sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Cidades e lugares do mundo
































A polêmica das piadas religiosas do Porta dos Fundos


Por Hermes C. Fernandes

Mais uma vez os humoristas do Porta dos Fundos provocaram a ira dos evangélicos. Não bastassem os vídeos em que brincam com símbolos cristãos, seu último vídeo faz escárnio explícito da mais popular festa cristã: o Natal. 

Rapidamente, pastores e líderes vieram a público pedirem para que os crentes boicotassem seu canal no youtube

Concordo com meus colegas que o pessoal do Porta dos Fundos está indo longe demais. Admiro seu zelo em defender os valores cristãos. Todavia, não comungo da ideia de que a melhor saída seja o boicote. A meu ver, isso só faz propagar ainda mais o canal. Creio ter sido esta a intenção dos humoristas. Pessoas que nunca tiveram qualquer interesse em conhecê-lo, certamente o farão quando ouvirem de seus líderes a recomendação de evitá-lo.

É preferível simplesmente ignorar. 

Ademais, se não demonstrarmos qualquer incômodo com suas piadas religiosas, eles provavelmente desistirão. Funciona mais ou menos como o bullying na escola. Se sentir-se ofendido, continuará até lhe tirar do sério. Se não importar-se, vai minguando até acabar. 

Apesar do admirável zelo demonstrado pelos defensores da fé, há algo que me deixa preocupado. Será que se eles fizessem piadas com os excluídos, os oprimidos, com os que não se enquadram nos moldes do sistema, demonstraríamos o mesmo zelo em defendê-los? Por que só nos manifestamos em causa própria? E se a brincadeira envolvesse símbolos de outras tradições religiosas? Isso não revelaria o quão corporativistas temos sido? 

Sinceramente, prefiro levar na esportiva. Confesso que, às vezes, até rio. Se não da piada em si, da ignorância de quem a contou. 

Outra questão que julgo relevante: até que ponto não somos nós mesmos os culpados por termos nossa fé alvo de tantas chacotas? Que tipo de cristianismo temos vivido? Talvez devêssemos aproveitar a ocasião para fazer uma mea culpa e reavaliar alguns de nossos posicionamentos junto à sociedade e às suas demandas. Se assim procedermos, talvez o que seja motivo de riso para alguns, se torne motivo de lágrimas para nós, conduzindo-nos ao arrependimento de nossa apatia e de nossa fé caricata. Não é a Cristo que atacam, nem mesmo os nossos mais caros símbolos, mas ao nosso cristianismo alienado e descomprometido com a ética do reino de Deus. 

Creio que no juízo haverá menos rigor com quem conta piadas sobre a nossa fé do que com quem torna nossa fé motivo de piadas. 

Ed René Kivitz - Acusação