sexta-feira, 11 de abril de 2014

São Paulo da garoa

























Do equinócio ao solstício - Um poema de Hermes C. Fernandes


Ninguém escapa desta sina
Qual seja o credo, raça, ofício
Se pé-rapado ou gente fina
Se estrangeiro ou patrício

Quem perde o senso ou desatina
à beira de um precipício?
Se enlouquece, azucrina
Transforma risos em suplício

Sem antes ler, em baixo assina
legitimando o fictício
Na avenida ou na esquina
O que era show virou comício

Abriram a tampa da latrina
Congresso agora é meretrício
Pagar a conta é dar propina
Ao povo resta o sacrifício

Xô com esta ave de rapina
Nenhum poder é vitalício
Quem está em pé não se inclina
Seja qual for o artifício

Pago pra ver quem me fascina
Se pela cruz Deus é propício
Qualquer barganha Ele abomina
Pois a virtude torna em vício

O que se faz lá à surdina
Traz desamor, não benefício
Vista Armani ou batina
Quer que se dane o desperdício

No condomínio ou na colina
Ou lá no Vale do Silício
Que cheiro de naftalina!
Disso não quero nem resquício

A esperança é a vacina
Voltar a crer é exercício
Condena a hidra à guilhotina
E cerra as portas do hospício

É o amor que descortina
Desde o fim até o início
O que sequer nem se imagina
Jamais deixou algum indício

O ouro ainda está na mina
Com o que se faz um edifício?
Quer seja pródigo ou sovina
Só vale a pena se é difícil

Eis a estrela matutina
Oferecendo seu auspício
Que com o sol se amotina
Do equinócio ao solstício