Pássaro criado desde pequeno em gaiola, quando vê a porta aberta, o horizonte arreganhado, e o céu como um útero sem fim e sem limite — teme, não ousa sair, prefere a pequenez de alpiste garantido do que a experiência de ter asas e voar, de ter canto e com ele seduzir, de ter penas e com elas se cobrir na chuva, de ter amigos e com eles andar em bando solto, livre, moleque e alegre; passagardaianamente feliz como nem Manoel Bandeira jamais conseguiu passagardear.
Aqui à minha volta há centenas de pássaros livres, e que vêm pela comida e água que lhes dou; e, hoje, já pelo habito que neles desenvolvi.
Ficaram habituados à liberdade amiga e interdependente!
Também tenho outros sete pássaros, todos em gaiolas. Já abri a gaiola para eles, mas eles não querem ir.
Um ousou pular fora, mas, sem saber que voava, voltou.
Apenas um papagaio que me foi dado, e que eu via que sofria numa pequena gaiola, aceitou o convite, e, durante dois dias, ficou do lado de fora, habituando-se à liberdade, até que partiu...
Vendo esses pássaros, olhando o céu e a liberdade de ser, penso nos crentes de gaiola.
A Graça é o céu da liberdade, do cuidado do Pai, da dependência do amor, da entrega a Providencia.
A Graça é a Passagarda que não existe nas gaiolas e nem nos templos. Mas quem se habitou à gaiola, teme a vida, apavora-se ante a liberdade, e prefere um exator que doa alpistes em gaiolas-celas do que o cuidado de um amor limpo e livre, e que apenas adiciona aos cuidados do Pai, o cuidado de um irmão — meu, aos meus pássaros livres.
Há alguns que já não podem mais provar a liberdade. Tornaram-se tão enfraquecidos, embora o céu os agasalhe; tão sem vôo, embora tenham asas; tão incapazes de si mesmos, embora sejam únicos; tão apavorados ante o que lhes é natural embora voar lhes seja o andar; ou seja: ficaram tão não-pássaros — que a janela aberta, para entrar e sair lhes é ameaça e risco de morte.
Crente de gaiola! O Céu te chama! A Liberdade conclama tua alma!
O Pai quer cuidar de ti ao ar livre! Tu confias?
Nele,
Caio
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