Por Hermes C. Fernandes
“Sabemos que toda a criação geme como se estivesse com dores de parto até agora. Não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos...” Romanos 8:22-23
Através deste texto, nos deparamos com a figura de duas grávidas, à
semelhança de Maria e sua prima Isabel. Trata-se, primeiramente, da
Criação como um todo, e em segundo lugar, nós, a Igreja de Cristo.
A Criação está grávida de uma nova Terra, enquanto a Igreja está grávida
de um novo Céu. Há um parentesco entre ambas, e a gravidez de ambas
está intimamente relacionadas, sendo parte de um único propósito, que
deve se cumprir "assim na Terra como no Céu".
Quando Cristo foi levantado na Cruz, colocando-Se entre o céu e a terra,
Ele reuniu em Si mesmo todas as coisas que há no céu, e todas as coisas
que há na terra (Ef.1:10). Houve então o casamento entre os dois lados
da realidade única criada por Deus. Céu e Terra contraíram núpcias para
gerar um novo cosmos.
A gravidez da criação se deu quando Cristo, a semente incorruptível, foi colocado no “ventre da terra” (Mt.12:40). O corpo de Jesus era a semente divina que engravidaria a criação. Ele mesmo comparou-Se ao “grão de trigo”, que deveria morrer para poder frutificar (Jo.12:24). Seu sepultamento é comparado à semeadura: “Semeia-se em ignomínia, é ressuscitado em glória. Semeia-se em fraqueza, é ressuscitado em poder” (1 Co.15:43).
Quando houver chegado a hora da colheita, por causa daquela semente
incorruptível semeada no ventre da terra, nossos corpos ressuscitarão
incorruptíveis. E toda a criação, que hoje é cativa pela corrupção, se
revestirá de incorruptibilidade. O cosmos inteiro será transfigurado!
A gravidez da igreja iniciou-se quando o Espírito Santo, como semente
incorruptível, foi depositado em nós, a Igreja, por ocasião do
Pentecostes (1 Pe.1:23).
Assim como coube ao Espírito gerar Jesus no ventre de Maria, compete ao
Espírito gerar em nós a imagem de Cristo (2 Co.3:18). Nas palavras de
Paulo, Cristo está sendo gerado em nós (Gl.4:19). A cada etapa desta
gestação espiritual, ficamos mais parecidos com o Senhor Jesus. Quando
Cristo vier em glória, será a hora do parto, e finalmente, nos
manifestaremos ao mundo (1 Jo.3:2).
Paulo diz que a gravidez da Criação e a gravidez da Igreja estão profundamente relacionadas. Há, por parte da criação, uma “ardente expectativa” pela
manifestação dos filhos de Deus (Rm.8:19). Segundo o apóstolo, tal
manifestação proporcionará plena liberdade à criação (vv.20-21).
Então, surge a questão: De que maneira a igreja e a criação deveriam interagir durante o tempo de gravidez de ambas?
Encontramos nas Escrituras cristãs a história de outras duas grávidas,
que nos oferece um padrão que deveríamos seguir em nosso relacionamento
com a criação.
Maria e Isabel eram primas. Uma era ainda bem jovem e virgem, a outra já era avançada em idade e estéril.
A primeira a receber o anúncio de que se engravidaria foi Isabel. Aquele
a quem ela daria a luz seria o profeta do Senhor, enviado especialmente
para Lhe preparar o caminho (Lc.1:17). O mesmo anjos que apareceu a
Zacarias, seu marido, foi ao encontro da jovem Maria, para anunciar-lhe o
nascimento do Salvador do Mundo, Jesus.
Maria vivia em Nazaré da Galiléia, enquanto que Isabel, sua prima, vivia
na região montanhosa de Judá. Quando o anjo Gabriel informou a Maria
que sua prima também estava grávida, seu coração desejou profundamente
encontrá-la.
“Naqueles dias levantou-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma
cidade de Judá, entrou na casa de Zacarias e saudou a Isabel” (Lc.1:39-40).
Embora Maria estivesse logo no início de sua gravidez, ela não esperou
que sua prima viesse lhe visitar. Em vez disso, ela tomou a iniciativa,
saindo-lhe ao encontro, disposta a enfrentar o terreno íngreme das
montanhas.
Por que a iniciativa partiu de Maria, em vez de Isabel? Porque Isabel só
recebeu o anúncio de sua gravidez, enquanto Maria foi informada sobre a
sua gravidez e a de sua prima. Ela conhecia o que sua prima
desconhecia. Ela era portadora de uma mensagem mais abrangente, que
incluía ela e Isabel.
Podemos tomá-las como alegorias da Igreja e da Criação.
Isabel representa a criação, já avançada em idade, mas prestes a dar à
luz uma nova criação. Maria representa a Igreja de Cristo, grávida
d’Aquele que fora destinado a reger as nações (Ap.12:1-5). Assim como
Maria gerou Jesus, o Cabeça do Corpo, a igreja é o útero no qual o
Espírito Santo está gerando aqueles que formam o Seu Corpo Místico.
Jesus é o Novo Homem, o segundo Adão, enquanto a Igreja é a nova Eva,
mãe da Nova Humanidade (1 Co.15:45).
Assim como Maria saiu ao encontro de Isabel, a Igreja deve sair ao
encontro da Criação, e não o inverso. Mesmo antes da manifestação plena
dos Filhos de Deus, a Igreja deve deixar sua zona de conforto, enfrentar
o terreno íngreme e pedregoso do mundo, para encontrar-se com a
Criação.
O texto prossegue: “Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo” (Lc.1:41).
Muito dos cataclismos naturais que temos assistido ultimamente, nada
mais são do que as contrações de uma natureza gestante. Provavelmente,
Isabel já havia sentido muitas contrações, mas o que ela sentiu no
momento em que ouviu a saudação de Maria foi completamente diferente. A
criança que era gerada em seu ventre saltava de alegria, cheia do
Espírito Santo. Tal deve ser a reação da natureza, quando a Igreja de
Cristo sai-lhe ao encontro.
Sair ao encontro da criação é entrar em sintonia com seus problemas, e
trabalhar para que ela tenha uma gravidez tranqüila. É claro que os
gemidos são inevitáveis. Ainda testemunharemos muitos terremotos,
furacões, secas, e outros fenômenos naturais, que nos advertem quanto à
proximidade do fim. Não do fim do mundo, mas do fim da gestação, quando
um novo mundo emergirá. Quanto mais próximo estivermos do advento de
Cristo, mais intensas serão as contrações, até que se rompa a bolsa
d’água, os raios do Sol da Justiça sejam vistos no horizonte. Apesar
disso, podemos deixar nossa passividade, e trabalhar pelo bem-estar do
meio-ambiente, defendendo um modo vida sustentável, e o futuro das
próximas gerações. Como devemos tratar uma grávida? Da mesma maneira
devemos lidar com a Criação. Assim como João foi cheio do Espírito,
saltando no ventre de Isabel, quando a Criação ouvir a saudação da
Igreja, ela se encherá do Espírito e será restaurada (Sl.104:30).
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