sábado, 29 de agosto de 2015

Só para os íntimos...



Por Hermes C. Fernandes

“Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.” 
Cânticos 4:12


Nossa vida é dividida em três esferas: a pública, a privada e a íntima.

A esfera pública é aquela à que todos têm acesso. Nela desenvolvemos alguns dos nossos papéis sociais mais importantes, tais como empregado ou empregador, chefe de família/dona de casa, professor ou aluno, cidadão, consumidor, etc. Estamos constantemente sendo avaliados pelos que nos cercam. Por isso, devemos tomar os cuidados necessários para que nosso comportamento não comprometa o nosso testemunho.

Porém, estabelecemos um perímetro e dizemos: Daqui ninguém passa, a menos que seja permitido. Trata-se, portanto, da esfera privada. Nunca época em que nossas vidas ficam expostas nas redes sociais, e somos vigiados 24 horas por dia através de câmeras espalhadas pela cidade, nunca se valorizou tanto a privacidade. Pode-se dizer que ela tem se tornado artigo de luxo. 

Há uma cerca que delimita a fronteira entre as esferas pública e privada de nossa vida. Apesar de nem todos serem bem-vindos, alguns se aproveitam das brechas da cerca para nos espreitar. Trata-se da prática do voyeurismo social. Querem saber como vivemos, como nos relacionamos, o que consumimos, etc.

Nossa vida privada deve ser como um jardim fechado. E será nesta esfera que faremos a triagem através da qual selecionaremos quem deve ter acesso à nossa intimidade.

Se a privacidade é guardada por cercas, a intimidade deve ser guardada por paredes bem espessas, mantida numa espécie de cofre à prova de invasão.

Nossa intimidade equivale a uma fonte selada, inacessível a quem não for convidado a dela desfrutar. Se para entrar na esfera privada precisa-se permissão, para entrar na esfera da intimidade requer-se convite. A intimidade é valor que não se pode violar, tão pouco negociar. 

Ninguém deverá saltar da esfera pública para a intimidade sem passar pela privacidade.

Alguns critérios devem ser respeitados antes que alguém se introduza em nossa intimidade.

Não há intimidade sem liberdade, nem liberdade sem confiança, nem confiança sem comprometimento, nem comprometimento sem amor, nem amor sem conquista. Quando falta confiança, os alicerces da intimidade vêm abaixo. E só há confiança legítima, havendo amor. Pode-se dizer que amor e confiança são os dois querubins que guardam nosso jardim.

A intimidade é, por assim dizer, a coroação do amor. Intimidade sem amor nos faz sentir usados. Amor sem intimidade nos faz sentir desperdiçados.

Um dos maiores empecilhos à intimidade é a timidez, que consiste num bloqueio que nos torna inacessíveis. A timidez sugere que não queremos nos dar a conhecer. Preferimos o isolamento, a alienação. Ilhamo-nos em nosso mundo particular, contentando-nos com nosso narcisismo. Achamo-nos auto-suficientes. Bastamo-nos. 

Por isso os tímidos encabeçam a lista dos que não herdam o Reino (Ap.21:8), pois são incapazes de abrir-se ao outro. Sua intimidade é preservada ao custo da comunhão.

A timidez é uma represa que precisa ser rompida para que o amor flua com liberdade levando-nos a desaguar no mar da comunhão.

A timidez revela que estamos mais preocupados em nos preservar do que em promover a felicidade do outro.

Portanto, abramo-nos à comunhão, deixando de lado o que nos distancia uns dos outros. Porém, sejamos seletivos para com aqueles que desfrutarão de nossa intimidade. Que conquistem antes nossa confiança e revelem em gestos e palavras a sua lealdade.