domingo, 14 de novembro de 2010

Mesmo que você trate seus filhos da mesma forma, o "lugar na família" pode diferenciá-los e influenciar a personalidade deles

É comum que os pais digam que tratam os filhos sempre da mesma forma independentemente da idade. Mas na prática, raramente é assim que funciona. Uma das razões é a diferente posição em que as crianças se encontram na faixa etária da casa. Segundo Beatriz Otero, psicóloga infantil da Clínica Multidisciplinar Elipse, em São Paulo, na maioria dos casos o comportamento dos pais em relação ao filho mais velho, ao mais novo e ao do meio é diferente. E embora não seja uma regra, tais diferenças podem influenciar sim na personalidade que cada filho terá – e ajudar os pais a entendê-los melhor.

Primogênitos: maior atenção dos pais e auto-exigência

No caso dos irmãos mais velhos, que costumam ter a atenção dos pais voltada só para eles durante um período da vida, Otero diz que eles provavelmente irão carregar um peso de expectativas maior do que os filhos que chegarem depois. “Na hora do primeiro filho os pais estão mais inseguros, então ele vai ser mais cobrado e provavelmente terá mais regras para cumprir, como ter uma hora específica para voltar para casa durante a adolescência, por exemplo”, conta a especialista. Segundo ela, por esta razão existe a possibilidade de ele se tornar mais responsável que os outros. E de se sentir mais pressionado para ser perfeito, também.

Em entrevista para o site do “Today Show”, programa norte-americano de televisão, o psicólogo Frank Farley, especialista em desenvolvimento humano da Universidade da Filadélfia, nos Estados Unidos, afirma que os mais velhos também obtêm mais sucesso quando o assunto é educação. Isso porque eles têm mais tempo dos pais na hora de receber explicações e conhecimento – quando um segundo filho entra em cena, esse tempo se torna mais escasso.

Por outro lado, pela mesma razão de serem melhor “atendidos” pelos pais, os primogênitos também têm mais medo de falhar. “Eles geralmente têm muito medo do fracasso, então nada do que fazem parece bom o bastante”, declarou a terapeuta infantil e familiar Michelle Maidenberg, de Nova York, também ao “Today Show”. Por isso, é necessário que eles saibam que fracassar vez ou outra não é o maior problema do mundo e que é possível aprender com os próprios erros, afirmou Kevin Leman, psicólogo e autor do livro “The Birth Order Book” (“Livro da Ordem do Nascimento”, na tradução literal), ao site do programa. Contar de quando você foi demitido do primeiro emprego, por exemplo, ajudará bastante.

Mas para Ivete Gattás, psiquiatra da infância e adolescência da Unifesp, embora seja comum os pais serem mais exigentes – e mais temerosos – com o primeiro filho, isso não necessariamente vai influenciar na personalidade das crianças. “Aprende-se a ser pai e mãe com o primeiro filho, e quando os outros chegam aquelas situações que primeiramente causavam pânico ou angústia já não existem tanto”, explica.

Os do meio: independência e falta de atenção dos pais

Quando o segundo filho chega, é bem difícil que o mais velho não sinta um pouco de ciúmes. E se o terceiro entra em cena, quem pode se sentir prejudicado em alguns aspectos é o do meio. “Enquanto o mais velho acaba sendo o reizinho da casa e o mais novo o bebê, o do meio fica perdido lutando por uma posição”, descreve Beatriz Otero. Há a possibilidade de eles acharem que não são valorizados – por isso, os pais devem estar atentos para não deixá-los fora de foco. O irmão do meio também pode acabar se tornando mais autêntico e ter mais autonomia que os irmãos, por ter menos dificuldade de se tornar independente.

“Normalmente eles são os primeiros a saírem em viagem com alguma outra família ou a dormirem na casa de um amigo”, exemplificou a professora de psicologia Linda Dunlap, da Marist College, de Nova York, ao site do “Today Show”. Para Maria Cristina Capobianco, psicóloga especialista em comportamento infantil e adolescente, os filhos do meio podem acabar ganhando mais amigos do que os outros, já que sentem não receber tanta atenção dos pais. Mas não se engane com a autonomia: os filhos do meio também querem ser ouvidos.

Os mais novos: extroversão e mimo

Enquanto isso, os caçulas vivem a experiência de ser os bebês da casa não só para a mãe, mas também para os irmãos e irmãs mais velhos. Por isso, tendem a ser os mais mimados. “Mas é difícil afirmar que isso ocorra sempre. Depende do momento em que eles nascem e como estão as condições da família. De repente há um contexto de mudança de cidade, uma separação, a morte de um ente familiar. É muito importante avaliar essas situações também”, explica Capobianco.

Com tanto estímulo e elogios, os mais novos também podem se tornar os mais extrovertidos. Ainda assim, eles podem ter mais dificuldades para conquistar a independência. “Os pais muitas vezes exigem menos deles, então eles podem ser mais relaxados e até mesmo mais rebeldes”, avalia Beatriz Otero. Os pais precisam lembrar que todos os filhos devem seguir as regras da casa, sem exceção.

Alvorada voraz!!