sábado, 10 de maio de 2014

MINHA INSEGURANÇA



Insegurança dá em qualquer um. Já vi as pessoas mais inatingíveis do ponto de vista daqueles que se assombram com quase tudo, de súbito colapsarem em pânico, apenas porque a mãe de 97 anos está morrendo.

Nunca me senti inseguro. Mesmo nos momentos mais difíceis, sempre cri que haveria um socorro, uma ajuda, uma mão, um vento, um amigo, um sonho, um visitante, um anjo, um propósito a vir ao meu encontro.
E sempre houve!...
Poucas foram as ocasiões em que me senti inseguro. Durante a vida adulta e o ministério, houve umas poucas vezes em que senti grande aflição e insegurança — quando um amigo veio me ajudar em 1985 e me deixou mais de 70 mil dólares de dívidas dele (fugiu); quando um outro amigo me deixou dívidas de muitos milhares de dólares para eu pagar em 1986; quando um grande amigo que me pedia há anos para vir trabalhar comigo, veio em 1986, e surtou de súbito, não me dizendo o que era, e ainda deixando a esposa pensar que era algo que eu teria feito; quando vi que me metera em algo sem volta, a menos que houvesse uma calamidade, em 1995, quando me relativizei como homem casado; quando me divorciei e vi o mal que se avizinhava; e quando entrei como um idiota na história do Dossiê Cayman e, em 15 de novembro de 1998, dentro de um avião da Varig, apertava um exemplar da Folha de São Paulo, enquanto rangia os dentes em pânico nervoso, encolhido na cadeira, espremendo-me contra o assento como se pudesse traspassá-lo para um mundo paralelo, enquanto dizia: “Meu Deus! Eu morri! Recebe o meu espírito!”.
Depois disso conheci a insegurança como estado de espírito.
De 1999 em diante a insegurança me dominara de tal forma que ninguém poderia imaginar.
Por fora, eu não temia nada entre os homens; exceto a mídia que se acampava à minha porta dias e dias...
Quanto ao mais, não temia ninguém. Ia onde queria e olhava nos rosto de quem deseja.
De fato, o que eu sentia era uma raiva essencial. E isso era tão forte que qualquer um que tivesse a má sorte de me provocar, apanharia na rua, na esquina, em qualquer lugar (Não fiz isso, mas andei perto).
E como nunca temera essas coisas — nem homens, nem demônios, e nem seqüestradores ou bandidos, andava como quem avançava, embora não soubesse que um homem que não tem medos pequenos e nem grandes, quando fica inseguro, se torna agressivo e até capaz de violência.
Quando conheci Adriana estava nesse ponto. Ela se assustou algumas vezes ao ver o antes meigo e manso “reverendo” ser capaz de não aturar qualquer forma de desrespeito, e, onde quer que fosse, botar gente pra correr...
Ela dizia: Você não é assim!
Eu dizia: Eu sei. Eu sei...
Ora, eu sabia que aquele potencial sempre existira em mim, pois, no passado, eu muito o tornara poder efetivo nos enfretamentos do Jiu-Jitsu ou na rua. Mas, com a conversão, aquela energia desaparecera por completo. Agora, todavia, sem a segurança que vem de Deus, em razão de que pela culpa eu me sentia um Sansão cego e sem forças, a violência se manifestou no engano da alma de tentar fazer sua insegurança essencial ser transformada em violência como segurança.
Assim, no auge da insegurança, botei gente pra correr; fiz um evangelista de praça que me dera um tapão nas costas (quando eu ia passando) ficar tremulo e apavorado; tomei revolver de quem ameaçava atirar nos outros; impedi violências de rua dando ordem aos covardes, etc. Mas tudo era pela força da insegurança.
Então, um dia, admiti minha insegurança. Que dia difícil! Pois, eu não me sentia inseguro (ao contrário), embora as minhas reações fossem as de um lutador inseguro.
E que insegurança era aquela?
Ora, além daquilo que como trauma se instalara em mim em razão das coisas horripilantes que me haviam acontecido, ainda havia a pior de todas as inseguranças: aquela que dizia respeito aos meus filhos.
Então, só então, descobri como minha família era mais minha proteção do que eu fora para ela; e que alguns amigos me eram mais refugio do que eu tinha sido para eles; e que poder andar sem culpa, como um cordeiro no meio dos lobos, era de fato o grande poder que me possuíra a vida toda, mas que, agora, em razão da culpa, me havia “deixado”, largando-me num estado de não ter medo de homens, mas cheio de medo de não mais ter aquela vida de amor para viver com os que amava.
No início me agarrei à Adriana. E ela me agarrou de volta. E eu nem sentia ainda mais a agudeza da insegurança em razão da presença constante do amor dela por mim.
Minha mente rodava de tonteira ante o carrossel de problemas e conflitos nunca antes existentes para mim, mas que agora se assemelhavam a diabos presentes em cada canto da vida. 
Ora, achar a insegurança que se escondia sob minha ausência de medo, foi tarefa difícil e sincera. Demanda coragem admitir insegurança quando você sempre viveu seguro. Entretanto, enquanto você não admite a verdade, pode até ter a coragem de sair à guerra, qualquer guerra, mas não terá a vida liberta da insegurança.
Quando, todavia, você diz para si mesmo que, mesmo não tendo medo, está inseguro quanto a ser, quanto a se dar por completo ao amor, quanto aos amigos, quanto aos filhos; e, sobretudo, quanto ao seu novo “você” num mundo que acabou (embora você, que morreu, ainda esteja vagando pelo ar, vendo o manejo de seu cadáver) — então, como numa revelação, subitamente você entenderá que sua segurança é, em tal caso, o sintoma de sua profunda insegurança nas dimensões essenciais de seu ser. Então começa a libertação!
Assim, no dia em que você conversa com você na verdade e na luz, então, a sua segurança volta como segurança. Sim! Voltam do modo certo e não mais como “força e imposição”, as quais nada mais são do que os disfarces da insegurança daquele que não teme com os medos de todos, mas teme com seus próprios medos — os quais (os seus próprios medos) não se comportam como os medos dos inseguros de tudo, e dos viciados na insegurança como atitude... — mas sim, expressam-se como força, ousadia, coragem e até violência.
Segurança é: confiança, paz e tranqüilidade feitos vestes do ser!

Nele, em Quem a verdade me liberta todos os dias,

Caio

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