da Videira Verdadeira. Etimologicamente, "videira" significa justamente "árvore de vida".
Somos, portanto, ramos da Árvore da Vida que é Cristo, plantados à margem do Rio da Vida, que é o Espírito Santo, e temos um duplo objetivo: produzir frutos para Deus, e remédio para as nações através de nossas folhas (Ap.22:1-2; Ez.47:12). Sempre que me deparava com essas passagens em, me perguntava em que sentido nossas folhas curariam as nações.
Para que servem as folhas de uma árvore, afinal? Para produzir o oxigênio. Isso se dá através de um processo conhecido como fotossíntese.
Para que esse processo ocorra, é necessário a atuação de três agentes: o sol, com a sua luz (foton); o gás carbônico produzido por todos os que respiram, e que é considerado nocivo para nós mesmos; e as folhas, com seu poder de processar esse gás carbônico, devolvendo-o à atmosfera em forma de oxigênio.
Interessante essa analogia... Recebemos de Deus o bem, mas por causa de nossa natureza caída, o bem passa por nós, e transforma em algo nocivo aos nossos semelhantes e a nós mesmos. Recebemos da natureza o oxigênio, que depois de passar por nós, se transforma em gás carbônico. Nossa natureza caída transforma remédio em veneno, vida em morte, amor em ódio, justiça em vingança.
Não precisamos nos esforçar para isso. Está em nossa natureza. Por isso, Paulo dizia: "Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum. Com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem" (Rm.7:18).
Deus, em Sua infinita sabedoria, plantou no meio do Seu Jardim (humanidade) a Árvore da Vida. Aos nos convertermos a Ele, tornamo-nos ramos dessa árvore. E nossa suprema missão é reverter esse quadro danoso, esse círculo vicioso de ódio, rancor e vingança.
Mas não podemos fazê-lo sozinho. Não é na força de nosso braço. Como diz a Escritura, não é por força, nem por violência, pelo Espírito. Lá fora está o Mundo sem Deus, a humanidade caída, produzindo males para si mesma. Nosso papel, como Igreja de Cristo, é romper com o ciclo da maldade, e transformar o mal que recebemos em bem.
Como se dará essa "química"? Como processá-la? Que misteriosa alquimia é esta, capaz de transformar "ferro velho" em ouro?
Sozinhos? Impossível! E é aí que entra o único que pode produzir a síntese perfeita: Deus.
Tal qual o Sol na fotossíntese, é o Pai Celestial que origina todo o processo. Como vimos, a Árvore da Vida é Cristo, do qual somos ramos. As folhas representam a manifestação da natureza divina em nós, capaz de transformar o mal recebido em bem.
A Igreja de Cristo é como um poderoso reator, capaz de processar todo mal que recebe, e devolvê-lo ao mundo em forma de perdão e amor.
"Abençoai aos que vos perseguem; abençoai, e não amaldiçoeis (...) A ninguém torneis mal por mal (...) Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem." Romanos 12:14,17a,21
"Não pagueis mal por mal, nem injúria por injúria. Pelo contrário, bendizei, porque para isso fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança (...) Tende uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom procedimento em Cristo. Melhor é que padeçais fazendo o bem (se a vontade de Deus assim o quer), do que fazendo o mal." 1 Pedro 3:9,16-17
E é assim que o bom perfume de Cristo é extraído de nós, e exalado no mundo. Em vez de questionarmos a razão de sofrermos, devemos receber a injustiça, e devolvê-la ao mundo em forma de amor. E será assim que o mundo passará por aquilo que chamo de amorização. A Terra se encherá do conhecimento de Deus, e a fragrância de Seu amor reunirá todos os povos ao redor do Trono da Graça.
Fonte: Hermes C. Fernandes