segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O Templo de Mamom (Ops, Salomão) e o legado dos poetas


Uma rápida retrospectiva de um Julho com cara de Agosto



Por Hermes C. Fernandes

Hoje começa o mês de Agosto, geralmente identificado como um mês de desgostos. A impressão que se tem é que tudo de ruim que poderia ocorrer neste novo mês, ocorreu antecipadamente no mês cujo nome é dedicado a Júlio César, fundador do império romano. 

Poetas no deixaram. Aviões caíram. Israel protagonizou cenas de horror em Gaza, matando centenas de civis inocentes, inclusive crianças. E como se não bastasse tanta desgraça, inaugurou-se em São Paulo o Templo de Mamom. Por favor, não o chamem pelo nome do sábio rei autor de Eclesiastes e de Provérbios. Seria um ultraje à sua sabedoria.

O mundo parece ter enlouquecido. 

Como se não bastasse costurar o véu rompido no momento em que Cristo expirou, Macedo reconstrói o templo, lugar de sacrifício, anulando, assim, a nova aliança em que o único templo de que Deus dispõe é o Seu povo. Lamentável. Um ultraje ao sangue do Justo.

Quem diria que aquele rapaz que ficava em pé atrás da bateria que eu tocava quando tinha apenas 6 anos, se tornaria neste mega-empresário da fé? Quem poderia supor que ele aproveitaria o que aprendera de meu pai para construir um templo/monumento réplica do construído pelo sucessor de Davi? Será que isso deveria entrar na conta de meu pai? Seria ele o responsável por esta aberração? Responsabilizá-lo seria como responsabilizar Daniel pela estátua construída por Nabucodonosor. Revelar e interpretar o sonho não o fez cúmplice daquela insanidade. Assim como Jesus não é responsável pela hidra em que se tornou o cristianismo, nem Maria e os santos culpados pelo culto prestado a eles. 

Do mesmo lugar de onde Macedo saiu para fundar a IURD, Deus tem levantado um povo com uma visão diametralmente inversa à dele, que se nega a enxergar o mundo como um palco para suas performances circenses, preferindo enxergá-lo como oportunidade para demonstrar o amor de Deus em gestos de misericórdia e solidariedade.

Semelhantemente, não se pode culpar Abraão e demais patriarcas por aquilo em que Israel se tornou, uma máquina de guerra. 

Não temos controle sobre o que farão com o que houvermos ensinado depois que partirmos. Nossas palavras poderão ser pinçadas de seus contextos e torcidas a ponto de dizer exatamente o que pretendíamos combater. 

Macedo não durará para sempre. Mas sua obra faraônica, caso não seja demolida, poderá se manter de pé por séculos, abrigando seus restos mortais e servindo de monumento à sua extraordinária capacidade de gestão eclesiástica. Pena que a use para um desserviço à causa do reino de Deus.

João Ubaldo, Ariano Suassuna e Rubem Alves, os poetas que perdemos recentemente, ao que tudo indica, nada deixaram construído, porém, legaram-nos palavras que ainda ecoarão por milênios. O templo erguido por Salomão sucumbiu por mais de uma vez. Porém, as palavras que nos deixou registradas nos dois livros atribuídos à sua autoria, acompanharão a humanidade até o fim dos tempos. 

Apesar de não ter assentado um único tijolo, Jesus foi a pedra angular sobre a qual o reino de Deus é erigido entre os homens.