quarta-feira, 16 de outubro de 2013

GRAÇA BARATA: QUE “NEGÓCIO” É ESSE?


Uma frase para ter sentido lógico precisa obedecer a algumas regras, essas incluem o princípio da identidade, pelo qual um termo tem que ser o que é e não pode nem deixar de ser o que é nem ser o que não é. 

Uma frase também deve obedecer à regra da não contradição: um termo não pode ser e não ser o que é ao mesmo tempo. 

Ora, Graça é teologicamente falando definida como favor imerecido. Existe ampla evidência bíblica para essa definição. Graça é, portanto, uma intervenção divina em favor do ser humano exercendo sobre ele Sua misericórdia, independentemente de qualquer ato de justiça própria que tal ser humano possa fazer. 

Isso fica clarificado em nossa expressão do cotidiano: “De graça”, querendo se referir a algo que não envolve custo ou uma relação de troca monetária ou de qualquer outra natureza. 

Do mesmo modo, Barato é definido como algo com um custo baixo ou que é comprado abaixo do seu valor de mercado. 

O adjetivo Barato, então, já pelo princípio da identidade, assume a existência de um custo ou relação de troca na obtenção do substantivo que qualifica. 

Sendo assim, a frase Graça Barata não pode existir pelas leis da lógica, já que, como vimos, Graça é algo que não envolve troca, e que também como demonstrado acima, Barato é algo que define uma relação de troca. 

Portanto, tal frase acaba por infligir o princípio da não contradição, já que para fazer sentido o termo Graça teria de ser e não ser uma coisa ao mesmo tempo. 

No instante em que adicionamos à palavra graça o adjetivo barata, a palavra graça deixa de significar o que ela de fato significa.

Ela passa assim a ser o que não é! 

Se é graça, então não pode ter custo, se tem custo (mesmo baixo) não pode ser graça. 

Entendo, entretanto, que muitas vezes a graça que não tem custo, tem valor! E muitas vezes o valor de tal graça não é aproveitado pelo ser humano, acostumado apenas a atrelar valor a relações de troca. Porém não é possível pregar uma graça que não seja plenamente Graça! 

O ser humano deve aprender a atribuir valor aquilo que é feito em seu favor imerecidamente e utilizar a Graça Divina em seu favor. Jaques Ellul diz que a Graça é um elemento absolutamente inaceitável do evangelho. De fato ele diz que pregar a Graça causa revolta e repulsa na humanidade, que está condicionada a tentar obter por seus próprios méritos qualquer benefício. 

Talvez uma expressão melhor fosse “Graça desvalorizada” para definir aquilo que Dietrich Bonhoeffer queria dizer quando falou da “graça barata”: a Graça que não é valorizada pelo ser humano simplesmente por ser... de graça... 

Existem algumas pessoas que entram pelo caminho da “graça desvalorizada”, e a igreja, apavorada com a liberdade que a pregação da verdadeira Graça de Deus pode criar, prefere então usar essa desculpa (a das pessoas que entram pelo caminho da “graça desvalorizada”) para criar todo um sistema de controle, pregando uma “graça” controlada de um deus que não tem mais o direito de ser Deus, e que é forçado a obedecer leis. Um deus ao qual foi imposta pela religião uma Magna Carta da mesma forma que os nobres a impuseram ao Rei da Inglaterra na Idade Média. 

Hoje em dia vejo poucas pessoas pregando a Graça. Mesmo os que o fazem pregam uma graça que não é de fato, Graça. 

Na verdadeira Graça de Deus existe perfeita Justiça, pois apenas Deus pode exercer justiça sobre qualquer ser humano. Apenas Deus tem a autoridade para ser justo e justificador de todo aquele que crê. E na Graça nós vemos a verdadeira justiça de Deus, tal como demonstrado em Jesus, que revela a Justiça total, em contraste com a injustiça da lei. 

A justiça de Jesus é sempre uma justiça maior do que a dos escribas e fariseus que era só legalismo. 

A leitura do Evangelho é a demonstração de como a Justiça de Jesus é um escândalo para a Lei, assim como a Graça é escândalo para a religião cristã hoje em dia. 

Ciro D’Araújo e seu pai, Caio — escreveram este texto juntos em julho de 2004.

Ed René Kivitz - Difícil

A sorte pede carona


Por Hermes C. Fernandes

O filme “A morte pede carona” (The Hitcher) é um suspense americano dirigido por Robert Harmon em 1986. Enquanto dirigia para Califórnia, o jovem Jim Halsey oferece carona a um psicopata que mata a todos os motoristas que lhe dão carona. Porém, Jim consegue escapar, mas o cruel e sádico assassino, o persegue de maneira implacável. Para piorar as coisas, a polícia pensa que Jim é o autor das mortes. O filme é um alerta para que as pessoas sejam mais atentas, evitando dar carona a desconhecidos.

Semelhante risco corremos sempre que permitimos que as pessoas tomem carona em nossa vida. Trata-se de uma roleta russa. Pode ser que estejamos dando carona à sorte ou à morte. 

Jeú foi um rei ungido por Eliseu e que recebera do Senhor a incumbência de erradicar de Israel todos os descendentes de Acabe, o malévolo rei, marido da abominável Jezabel. Qualquer descendente de Acabe poderia reclamar o trono para si, e assim, perpetuar sua política perversa.  

Por causa disso, Jeú teria que ser cuidadosamente seletivo em suas amizades e relacionamentos. Qualquer pessoa que se aproximasse poderia ser um agente infiltrado à serviço dos interesses da casa de Acabe.

Certo dia, Jeú encontrou a Jonadabe, filho de Recabe, que lhe vinha ao encontro, o qual saudou e lhe disse: Reto é o teu coração para comigo, como o meu o é para contigo? E disse Jonadabe: É. Então, se é, dá-me a mão. E deu-lhe a mão, e Jeú fê-lo subir consigo ao carro. E disse: Vai comigo, e verás o meu zelo para com o Senhor. E o puseram no seu carro” (2 Reis 10:15-16).

Antes de sair por aí dando a mão ao primeiro que aparece, deveríamos precaver-nos, buscando discernir as intenções de quem se aproxima.

Andar de mãos dadas implica caminhar na mesma direção. Não se pode oferecer carona para quem vai numa direção, se nosso propósito é tomar a direção oposta.  Jonadabe só entrou no carro de Jeú depois de afiançar-lhe que o seu coração era reto para com o dele. Em outras palavras, ambos tiveram que se certificar de que seus corações estavam na mesma sintonia.

Se caminharmos de mãos dadas com quem toma a direção contrária, andaremos em círculo. Imagine o quadro. Nenhum dos dois vai avançar na direção a que se propõe.

A morte que nos pede carona pode ser a morte de nossos objetivos, de nossos sonhos, daquilo para o qual existimos.

“Andarão dois juntos se não estiverem de acordo” (Amós 3:3)? Foi por isso que Paulo e Barnabé tiveram que se separar. Não era possível caminharem juntos sem que houvesse consenso. Suas agendas eram incompatíveis.

Às vezes, separações são inevitáveis para que se poupe a integridade do propósito. Devemos fidelidade à nossa consciência antes de a qualquer parceria. Todavia, há que se zelar para atenuar o trauma causado pela separação.

No fundo, somos todos caroneiros. Ora pedimos carona, ora oferecemos a quem nos pede. O importante é irmos na mesma direção e estarmos na mesma sintonia de coração. Ouçamos a recomendação de Paulo: 
Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer.” 1 Coríntios 1:10
Alguns pedem pra descer simplesmente por já terem chegado ao seu destino e não por desejarem tomar a direção oposta. Seja como for, se não vai para o mesmo lugar, se não tem o mesmo parecer e propósito, Adios amigo! Hasta la vista. Foi bom enquanto viajamos juntos. Guardemos as boas recordações e jamais permitamos que nossa história seja maculada por mágoas desnecessárias.