quarta-feira, 22 de abril de 2015

Você já teve um Déjà vu?


Por Hermes C. Fernandes


Déjà vu é uma reação psicológica em que o indivíduo tem a impressão de já ter estado no mesmo lugar antes, ou já ter visto alguém com quem acaba de encontrar, ou ainda, já ter vivido uma situação. O termo é uma expressão da língua francesa que significa, literalmente, já visto.

Quem nunca foi invadido por esta sensação súbita? Quem nunca se pegou pensando: 'eu já passei por isso"?

E por que passamos por isso? Por que somos levados a viver a mesma experiência repetidas vezes? Creio que a vida se assemelha a uma escola. Estamos aqui pra aprender. Assim como um aluno é obrigado a revisar toda a matéria já estudada ao ser reprovado, só avançamos em nossa jornada existencial depois de haver aprendido as lições ministradas em cada etapa. Portanto, se sentimo-nos como os hebreus andando em círculo pelo deserto do Sinai, é possível que ainda não tenhamos avançado em nossa compreensão dos propósitos de Deus. 

Acredito que foi esta a sensação que Pedro teve em um de seus últimos encontros com Jesus. Três anos e meio se passaram, desde que se encontrara pela primeira vez com o Filho de Deus. O cenário era o mesmo: o mar de Tiberíades (também conhecido como Mar da Galiléia). A situação, idem. Depois de uma noite inteira de redes vazias, Pedro já estava desanimado. Toda sua experiência como pescador não fora suficiente para garantir-lhe uma boa pesca. Parecia que o mar não estava pra peixe. 

"Eu já vi este filme antes", pensaria Pedro se vivesse em nossos dias. Só falta aparecer Jesus! 

De repente, ouve-se uma voz:

- Filhos, tendes alguma coisa de comer?

A voz soou familiar, mas ninguém se atrevia a arriscar um palpite. 

A resposta era óbvia: NÃO!

Pelo que Jesus ordenou: 

- Lançai a rede à direita do barco e achareis.

Até aquele momento tudo os remetia àquele primero encontro. Porém, a ordem dada à época diferia daquela dada então. Da primeira vez, Jesus ordenara que lançassem a rede em alto mar. Porém, agora, ordenou-lhes lançá-la do lado direito do barco.

Mesmo que Ele nos permita viver situações semelhantes, Ele tem liberdade para dar-nos instruções diferentes em cada uma delas. Por isso, parece-me inútil acreditar que se possa decorar Seu modus operandi. Seus movimentos são imprevisíveis. 

Ainda que a lição a ser aprendida seja a mesma, Ele sempre inclui algum elemento novo. 

Imagine se Pedro dissesse: Ok, Senhor. Já sei o que fazer. Basta lançar a rede em alto mar como da outra vez, certo? Ele ouviria um sonoro 'não!'.

- Desta vez você vai lançá-la do lado direito do barco. 

Embora a circunstância o remetesse a um Déjà vu ("já visto"), a orientação recebida não poderia ser considerada um "Déjà entendu" ("já ouvido"). Uma expressão desconhecida por muitos é Jamais vu, do francês "nunca visto", e significa explicitamente não recordar de ter visto algo antes. É o oposto de Déjà vu. Eu diria que a sensação de Pedro naquele instante não foi nem de Déjà vu nem de Jamais vu, mas de Presque vu, que significa "quase visto". Frequentemente, alguém que experimente um presque vu dirá que está à beira de uma epifania (revelação). 

Tudo o que Deus nos permite viver sempre trará um elemento novo, inédito, jamais visto, ou jamais ouvido. Caso já tenhamos visto, devemos redobrar nossa atenção ao que será ouvido, pois poderá ser uma instrução completamente nova. Se nossos olhos já viram isso antes, nossos ouvidos jamais ouviram, ou vice-versa. Portanto, jamais será um Déjá vu completo, mas quando muito, um Presque vu

Por quarenta anos, os filhos de Israel viram o mesmo cenário, e tiveram experiências aparentemente repetitivas. Porém, a orientação dada por Deus era sempre nova.

Por mais competentes que sejamos naquilo que fazemos, precisamos submeter-nos à instrução do Mestre. Ele sabe onde estão os peixes. Ele é quem coloca as pessoas certas em nosso caminho; quem nos abre portas de oportunidade; quem nos faz enxergar a situação de outra perspectiva, etc.

Viver sob a orientação de Deus é, de fato, uma aventura. Jamais nos acostumaremos com Ele. Nossa retina sempre surpreendida, nossa rotina sempre rompida.  

E quanto aos resultados?

Na primeira pesca maravilhosa, as redes se romperam, de maneira que muitos peixes retornaram ao mar. Mas na segunda, as redes se mantiveram intactas. Nenhum peixe se perdeu. Por isso, foi possível contabilizar o resultado: 153 grandes peixes. O resultado foi além de qualquer expectativa, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto qualitativo. Eram muitos e eram bons. 

Não basta um bom resultado se este não for permanente. Talvez Pedro tenha reforçado sua rede ao perceber que ordem partia de Jesus. Por que correria o risco de ver metade dos peixes voltarem para o mar? 

Mas a história não termina aqui. Prepare-se para o Grand Finale!

Quando Pedro e seus colegas voltaram para a praia, tiveram uma surpresa: Havia uma fogueira com peixe e pão assado. Isso lembra aquele adágio popular que diz: Quando você vinha com o milho, eu já vinha com o fubá. 

Onde Jesus teria conseguido aquilo? Se já havia pão e peixe pra eles, por que dar-lhes o trabalho de pescar? Que mensagem Jesus intencionava transmitir-lhes? 

Mesmo já tendo providenciado comida por conta própria, Jesus lhes diz: "Trazei alguns dos peixes que apanhastes".

O que isso nos sugere?

Primeiro: Deus não precisa de ajuda de quem quer que seja. Ele é auto-suficiente. Ele sabe Se virar sem nós. Entretanto, somos nós que precisamos desesperadamente d'Ele. Ele, sem nós, segue sendo Deus. Nós, sem Ele, somos nada. 

Segundo: Apesar disso, Ele graciosamente nos propõe uma parceria. Simplesmente para dar-nos o privilégio de sermos participantes em Suas realizações. Com isso, a glória segue sendo exclusivamente d'Ele, mas a alegria é nossa. Enquanto Jesus conseguiu aquele peixe sozinho, eles não teriam pego peixe algum sem Ele. 

Não foi necessário Jesus apresentar-Se. Àquela altura, todos já O haviam reconhecido. E mesmo sendo o Senhor, Jesus fez questão de, uma vez mais, servir aos Seus discípulos, sendo aquela a terceira vez que Se manifestava após a ressurreição. 






* Esta reflexão tem como base S. João 21:1-14.
Fonte: Blog de Hermes Carvalho Fernades