quarta-feira, 4 de junho de 2014

Combatendo a raiz do desespero humano

 

 Por Hermes C. Fernandes
Eis a genealogia do desespero humano: a morte gera o medo, o medo gera a ansiedade, e a ansiedade gera a depressão.


Quando nos convertemos a Cristo, o pavor da morte é neutralizado, e a ansiedade fica órfã. E mesmo em sua orfandade, ela ainda é forte o bastante para gerar a depressão.

Como lidar com a ansiedade? Como livrar-se da inquietação da alma?

O mesmo antídoto usado contra o medo da morte deve ser usado para tratar da ansiedade: o Amor.

Quando nos sentimos amados por Deus, sabemos que somos importantes para Ele. Deus Se importa com aqueles a quem ama. Foi para isso que Jesus chamou a atenção dos Seus discípulos: “Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu; não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros, e, contudo, o vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? Qual de vós poderá, com as suas preocupações, acrescentar uma única hora ao curso da sua vida? Quanto ao vestuário, por que andais ansiosos? Observai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam. Eu, porém, vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé? Portanto, não andeis ansiosos, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Pois os gentios procuram todas estas coisas. De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas elas. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal”.[1]

A ansiedade faz com que invertamos nossas prioridades. Passamos a atribuir maior valor àquilo que não tem tanto valor. Fazemos do meio, um fim em si mesmo. O alimento passa a ser mais importante do que a vida. A roupa tem mais valor do que o corpo. O sexo se torna mais importante do que o companheirismo. O salário mais importante do que a vocação profissional. E assim por diante.

Cristo nos conclama a observar o mundo à nossa volta, percebendo os cuidados que Ele dispensa à criação. Ele cuida dos pássaros, dos animais selvagens, dos insetos, dos peixes, e até das minúsculas bactérias. Se o homem é a coroa da criação, como Deus não Se importaria com ele?

Cristo nos convida a descansar em Seu Amor providencial. Não há nada a temer. O amanhã pertence a Ele. Pra quê sofrer por antecipação? Enquanto nos preocupamos em demasia com o futuro, deixamos de viver o dia chamado “Hoje”.

Atribui-se a John Lenon a seguinte frase: “A vida é o que se passa, enquanto nos ocupamos com outras coisas”.

Quando enxergamos a vida com as lentes do amor, deixamos de priorizar nossas próprias necessidades, para priorizar o Reino de Deus e a sua justiça.

Quando descansamos nos cuidados d'Ele, nosso sono é tranqüilo e reparador. Mesmo quando fugia de seu filho Absalão, que intentava matá-lo, Davi foi capaz de declarar: “Eu me deito e durmo; acordo, porque o Senhor me sustenta”[2]. Em outro Salmo, ele diz: “Em paz me deitarei e dormirei, pois só tu, ó Senhor, me fazes habitar em segurança”.[3] O salmista sabia que “aos seus amados, Ele dá enquanto dormem”.[4]

A vida não é como um aparelho de vídeo-cassete, que basta apertar um botão pra fazer avançar o filme, ou um outro pra rebobinar a fita. A ansiedade faz com que percamos a paciência de esperar a conclusão de um processo. Queremos saber o final da história, enquanto ela ainda está em andamento.

Lembremo-nos de que “aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Cristo Jesus”.[5] Deus não abandonará Sua obra, antes que ela seja concluída. E nada, absolutamente nada, é capaz de fazer com que Ele altere Seu cronograma. Pois “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”.[6]

A melhor coisa a se fazer é confiar e descansar. De outra maneira, estaremos provocando o Senhor, e nos rebelando contra Ele. Cabe aqui a exortação do Espírito Santos, encontrada na epístola aos Hebreus:

“Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama HOJE, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado. Temo-nos tornado participantes de Cristo, se é que guardamos firme até o fim a confiança que desde o princípio tivemos. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, com na provocação (...) Procuremos, portanto, entrar naquele descanso, para ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência”.[7]

Não há alternativa! Temos que confiar no amor e no zelo de Deus por Seu povo. Se deixarmos de confiar, estaremos desperdiçando o dia chamado “Hoje”, em favor de um amanhã incerto.
Ele é responsável por nossa vida, e por todos os nossos amanhãs.

Nas palavras de Pedro, devemos lançar sobre Ele toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós.[8] E como podemos lançar sobre Ele nossa ansiedade? Vejamos a recomendação de Paulo:
“Não andeis ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e pela súplica, com ações de graças, sejam as vossas petições conhecidas diante de Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus”.[9]
A oração é o mecanismo através do qual nos livramos da ansiedade. Nossa confiança em Deus precisa ser verbalizada. Orando, externamos nossas inquietações. A oração não visa mudar Deus, e sim, mudar a maneira como vemos a vida. Os planos de Deus não são alterados quando oramos. Quem precisa ser transformado somos nós, e não Deus.

Orar é verbalizar. Suplicar é recorrer à misericórdia de Deus. Tudo isso precisa ser acompanhado de ações de graças. Não devemos deixar pra agradecer depois de recebermos a resposta de nossas orações. Se não formos capazes de agradecer, enquanto pedimos, sairemos da oração ainda tomados pela ansiedade. Será que Deus me ouviu? Será que Ele me responderá? São questões inquietantes, e que atentam contra a fé. Não podemos duvidar dos cuidados de Deus. Aquilo que pedimos está nos planos de Deus. Ele decidiu lhe abençoar, me antes de você nascer. Entretanto, para que isso redundasse em ações de graças, Ele decidiu que lhe abençoaria em resposta às suas orações. As ações de graças validam nossas orações. A oração com ações de graças é a válvula pela qual somos livres das pressões e inquietações da vida.

Diante do túmulo de Lázaro, antes mesmo de ordenar que ele voltasse à vida, Jesus orou: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves”.[10] Este é o padrão de uma oração que nos livra das inquietações e angústias diante da morte e da vida.

Não basta declarar nosso amor a Deus. Devemos afirmar o quanto nos sentimos amados por Ele, e isso, o fazemos através de ações de graças.

[1] Mateus 6:25-34[2] Salmo 3:5[3] Salmo 4:8[4] Salmo 127:2b[5] Filipenses 1:6b[6] Eclesiastes 3:1[7] Hebreus 3:12-15, 4:11[8] 1 Pedro 5:7[9] Colossenses 4:6-7[10] João 11:41b-42a

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