Por Hermes C. Fernandes
Desta vez, não foi sem querer querendo. Assim que ouvi a notícia, cheguei a duvidar de sua veracidade, já que várias vezes sua morte foi falsamente alardeada pelas redes sociais. Mas desta vez, infelizmente foi o que aconteceu. Roberto Bolaños, criador e intérprete do "Chaves" e do "Chapolin" deixou o palco da existência.
Bolaños podia ser considerado o Chaplin latino, um mito, uma lenda do humor universal. Definitivamente, sua obra não tem prazo de validade. Poucos percebiam que o seriado se passava nos anos 70. Talvez, por isso, jamais perdeu sua vitalidade, alcançando várias gerações.
O teor subversivo de seus personagens e estórias se esconde por trás de sua ingenuidade. Bolanõs jamais precisou recorrer a certos clichês, nem apelar à sensualidade como geralmente vemos em outros programas humorísticos. Nas entrelinhas de seus episódios, há uma eloquente crítica social à realidade compartilhada pelos países da América Latina.
Chaves, o protagonista, é um menor abandonado que mora dentro de um barril. Vítima de bullying por parte dos moradores da vila, Chaves se revela dotado de uma malícia infantil que sempre rende boas risadas, mas que deveria igualmente render boas reflexões. Os personagens da vila retratam o arranjo social cada vez mais presente em nossas cidades. Mulheres e homens que criam seus filhos sozinhos, como dona Florinda e Seu Madruga. Gente ociosa como Seu Barriga, que vive da renda dos aluguéis de seus imóveis. Velhos como a Bruxa do 71 que apesar da idade ainda sonham viver um grande amor. Crianças mimadas como Quico e Chiquinha que acham que o mundo gira em seu redor, mesmo sendo filhos de pais em condições sociais tão diferentes. A vila onde moram retrata o cenário onde vivem milhões de pessoas ao redor do globo.
Já o Chapolin (cujo nome desconfio que tenha sido tributo a Chaplin) é o que podemos chamar de anti-herói politicamente incorreto. Além de fraco, desengonçado e feio, ninguém podia realmente contar com sua astúcia. Ele jamais teve a pretensão de ser herói de ninguém. É um herói cheio de super-fraquezas.
O Brasil, que sempre esteve isolado do restante da América Latina, não contava com a astúcia e genialidade do humorista mexicano, e agora chora sua partida.
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