Por Hermes C. Fernandes
A Revista de História da Biblioteca Nacional publicou artigo sobre o crescimento dos Evangélicos no Brasil que foi reproduzido em francês em uma edição da Revista Courrier Internacional. Segundo um trecho da reportagem publicado na coluna de Ancelmo Gois no jornal O Globo, “enquanto nos últimos 50 anos a população brasileira cresceu 63,2%, o número de evangélicos quase dobrou de tamanho, aumentou 93%. A religião que mais cresce é aquela que resolve os problemas individuais e distribui benefícios imediatos, mas tem pouco a oferecer à sociedade”.
Sinto-me impulsionado a concordar com o artigo. De fato, o discurso anacrônico de muitas igrejas, sobretudo, das midiáticas, tem colaborado para este quadro. O mercado religioso evangélico oferece milagres à granel, técnicas de autoajuda, discurso moralista e fundamentalista ao extremo, militância política de perfil ultra conservador, mas não atenta para as demandas sociais de nosso tempo. Como bem denunciou o profeta Jeremias: "Desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade.E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz" (Jr.6:13-14).
Ontem mesmo tive o desprazer de assistir a uma pregação onde o pastor confessou ter pago considerável quantia para ser preletor de um importante evento promovido numa cidade balneária da região sul pela maior igreja pentecostal do Brasil. Pelo jeito, poucos escapam.
A bem da verdade, só se pode dar o que se tem recebido. "O que eu recebi do Senhor", brada São Paulo, "isso também vos entreguei" (1 Co.11:23).
De quem recebemos aquilo que temos distribuído em nossas igrejas? Ora, se foi do Senhor, por que não produz o efeito desejado? Como explicar que lugares onde a igreja mais cresce, os índices sociais permanecem os mesmos? Igrejas superlotadas enquanto a criminalidade avança.
"Não tenho ouro, nem prata", disse Pedro a um paralítico, "mas o que tenho, isso te dou" (At.3:6). O problema é que queremos dar o que não temos recebido. Prometemos mundos e fundos para atrair as pessoas aos nossos cultos, mas não lhes damos o essencial. Dizemos que Jesus é a resposta, quando sequer sabemos quais são as questões verdadeiramente pertinentes do nosso tempo. E, mesmo quando nos propomos a dar exatamente o que temos recebido, achamo-nos no direito de cobrar por isso. É claro que ninguém vai ter o descaramento de estipular um preço. Preferimos a sutileza. Recorremos ao argumento da oferta para incentivar as pessoas a barganhar com Deus. Esquecemo-nos da advertência feita por Jesus: "de graça recebestes, de graça dai" (Mt.10:8).
Já passou da hora de acabarmos com esta farra. O povo de Deus precisa acordar. Chega de alimentar a esta indústria religiosa famigerada. Abaixo à ostentação de líderes religiosos inescrupulosos!
"Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap.2:29). Ainda que Ele esteja usando pessoas de fora de nosso círculo. Ele já fez isso antes, inúmeras vezes, e não duvido que esteja fazendo agora mesmo através do papa Francisco, com seu exemplo de austeridade e simplicidade.
Que nos voltemos para as periferias, dispostos a arregaçar as mangas e trabalhar lado a lado com a sua população para garantir um futuro mais justo às próximas gerações. E que esta reportagem da Revista de História da Biblioteca Nacional seja entendida como um puxão de orelha dado pelo próprio Deus naqueles que dizem falar em Seu nome.
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