terça-feira, 6 de maio de 2014

Confesso: Eu me perdi!


Por Hermes C. Fernandes

Prestes a completar oito anos de blog, já até me acostumei a receber críticas. Algumas incisivas. Outras frívolas. Pouquíssimas vezes respondo. Principalmente quando o crítico se esconde sob a capa do anonimato. Não faz muito tempo, recebi um e-mail com a seguinte mensagem: "Querido, como você se perdeu! Acredito que se você vivesse na época de Jesus, seria um da turba que gritou "Crucifica-o!" Usa a palavra para defender seus próprios pensamentos a respeito de graça, pecado, salvação e outros...De que lado você realmente está??? Uma vida cheia de propósitos vazios...."

Devo concordar em parte com esta avaliação. Eu realmente me perdi. E, por incrível que pareça, sinto-me muito bem com isso. Bendita foi a hora em que me perdi. Pois foi justamente aí que minha vida foi achada, salva e revestida de significado. 

Repare nas palavras do próprio Jesus: 
"Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á." Lucas 17:33
Quem busca salvar-se, acaba se perdendo. Quem se deixa perder, acaba se salvando. Simples assim. Deixar-se perder é ser absorvido pelo amor. É deixar de viver para si, para viver para a glória de Deus e o bem de todos. Quem não percebeu isso ainda, continua perdido, crente que foi achado. 

O apóstolo Paulo admitia não ter alcançado a perfeição, mas prosseguia, esquecendo-se das coisas que ficavam para trás e avançando para as que estavam diante dele. Logo após admitir sua imperfeição, ele me sai com essa: "Pelo que todos quantos somos perfeitos tenhamos este sentimento" (Fp.3:15). Dá para entender uma coisa dessas? Parece que Paulo está se contradizendo. Não se trata de perfeição moral, mas de completude. Sob o ponto de vista moral, ou mesmo ético, ninguém é perfeito. Todos eventualmente tropeçamos. A perfeição de que Paulo fala é de outra natureza. Uma vez que nossas fraquezas se encaixam perfeitamente no poder Deus, logo, o que nos falta à perfeição, Ele completa. O que somos, deriva-se do que Ele é. Portanto, somos perfeito n'Ele, não em nós mesmos. Todavia, devemos nutrir o sentimento de não termos ainda alcançado tal proeza. Em outras palavas, somente os perfeitos se dão conta de suas imperfeições. Este era o mesmo sentimento que havia em Cristo, que sendo Deus, não usurpava ser igual a Deus. E segundo Paulo, devemos cultivar o mesmo sentimento. Somos salvos por nos perdermos n'Ele. Por abrirmos mão de nossa justiça própria, e até da própria vida. Por não querer poupá-la, nós a preservamos para desfrutá-la no porvir. Por nos gastarmos e nos deixarmos gastar por amor, somos mantidos inteiros (2 Co.12:15). E por nos esvaziarmos de toda e qualquer pretensão, tornarmo-nos plenos.

Depois de me acusar carinhosamente de estar perdido, ele também diz acreditar que se eu vivesse na época de Jesus, certamente faria coro com a turba que pedia a Sua crucificação. Amigo querido, talvez você tenha razão. Um pecador como eu talvez reivindicasse a morte do único justo. Definitivamente, não sou melhor do que nenhum daqueles que lotaram o pátio de Pilatos naquela fatídica manhã. Mas mesmo assim, Ele me amou. Seu amor me constrangeu de tal maneira, que foi capaz de me tornar num novo homem. Hoje tenho uma vida cheia de propósitos vazios, como você mesmo diz. Vazios de presunção. Vazios de arrogância. Vazios de mim mesmo. Porém, cheios de amor para com Deus e para com o meu próximo. 

Obrigado por me escrever e me dar a oportunidade de expor aqui a razão da minha esperança. Se me permite um conselho, experimente se perder. Somente assim, você poderá ser "achado n'Ele" (Fp.3:9).