segunda-feira, 10 de junho de 2013

A SEMENTE DE DEUS EM MIM



Todo o que é gerado de Deus não vive pecando, pois nele está o esperma divino. Ora, esse não é capaz de viver pecando porque foi gerado por Deus (I João 3: 9).

Esperma é a palavra grega para designar a semente da graça divina no homem. O que é nascido de Deus carrega o esperma divino.

Que imagem forte!

De fato, a palavra aparece em muitas outras ocasiões, e seu uso é farto no Novo Testamento.

No entanto, a não ser no nascimento de Jesus, a imagem nunca antes teve tanto impacto. Isto porque se cria uma imagem de caráter visceral e carregado de sentido genético e procriativo.

Jesus disse, quando se despedia, que seus discípulos estavam sentindo dores de partos. Paulo disse que sentia dores de parto até Cristo ser formado em alguém. E, aqui, João diz que o nascido de Deus carrega em si o sêmen divino. E que este sêmen da graça é que o impediria de viver uma vida que tivesse contentamento na pratica da violação da consciência; ou seja: praticando o pecado.

Aquele que é nascido de Deus, ainda assim peca. Só não consegue é ter paz na instituição da violação da própria consciência como projeto existencial.

E este é um processo constante e crescente. Até Cristo ser gerado em nós.

Ora, o sinal dessa cristificação é que os bichos se reconciliam em nós. Lobo e cordeiro pastam juntos. Leão e boi se alimentam de palha, pois os leões viram vegetarianos. E a serpente vive de poeira, de obras mortas que já estão mortas mesmo, por isto, nada mais significam. A serpente passa fome nos ambientes de um coração no qual o milênio da Graça se instalou.

Nesse dia o esperma divino terá feito um homem ter se formado como homem, ainda que vivendo inacabadamente na Terra.

O milênio começa sempre que Cristo é formado num novo ser humano, e que não tem prazer na auto-violação, pois caminha satisfeito e reconciliado, e tem em sua própria paz o seu maior galardão na Terra dos Viventes.


Caio

Os 5 Estágios do Despertar: Negação [Parte 1]

O Presente sem Passado nem Futuro

Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. Conhecendo o que tem sido a minha vida até hoje - tantas vezes e em tanto o contrário do que eu a desejara -, que posso presumir da minha vida de amanhã senão que será o que não presumo, o que não quero, o que me acontece de fora, até através da minha vontade? Nem tenho nada no meu passado que relembre com o desejo inútil de o repetir. Nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim. 
O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto. 

Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'