terça-feira, 20 de maio de 2014

De onde vem o pensamento?

Matriculados na Escola de Caim





Por Hermes C. Fernandes


"Ai deles! Entraram pelo caminho de Caim..." (Judas 11a).


"O caminho de Caim" é a rota de colisão entre o homem e Deus, e entre o homem e seu semelhante. O Caminho ( que é Cristo! ) proposto pelo Evangelho é o do encontro, da reconciliação entre o Criador e a criatura, e entre o homem e seu próximo.

Tanto a colisão quanto o encontro são frutos de uma convergência entre pontos. A diferença é que no encontro as partes se integram, se unem, e às vezes se fundem. Já a colisão tem efeitos colaterais devastadores. As partes se chocam, produzem atrito, e às vezes se esfacelam.

O texto bíblico diz que Caim irou-se por achar que Deus não atentara para sua oferta, como para a oferta de seu irmão Abel. Esse descontentamento foi fruto da comparação. - Por que ele, e não eu?

Toda inveja/ciúme é fruto da comparação. Quando nos comparamos uns com os outros, temos a tendência de achar que somos injustiçados, preteridos, e que, de alguma maneira, nossos direitos estão sendo lesados. Daí vem o senso de justiça própria.

O invejoso é aquele que acusa Deus de agir com injustiça, por preferir uns, e preterir outros. Mas a Bíblia é clara ao dizer que para Deus não há acepção de pessoas.

Abel não era o favorito de Deus, como insinuava Caim. Suas ofertas eram aceitas porque eram feitas com o coração puro, sem a pretensão de desbancar seu irmão. Já as ofertas de Caim tinham a marca da presunção.

Infelizmente, muitos que se dizem cristãos parecem ter se matriculado na escola de Caim. Até testemunhos são dados com a intenção de demonstrar o quanto são importantes para Deus, em detrimento de seus irmãos. Acham que dar testemunho é contar vantagem, se cartar, instigando seus irmãos à inveja. - Vejam, vocês não têm a fé que eu tenho.

Esse espírito de Caim tem sido estimulado até dentro dos lares, onde os filhos disputam a atenção e predileção dos pais.

As Escrituras nos advertem a não sermos como Caim, "que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão, justas" (1 Jo. 3:12).

A existência de Abel se tornou uma afronta para Caim. Por isso, ele não hesitou em matá-lo. Convidou-o para um passeio no campo, e quando seu irmão se distraiu, apunhalou-o pelas costas, cometendo o primeiro homicídio narrado pelas Escrituras.

Talvez não tenhamos a coragem que ele teve de tirar a vida do próprio irmão. Mas se nutrimos um sentimento de ódio, alimentado pela inveja e pela justiça própria, aos olhos de Deus somos tão homicidas quanto Caim.

"Todo que odeia a seu irmão é homicida..." (1 Jo.3:15a). E esse instinto homicida, uma vez nutrido, pode nos levar a matar nosso irmão, pelo simples fato de sua existência se nos tornar numa afronta.

Há muitas formas de "matar" alguém. Podemos matá-lo à prestação, usando nossa língua como arma. Podemos matá-lo ao privá-lo de seus direitos. Podemos interditar seus sonhos, boicotá-lo com nossos comentários maldosos, ou simplesmente ignorá-lo.

O Caminho de Caim é o caminho do ódio, do extermínio, que busca se auto-justificar alegando ser vítima de uma injustiça. Já o Caminho de Cristo é o caminho do amor, que em vez de tirar a vida, se oferece para dar a vida, sem qualquer pretensão de ser recompensado.

"Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E devemos dar a nossa vida pelos irmãos" (1 Jo.3:16).


O amor faz cessar toda contenda, toda demanda, toda reivindicação. O foco deixa de ser nossos direitos, para ser o bem-estar de nosso semelhante.

Ética em Aristóteles, Hobbes e Epicuro - Prof. Ms. Arthur Meucci