domingo, 27 de outubro de 2013

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Nossos corpos ressuscitarão? Como?


Por Hermes C. Fernandes

Assistir a um corpo descendo à cova não é nada fácil. Mais impactante ainda é assistir às cinzas de um corpo cremado sendo lançadas ao mar. O que será desses corpos? Digo, dentro da perspectiva cristã.

O credo apostólico é claro quanto à crença cristã histórica na ressurreição, tanto de Cristo, quanto de todos os homens. Nele se afirma que Jesus Cristo foi “morto e sepultado; desceu ao Hades; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos .” Além de chancelar a crença “na ressurreição do corpo (1) e na vida eterna.” Mas como isso se dará?

O que dizer de corpos que foram reduzidos a nada? Seus átomos se espalharam pelo ar e hoje fazem parte de outros corpos e até de objetos inanimados. Como reagrupá-los? Que Deus é onipotente, todos concordamos sem titubear. Todavia, se um átomo que antes pertencia a um corpo, agora pertence a outro, a qual deles ele se ajuntará na ressurreição? E no caso de um órgão que tenha sido doado, em que corpo ressuscitará, no que doou ou no que recebeu?

Na fantasia de muitos, quando a última trombeta soar e Cristo surgir entre as nuvens do céu, os túmulos se abrirão, e os corpos se levantarão reanimados. Talvez uma leitura literal dos textos sagrados sugira isso. Porém, devemos cuidar para que não tropecemos numa literalidade radical, e, assim, exponhamos a autoridade bíblica ao desprezo de muitos desnecessariamente.

Obviamente que tal expectativa está embasada nas Escrituras, em pelo menos dois dos seus textos. Um deles está em Ezequiel 37:12-13, onde lemos: “Portanto profetiza, e dize-lhes: Assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu abrirei os vossos sepulcros, e vos farei subir das vossas sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. E sabereis que eu sou o Senhor, quando eu abrir os vossos sepulcros, e vos fizer subir das vossas sepulturas, ó povo meu.” Basta conferir o restante do texto para perceber seu caráter alegórico, apontando para a ‘ressurreição’ de Israel como nação, e não a ressurreição universal que ocorrerá no último dia. O outro texto é ainda mais contundente. Nele, o próprio Cristo declara: “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação”(João 5:28-29).

Repare que em momento algum Ele diz que os mortos sairão dos seus respectivos sepulcros. O que é afirmado ali é que aqueles cujos corpos estavam nos sepulcros naquele momento, um dia ouviriam a sua voz e ressuscitariam.

Se devêssemos fazer uma leitura literal, como ressurgiriam os que não houvessem sido sepultados? O que dizer dos que foram cremados? E os que foram vítimas da explosão de uma bomba? E os que tiveram seus corpos lançados ao mar e foram devorados por peixes? Estas questões demonstram o absurdo de se crer que a ressurreição tenha a ver com a reanimação de corpos.

Outra coisa que acaba por confundir a muitos é o fato de que a Bíblia garante que experimentaremos uma ressurreição semelhante a de Jesus. Ora, Ele ressuscitou com o mesmo corpo, embora glorificado. Então, conclui-se que também ressuscitaremos com os mesmos corpos. A base para tal conclusão está em Filipenses 3:21, onde Paulo declara que Cristo  transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas.” Mesmo que o resultado seja o mesmo, o processo será diferente. Isto porque Jesus não viu a corrupção, isto é, Seu corpo não chegou a decompor-se (At.2:31). Apesar de que seremos ressuscitados pelo mesmo poder que O levantou dentre os mortos, recebendo corpos igualmente incorruptíveis e glorificados, passaremos por um processo diferente, pois nossos corpos terão sido decompostos.

Convém, ainda, salientar que, a Bíblia fala da ressurreição do "corpo" (soma), não da "carne" (sarx). Isso, porque "carne e sangue não podem herdar o reino de Deus; nem a corrupção herda a incorrupção"(1 Co.15:50).  O corpo espiritual de que fala Paulo será tangível, material, mas não carnal, sujeito ao desgaste do tempo e à morte. 

Ora, se não sairão dos sepulcros, de onde virão os corpos dos ressuscitados?

A resposta pode ser encontrada em diversas passagens, porém, quero destacar duas.

Em Judas 1:14 lemos que Cristo virá “com milhares de seus santos.” E em 1 Tessalonicenses 4:14, Paulo diz que “aos que em Jesus dormem, Deus os tonará a trazer com ele.”

Portanto, quando Cristo aparecer em glória, os santos de todas as eras virão juntamente com Ele em seus corpos glorificados.

Estes corpos não são a continuidade dos atuais. Pelo menos, não para os que houverem morrido. Paulo compara nosso corpo atual a uma tenda portátil, chamada ali de tabernáculo, enquanto nosso corpo celestial seria um edifício, reservado no céu para nós.  As moradas a que Jesus se refere como estando sendo preparadas para nós não são mansões literais, mas nossos novos corpos.

Tão logo deixamos este corpo, somos remetidos ao último dia, recebendo de imediato um corpo glorioso e imperecível, de modo que, jamais viveremos sem um corpo. Leia atentamente e confira se não é isso que Paulo nos garante:

“Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. Pois neste tabernáculo nós gememos, desejando muito ser revestidos da nossa habitação que é do céu, se é que, estando vestidos, não formos achados nus. Porque, na verdade, nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos oprimidos, porque não queremos ser despidos, mas sim revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.”2 Coríntios 5:1-4

Provavelmente o texto mais esclarecedor sobre o assunto, encontra-se na primeira epístola enviada por Paulo a esta mesma igreja, no capítulo 15. Ali, ele oferece resposta a várias questões relativas ao tema.

“Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente. Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo.” 1 Coríntios 15:35-38

Sem uma compreensão ampla, podemos deduzir precipitadamente que Paulo estivesse afirmando que o novo corpo nada mais será do que a continuação deste, e que, portanto, nosso corpo atual terá que deixar a sepultura ao clangor da última trombeta.

Todavia, o que Paulo está dizendo é exatamente o oposto. “Quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer (...) Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor. Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual” (1 Co.15:42-44). Logo, o corpo que desce à sepultura não é o mesmo que se manifestará com Cristo em glória. 

Apesar de espiritual, ainda assim, será corpo. Não será uma fumacinha. Nem uma energia sutil. Mas, corpo tangível, tal qual o do Cristo ressurreto, que não apenas pôde ser tocado por Tomé e pelos demais discípulos, mas também processou alimento e conservou várias das características físicas, inclusive as cicatrizes.

Mesmo que não seja exatamente o mesmo corpo, creio que nosso corpo espiritual guardará várias de nossas características físicas, sobretudo, as fisionômicas. É como se Deus guardasse nos arquivos celestiais um backup com a sequência exata de nosso DNA, acrescido do código de nossa consciência, que preservará intacta a memória de todas as nossas experiências. Nada se perderá! A única coisa que será removida de nossa natureza será o pecado, causador da morte. Seremos nós, nosso código genético, nossa personalidade, nossa fisionomia, porém, aperfeiçoados, sem enfermidades ou deformações, sejam de caráter físico ou psicológico. Talvez, apenas algumas cicatrizes que serão como troféus, marcas de uma vida dedicada à causa do reino de Deus e de Sua justiça.

E quanto aos que estiverem vivos no momento em que Jesus Se manifestar em glória? Segundo Paulo, “num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (1 Co. 15:51-53).

Diferente de Jesus, cujo corpo não chegou a corromper-se, e daqueles que estiverem vivos no momento da parousia, os que já houverem morrido, terão que receber um novo corpo. Essa "tenda" é apenas o andaime que precisará ser removido para dar lugar ao edifício glorioso que emergirá. De uma maneira ou de outra, quer estejamos vivos ou mortos, o fato é que receberemos novos corpos, que, ao mesmo tempo, será continuação do atual no que tange à morfologia (forma), e algo totalmente novo no que tange à natureza.  Sem este novo corpo, jamais poderíamos viver no ambiente da eternidade, composto do novo céu e da nova terra, que nada mais são do que os atuais inteiramente restaurados à sua ordem original.

Fique tranquilo, que certamente nos reconheceremos lá, mesmo com as eventuais correções em nossa aparência. Nossa personalidade, e, por conseguinte, nossa memória serão preservadas. Nossa história jamais será esquecida. Caso contrário, não seríamos nós, mas outros. E não haveria qualquer razão para ações de graça.  Como agradecer por algo de que não temos qualquer lembrança? Como poderemos louvar ao Cordeiro, senão nos lembrarmos dos nossos pecados que O levaram à cruz?

Quando a Bíblia diz que não haverá mais lembranças das coisas passadas, não é no sentido de que seremos submetidos a uma espécie de amnésia. Mas no sentido de que não serão mais essas lembranças que determinarão nossa vida. Assim como Deus diz não se lembrar dos nossos pecados. Todavia, ninguém deduz daí que Ele sofra de alguma amnésia.


(1) O credo original traz "ressurreição da carne" em vez de "ressurreição do corpo", todavia, as Escrituras usam o termo "carne" como eufemismo do ser humano como um todo, material e espiritual.



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