quarta-feira, 26 de março de 2014

O fiasco da Marcha da Família com Deus


Por Hermes C. Fernandes

Pelo jeito, os conservadores que saíram às ruas neste sábado (22) têm muito que aprender com os evangélicos. Se queriam pretendiam reunir uma multidão em defesa dos "valores da família", deveriam ter organizado shows com a presença de estrelas afinadas com o diapasão do conservadorismo. Afinal, somente mediante este tipo de expediente, faz-se possível arrastar uma multidão de desmiolados, sem qualquer noção de história, apenas embalados no oba-oba

Diferente da primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ocorrida há cinquenta anos, em 19 de março de 1964, a edição de sábado foi um completo fiasco em todas as 15 capitais que tentaram reviver o protesto, que entre várias coisas, defendiam o retorno dos militares ao poder. 

O Rio de Janeiro, considerada uma das cidades mais politizadas do País, cerca de 150 pessoas se concentraram na Candelária, no centro da cidade, e marcharam até a sede do Exército, na Avenida Presidente Vargas, com cartazes e gritos de ordem. Um total vexame no mesmo cenário que reuniu quase um milhão de pessoas no último grande protesto popular em julho do ano passado. 

Em São Paulo, a locomotiva econômica do Brasil, cerca de 200 adeptos do movimento se reuniram na Praça da República com o objetivo de relembrar a marcha anticomunista e de apoio ao golpe militar. Em Belo Horizonte, o vexame foi ainda maior: apenas cinquenta pessoas se concentraram na porta da 4ª Companhia de Polícia do Exército, na rua Juiz de Fora, no Santo Agostinho, região centro-sul da capital. 

Em sua edição original, “Marcha da Família Com Deus pela Liberdade” reuniu cerca de 500 mil pessoas em São Paulo. A marcha foi uma resposta ao comício que o presidente João Goulart fez na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março, quando reuniu 200 mil pessoas. 

Creio que a experiência mal-fadada deste final de semana enterra de vez qualquer pretensão de mobilização pela volta dos militares ao poder. A sociedade brasileira está "mal acostumada" com a democracia e aprendeu que é para frente que se anda. Apesar do mar de corrupção que insiste em assombrar nosso país, a liberdade é valor inegociável para a nossa gente. Ademais, mesmo durante os anos de ditadura militar, a corrupção tem se mostrado uma questão endêmica que demanda muito mais do que uma intervenção golpista. A diferença é que hoje, com a liberdade de imprensa e a autonomia da polícia federal para investigar, o que antes ocorria sorrateiramente, agora vêm à luz.

William Schnoebelen Entrevista com um Ex Vampiro 9 de 9