quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Um transtorno que provoca transformação


Por Hermes C. Fernandes


TRANSformar – Ir além das formas estabelecidas

Além de não conformar-se, isto é, ajustar-se aos padrões vigentes, o Evangelho do Reino provoca transformações profundas, tanto no indivíduo, quanto na sociedade.

No indivíduo, esta transformação começa pela renovação do seu entendimento, conforme lemos em Romanos 12:2. Portanto, parte do subjetivo. Sua cosmovisão é radicalmente afetada. A maneira como se vê, e como enxerga a realidade à sua volta muda drasticamente.

Ele passa a perceber-se como um pecador carente da misericórdia divina. Há uma expansão da sua consciência (Metanóia no grego , ou arrependimento em português). Sua avaliação de si mesmo e do mundo passa a estar em linha com a avaliação feita por Deus. Suas opiniões particulares se rendem à verdade revelada na Palavra.

A introspecção inicial dá lugar a uma nova cosmovisão. Embora parta do subjetivo, não pára aí. Ao sentir-se transformado por Deus, o indivíduo é comissionado e desafiado a trabalhar pela transformação do mundo. Daí o caráter objetivo e abrangente da transformação proposta pelo Evangelho.

A injustiça imperante na sociedade começa a causar-lhe náuseas, porque seu coração agora bate no compasso do coração de Deus. E ele não se contenta a ser um mero espectador da história, mas almeja ser um agente subversivo do Reino de Deus.

O Espírito do Senhor que passa a habitar nele, o impulsiona a trabalhar pela restauração dos lugares há muito devastados pelo crime, pela injustiça social, pela corrupção, pela promiscuidade, e por tudo o que degenera o ser humano (Isaías 61:4).

A transformação desejada é precedida por um TRANSTORNO.

Transtornar é bagunçar o que está arrumado, para então estabelecer um novo padrão. Para dar uma faxina nada casa, é imprescindível que se tire as coisas do lugar.

Os discípulos de Jesus foram acusados de transtornar o mundo (At.17:6). Onde o Evangelho chegava, havia sempre uma desordem inicial, um alvoroço, como o que aconteceu em Éfeso, quando os comerciantes amargaram um enorme prejuízo por conta do culto a deusa Diana ter sido desacreditado.

Como já devem ter percebido, gosto muito de estudar a origem etimológica das palavras.

Algumas traduções trazem o vocábulo “alvoroço” em vez de “transtorno”. A palavra “alvoroço”, tem a mesma origem de “alvorecer”. Quando se tocava o clarim da alvorada no acampamento do exército romano, havia um alvoroço, que logo era seguido pela ordem matinal, com todos os soldados devidamente enfileirados.

A trombeta de Deus tem sido tocada, onde quer que o Evangelho do Reino seja anunciado. O alvoroço causado pela proclamação da verdade é o prenúncio de que a aurora está prestes a raiar.

Esta transformação deve abarcar todos os campos do conhecimento humano, e todos os setores da sociedade. A cultura, a ciência, a legislação, a educação, a família, nada fica imune ao fluir do Rio de Deus. E onde quer que ele passe, tudo revive ( Ez.47:9).

A igreja de Cristo não tem o direito de represar o rio da vida. Não somos lagoas de águas paradas, infestadas de micróbios e larvas de insetos. Somos o canal por onde passam as águas do rio de Deus. Deixemos, portanto, que elas desaguem no mundo, a fim de transformá-lo.

Uma religiosidade intimista, circunscrita ao indivíduo e às suas experiências, não poderá romper com os diques. O rio de água viva prometido por Jesus, flui do nosso interior, e não em nosso interior. O interior do homem é o ambiente de onde as águas transformadoras jorram, mas não é o ambiente onde elas devem desaguar.

Não deixe de acompanhar as próximas reflexões sobre o assunto. Indique também a um amigo.