quinta-feira, 30 de abril de 2015

Jaques Lacan e a psicanálise do seculo XXI

terça-feira, 28 de abril de 2015

"Só pra exercitar..." A igreja que nada contra a corrente


Por Hermes C. Fernandes


Dois meses antes de casar-me, resolvi fazer uma viagem para conhecer o Pantanal matogrossense. Seria a minha despedida de solteiro. Fiquei hospedado na casa de um presbítero de uma igreja de Cuiabá chamado Severino. Em um de nossos passeios, visitamos uma região de muitas cachoeiras. Conheci um rio caudaloso, de correntezas muito fortes, e com várias quedas acentuadas. Meu amigo desafiou-me a atravessar o rio a nado. Nem deu tempo para que argumentasse com ele. Quando vi, ele já estava dentro d’água. Fiquei observando, temeroso, porque a poucos metros havia uma grande cascata. Sem muita dificuldade, ele chegou ao outro lado e fez sinal para que eu fizesse o mesmo. – Bem, pensei comigo - se ele pode, também posso. Mergulhei e comecei a nadar. A correnteza me empurrava, e comecei a me desesperar ao perceber que estava cada vez mais próximo da cachoeira. Vendo meu desespero, meu amigo mergulhou e saiu em meu socorro. Em vez de levar-me direto para o lado onde havíamos estacionado o carro, Severino nadou na direção oposta. Depois do susto, ele me disse: – Agora vamos ter que voltar para o outro lado. – Mas como? perguntei. – Você quer me matar? Calmamente, Severino me explicou o ‘macete’ para atravessar a correnteza. Eu teria que nadar numa reta diagonal oposta à correnteza, de maneira que, mesmo me empurrando, não conseguiria me arrastar até a altura da cachoeira. Tomei coragem e fôlego e resolvi encarar.

Este episódio me ensinou uma importante lição que serve como analogia do papel da igreja inserida no mundo.

Qualquer pai gostaria de proteger seus filhos, colocando-os numa redoma. Porém isso não contribuiria para o seu amadurecimento, nem para o cumprimento de sua vocação. Nossos filhos devem ser preparados para o mundo.

Em Sua oração sacerdotal, Jesus pede ao Pai: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo.17:15-18).

Se Jesus rogasse para que o Pai nos removesse do mundo, em vez de santificados, seríamos alienados. Não podemos ficar à margem do rio, apreciando suas correntezas, enquanto nos mantemos enxutos. Temos que mergulhar de cabeça, na certeza de que, se nos virmos em apuros, o Pai virá em nosso socorro.

Porém, para sobrevivermos ao ambiente hostil deste mundo, temos que aprender a nadar contra a correnteza. Um exemplo clássico encontrado nas Escrituras é o de Daniel e seus companheiros exilados na Babilônia. Eles foram inseridos dentro daquela cultura, mas não foram assimilados por ela. Embora vivendo dentro dos palácios, não comeram do manjar do rei.

Deixe-me usar uma analogia para compreendermos a diferença entre inserção eassimilação.

Se você preparar um copo de suco daqueles em pó, perceberá que ele se diluirá na água. É claro que a água será alterada, tanto no sabor, quanto na cor e na textura. Mas o pó se perderá. Não há como recuperá-lo, pois foi assimilado pela água. Já o processo usado para fazer chá é diferente. Mergulha-se a trouxinha de chá na xícara de água quente, de maneira que suas propriedades são absorvidas pela água, alterando igualmente seu sabor, cor e textura. Porém, as folhas do chá não se dissolvem na água. Elas estão guardadas dentro da trouxinha. A este processo chamamos de inserção. O chá foi inserido, mas não assimilado.

Não fomos tirados do mundo, mas enviados a ele com a missão de transformá-lo. Porém, ao nos inserirmos nele, entramos numa rota de colisão com seus interesses, valores e princípios. Somos enviados na contra-mão das tendências que nele predominam. Somos considerados corpos estranhos que devem ser combatidos por anti-corpos hostis. Jesus deixou claro aos Seus discípulos: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu. Mas como não sois do mundo, antes, dele vos escolhi, é por isso que o mundo vos odeia” (Jo.15:18-19). Tornamo-nos uma ameaça ao status quo, pois somos portadores de uma mensagem subversiva e revolucionária proveniente de outro mundo, a saber, o mundo porvir. Esta mensagem vem na direção oposta aos interesses deste mundo, por isso, eventuais colisões são inevitáveis.

Repare no que Paulo diz:

“Ele vos vivificou, estando vós mortos nossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo…” (Ef.2:1-2a).

Antes estávamos sendo arrastados na direção do abismo, e por estarmos espiritualmente mortos, não tínhamos condição de reagir. Mas agora que fomos vivificados, somos impulsionados pelo Espírito, não para deixarmos o mundo, mas para encararmos suas correntezas.

Tal qual Jesus, não pertencemos ao mundo. Porém, somos enviados a ele. Não se trata, portanto, de pertencimento, mas de engajamento.

Posso imaginar o tom grave da voz de Jesus ao declarar aos Seus discípulos: “Ide. Eu vos envio como cordeiros ao meio de lobos” (Lc.10:3).

Isso significa que o risco de serem devorados era real. O terreno para o qual Jesus os estava enviando era minado. Portanto, eles não deveriam ser ingênuos, e sim“prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt.10:16b). Num certo sentido, estar no centro da vontade de Deus é expor-se ao perigo constante. No dizer de Paulo, “estamos sempre entregues à morte por amo de Jesus” (2 Co.4:11a). Sem a prudência das serpentes, estaríamos vulneráveis aos constantes imprevistos. Sem a simplicidade das pombas, assimilaríamos a maldade do mundo, tornando-nos semelhantes a ele. Há que se cultivar essas duas virtudes para que mantenhamos o equilíbrio, sem perder a essência. Prudência sem simplicidade nos faz maliciosos. Simplicidade sem prudência nos faz ingênuos, portanto, presas fáceis.

Cabe aqui a advertência de Paulo: “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento” (1 Co.14:20). O problema é quando invertemos a ordem, tornando-nos meninos no entendimento, e adultos na malícia. É como querer boiar na correnteza… Somos açoitados por sua impetuosidade, e levados na direção oposta a que deveríamos seguir. O mesmo apóstolo nos admoesta a que “não sejamos mais meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia induzem ao erro” (Ef.4:14).

Jamais nos esqueçamos de que não pertencemos a este mundo, mas ao mundo do futuro. Por isso, o ambiente do mundo nos parece hostil. O nadador sabe que não é um ser aquático. Ele não é peixe. Não pode respirar dentro d’água. Por isso, tem que voltar à superfície com regularidade para recobrar o fôlego. Ele sequer precisa deixar a água para respirar. Basta posicionar suas narinas de maneira tal que possa encontrar o ar de que necessita pra viver.

Igualmente, vivemos na fronteira entre este mundo e o mundo porvir, de onde provém nosso fôlego espiritual. Nossa sobrevivência depende de nossa constante comunhão com o Espírito Santo. “Enchei-vos do Espírito!”, exclamaria Paulo (Ef.5:18). Não se trata de algo opcional. Não manter o ritmo da respiração enquanto se enfrenta as correntezas, poderá ser fatal.

E como se dá esse enchimento? Quando nos congregamos para ouvir e compartilhar daquilo que Deus nos tem provido. É na congregação que aprendemos o caminho da convivência, sendo desafiados a superar nossas diferenças, sujeitando-nos uns aos outros (Ef.5:18-21). É lá que aprendemos a nos considerar uns aos outros, “para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb.10:24b).

A vida acontece lá fora, dentro do contexto social nos qual estamos inseridos. Porém, o fôlego espiritual do qual dependemos para sobreviver recebemos na comunhão com os santos, na dinâmica dos relacionamentos entre os irmãos

Fonte: Blog de Hermes C. Fernandes

Mário Ferreira dos Santos, A Especulação na Baixa dos Valores

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Você já teve um Déjà vu?


Por Hermes C. Fernandes


Déjà vu é uma reação psicológica em que o indivíduo tem a impressão de já ter estado no mesmo lugar antes, ou já ter visto alguém com quem acaba de encontrar, ou ainda, já ter vivido uma situação. O termo é uma expressão da língua francesa que significa, literalmente, já visto.

Quem nunca foi invadido por esta sensação súbita? Quem nunca se pegou pensando: 'eu já passei por isso"?

E por que passamos por isso? Por que somos levados a viver a mesma experiência repetidas vezes? Creio que a vida se assemelha a uma escola. Estamos aqui pra aprender. Assim como um aluno é obrigado a revisar toda a matéria já estudada ao ser reprovado, só avançamos em nossa jornada existencial depois de haver aprendido as lições ministradas em cada etapa. Portanto, se sentimo-nos como os hebreus andando em círculo pelo deserto do Sinai, é possível que ainda não tenhamos avançado em nossa compreensão dos propósitos de Deus. 

Acredito que foi esta a sensação que Pedro teve em um de seus últimos encontros com Jesus. Três anos e meio se passaram, desde que se encontrara pela primeira vez com o Filho de Deus. O cenário era o mesmo: o mar de Tiberíades (também conhecido como Mar da Galiléia). A situação, idem. Depois de uma noite inteira de redes vazias, Pedro já estava desanimado. Toda sua experiência como pescador não fora suficiente para garantir-lhe uma boa pesca. Parecia que o mar não estava pra peixe. 

"Eu já vi este filme antes", pensaria Pedro se vivesse em nossos dias. Só falta aparecer Jesus! 

De repente, ouve-se uma voz:

- Filhos, tendes alguma coisa de comer?

A voz soou familiar, mas ninguém se atrevia a arriscar um palpite. 

A resposta era óbvia: NÃO!

Pelo que Jesus ordenou: 

- Lançai a rede à direita do barco e achareis.

Até aquele momento tudo os remetia àquele primero encontro. Porém, a ordem dada à época diferia daquela dada então. Da primeira vez, Jesus ordenara que lançassem a rede em alto mar. Porém, agora, ordenou-lhes lançá-la do lado direito do barco.

Mesmo que Ele nos permita viver situações semelhantes, Ele tem liberdade para dar-nos instruções diferentes em cada uma delas. Por isso, parece-me inútil acreditar que se possa decorar Seu modus operandi. Seus movimentos são imprevisíveis. 

Ainda que a lição a ser aprendida seja a mesma, Ele sempre inclui algum elemento novo. 

Imagine se Pedro dissesse: Ok, Senhor. Já sei o que fazer. Basta lançar a rede em alto mar como da outra vez, certo? Ele ouviria um sonoro 'não!'.

- Desta vez você vai lançá-la do lado direito do barco. 

Embora a circunstância o remetesse a um Déjà vu ("já visto"), a orientação recebida não poderia ser considerada um "Déjà entendu" ("já ouvido"). Uma expressão desconhecida por muitos é Jamais vu, do francês "nunca visto", e significa explicitamente não recordar de ter visto algo antes. É o oposto de Déjà vu. Eu diria que a sensação de Pedro naquele instante não foi nem de Déjà vu nem de Jamais vu, mas de Presque vu, que significa "quase visto". Frequentemente, alguém que experimente um presque vu dirá que está à beira de uma epifania (revelação). 

Tudo o que Deus nos permite viver sempre trará um elemento novo, inédito, jamais visto, ou jamais ouvido. Caso já tenhamos visto, devemos redobrar nossa atenção ao que será ouvido, pois poderá ser uma instrução completamente nova. Se nossos olhos já viram isso antes, nossos ouvidos jamais ouviram, ou vice-versa. Portanto, jamais será um Déjá vu completo, mas quando muito, um Presque vu

Por quarenta anos, os filhos de Israel viram o mesmo cenário, e tiveram experiências aparentemente repetitivas. Porém, a orientação dada por Deus era sempre nova.

Por mais competentes que sejamos naquilo que fazemos, precisamos submeter-nos à instrução do Mestre. Ele sabe onde estão os peixes. Ele é quem coloca as pessoas certas em nosso caminho; quem nos abre portas de oportunidade; quem nos faz enxergar a situação de outra perspectiva, etc.

Viver sob a orientação de Deus é, de fato, uma aventura. Jamais nos acostumaremos com Ele. Nossa retina sempre surpreendida, nossa rotina sempre rompida.  

E quanto aos resultados?

Na primeira pesca maravilhosa, as redes se romperam, de maneira que muitos peixes retornaram ao mar. Mas na segunda, as redes se mantiveram intactas. Nenhum peixe se perdeu. Por isso, foi possível contabilizar o resultado: 153 grandes peixes. O resultado foi além de qualquer expectativa, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto qualitativo. Eram muitos e eram bons. 

Não basta um bom resultado se este não for permanente. Talvez Pedro tenha reforçado sua rede ao perceber que ordem partia de Jesus. Por que correria o risco de ver metade dos peixes voltarem para o mar? 

Mas a história não termina aqui. Prepare-se para o Grand Finale!

Quando Pedro e seus colegas voltaram para a praia, tiveram uma surpresa: Havia uma fogueira com peixe e pão assado. Isso lembra aquele adágio popular que diz: Quando você vinha com o milho, eu já vinha com o fubá. 

Onde Jesus teria conseguido aquilo? Se já havia pão e peixe pra eles, por que dar-lhes o trabalho de pescar? Que mensagem Jesus intencionava transmitir-lhes? 

Mesmo já tendo providenciado comida por conta própria, Jesus lhes diz: "Trazei alguns dos peixes que apanhastes".

O que isso nos sugere?

Primeiro: Deus não precisa de ajuda de quem quer que seja. Ele é auto-suficiente. Ele sabe Se virar sem nós. Entretanto, somos nós que precisamos desesperadamente d'Ele. Ele, sem nós, segue sendo Deus. Nós, sem Ele, somos nada. 

Segundo: Apesar disso, Ele graciosamente nos propõe uma parceria. Simplesmente para dar-nos o privilégio de sermos participantes em Suas realizações. Com isso, a glória segue sendo exclusivamente d'Ele, mas a alegria é nossa. Enquanto Jesus conseguiu aquele peixe sozinho, eles não teriam pego peixe algum sem Ele. 

Não foi necessário Jesus apresentar-Se. Àquela altura, todos já O haviam reconhecido. E mesmo sendo o Senhor, Jesus fez questão de, uma vez mais, servir aos Seus discípulos, sendo aquela a terceira vez que Se manifestava após a ressurreição. 






* Esta reflexão tem como base S. João 21:1-14.
Fonte: Blog de Hermes Carvalho Fernades

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A ESPIRITUALIDADE DO DESCANSO


Durante muitos anos eu julguei que esse mandamento de Jesus era para os outros, não para mim. Então pus-me a trabalhar na intenção de “remir o tempo, pois os dias são maus”.

O que somente a experiência revela é o seguinte:
1. Jesus viveu apenas 3 anos de intenso ministério e ainda assim julgou que era preciso parar e se separar do bulício da vida e das necessidades humanas a fim de repousar, de comer em paz e de renovar as forças do ser.
2. Sendo Ele quem era, ainda assim, não brincou com a encarnação. Trata-se de Deus respeitando os limites da condição humana.
3. Desse modo fica-se sabendo que nem Deus em Cristo prescindiu da necessidade do repouso. E as implicações disso são óbvias e simples: mesmo a mais genuína e legitima espiritualidade não pode prescindir dos limites do corpo e da alma. Portanto, qualquer projeto de espiritualidade que pretenda existir acima da condição humana está fadado ao fracasso e à doença!
No arroubo da juventude, estimulado pela energia missionária de potro, corri como quem tinha que salvar o mundo inteiro, e cansei...

As conseqüências são inevitáveis:

1. O coração perde o ardor não por falta de amor, mas por absoluta necessidade de energia.
2. Vivendo extenuado, tudo se torna pesado. E nada é mais stressante que o ministério, se vivido com paixão, calor e intensidade.
3. A alma cansada pede férias. E, muitas vezes, pede férias até mesmo do ministério. O que vem na seqüência é que já não se sabe mais se se está cansado pelo cansaço ou se se está cansado do ministério.
4. O próximo passo é que toda a pilantragem que nos circunda vai fazendo o coração cansado achar que está perdendo tempo, malhando em ferro frio, e, então, surge o marasmo, a descrença e a tristeza.
5. Cansaço deprime, esgota e des-romancia a alma. Então, vem a falência dos ideais e inicia-se o processo de trabalhar mecanicamente.
6. O fim disso é imprevisível. Uns adoecem psicologicamente. Outros anestesiam-se a fim de continuar “empurrando com a barriga”. E outros ainda, caem no caminho da auto-indulgencia, pois, se tudo é tão ruim, por quê não dá a si mesmo um pouco de auto-compensação?

Escrevi isto quando estava voltando da floresta no início deste ano de 2003!
Meu pai tem casa por lá. As cutias comem no fundo do quintal, os rastros dos gatos maracajás aparecem na areia branca e fina, os pássaros gorjeiam aos milhares e os sapos são tenores, barítonos, baixos e sopranos!
E as guaribas?—uma espécie de macaco vermelho—cantam em grupos de 300 ou 400 todas as madrugadas de lua cheia, num coral de vozes guturais e barítonas, regidas pelo macaco chefe, o capelão!
E os igarapés? e as cachoeiras? e os peixes do paraíso, após cada provada não dá mais para comer peixe de mar, carregado de maresia?
E meus amigos caboclos? e suas histórias tão puras? e suas dores tão simples e não neuróticas? e suas alegrias tão singelas? e sua fidelidade tão florestalmente macha e digna?
Ah! hoje, mais do que nunca, entendo porque meu pai nunca quis vir para estas plagas—quase pragas—locais e urbanas, onde tudo e todos ofegam até enquanto dizem descansar!
E é essa vida no descanso da Graça que quero viver. E é nessa paz de poder ser de Deus e servi-Lo sem messianismo de nenhuma natureza que estou gostando muito de viver!

Que Deus abençoe você!

Nele,

Caio

Aula 14: Ideia versus Realidade - História da Filosofia - Olavo de Carvalho

Aula 13: Filosofia Cristã - História da Filosofia - Olavo de Carvalho

Aula 12: Filosofia Islâmica - História da Filosofia - Olavo de Carvalho

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Os bastidores do mundo são o palco da eternidade


Por Hermes C. Fernandes



Um anjo se aproxima do trono de Deus para anunciar que alguns dos Seus súditos requeriam uma audiência imediata com Ele.

- Devo avisar ao Senhor que não se trata de gente comum, mas de verdadeiros heróis da fé. E pelo jeito, não estão nada contentes.

- O que poderia causar tal descontentamento?

- É melhor perguntar diretamente a eles.


- Mande-os entrar.

Em vez de um grupo, entrou apenas uma pessoa. Ninguém menos que Josué, o sucessor de Moisés, responsável por introduzir o povo de Israel na Terra Prometida.

- Onde estão os demais? - pergunta o Senhor.

- Pedi que ficassem lá fora um pouco e me permitissem falar em particular com o Senhor.

- Então, o que você pretende me dizer deve ser muito sério, não?

- É meio embaraçoso, Senhor.

- Diga logo. Desembucha.

- É que meu nome não consta da lista da galeira da fé em Hebreus 11.

- Como assim? Lembro-me perfeitamente de que o escritor inspirado pelo meu Espírito cita a queda dos muros de Jericó.

- É verdade. Mas em momento algum sou mencionado. E olha que o nome de meu antecessor aparece várias vezes, bem como o nome de outras figuras proeminentes como Noé, Abraão, Isaque e Jacó. 

- Não acho que você deveria se incomodar com isso. Afinal de contas, não foi bem você quem derrubou aquela muralha.

- Sim, mas fui eu que comandei o povo durante os setes dias em que rodearam Jericó. Fui eu quem teve aguentar os escárnios dos inimigos e a murmuração do meu povo.

- Sinceramente, não imaginei que você faria tanta questão disso.

- E o pior é que logo em seguida, o escritor cita Raabe, uma prostituta, que no mesmo episódio em que Jericó caiu, acolheu os espias que eu enviei. Chega a ser ultrajante. Meu nome suprimido, enquanto o dela foi exaltado. Como uma prostituta poderia receber maior honra do que um general? Eu acho que o escritor estava era de pinimba comigo. Aliás, se não se importar, gostaria que o Senhor me dissesse quem escreveu a tal epístola. Preciso checar com ele quais as suas razões e o que é que ele teria contra mim. 

- Você crê que todos os livros das Escrituras foram inspirados pelo meu Espírito?

- Claro que sim. 

- Então, não deveria estar questionando. O mesmo Espírito que impediu que este escritor citasse seu nome, também o impediu de assinar a própria carta. Não percebe que há uma mensagem aí? O que importa não é se o seu nome aparece ou deixa de aparecer, mas o fato de sua vida cumprir ao propósito para o qual veio à existência. No meu reino, quanto mais a pessoa faz questão de ser honrada, menos ela o será. Sinta-se honrado pelo simples fato de ter sua proeza citada ali. E não se incomode de uma meretriz receber a honra que lhe foi negada.  

Dirigindo-se ao anjo, disse:

- Que entrem os outros.

Entre eles, estava Davi, homem segundo o coração de Deus, além de Samuel, Gideão, Sansão, Baraque e Jefté.

- E vocês, o que querem?

- Senhor, temos uma reclamação a fazer.

- Vocês também? E o que é agora?

- Um escritor anônimo cometeu a gafe de citar nossos nomes em sua lista de heróis da fé, mas se esqueceu de citar nossas proezas - disse Davi.

- Não nos pareceu justo que outros heróis houvessem recebido um tratamento diferenciado. O tal escritor relatou o que fez Noé, Abraão, Moisés e outros, mas quando chegou a nossa vez, apenas se deu o trabalho de mencionar nossos nomes. Sentimo-nos desprestigiados - argumentou Samuel.

- Então, tudo que fizeram foi em busca de reconhecimento? Não bastou para vocês terem servido ao meu propósito?

- Sim. Tudo o que fizemos foi para Lhe agradar, Senhor. Mas pensávamos que receberíamos o mesmo reconhecimento que outros receberam. É uma questão de justiça. Se não deveríamos receber os créditos por nossas obras, então, ninguém mais deveria receber - reivindicou Sansão.

- Quer dizer que vocês acham que devo alguma satisfação a vocês? Ora, ora... o que faço ou deixo de fazer é única e exclusivamente pela minha graça. Nem vocês, nem eles mereceriam coisa alguma. Vocês foram meros instrumentos para a execução dos meus propósitos. Portanto, tratem de se contentar por terem sido usados para o bem de muitos. Alguns dos que tenho usado ao longo da história terão seus nomes lembrados, porém, não suas obras. Outros terão suas obras publicadas, porém, seus nomes serão mantidos em sigilo. Outros ainda terão tanto seus nomes, quanto suas obras reconhecidos. Enquanto outros serão relegados ao mais completo esquecimento. Somente a eternidade se encarregará de tornar conhecidos tantos os nomes quanto suas respectivas obras. Jamais se esqueçam de que os bastidores do mundo são o palco da eternidade, e a única plateia que realmente importa é a que ocupa o trono. 

* Conversa fictícia baseada em Hebreus 11:30-32
Fonte: Blog de Hermes Carvalho Fernandes

A partícula de Deus (bóson de Higgs) e o Ser- Olavo de Carvalho

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A ÉTICA NO CONTEXTO DO ABSURDO



O livro de Jó é o livro da fé e da ética vividos no contexto do absolutamente absurdo. No livro O Enigma da Graça trato, entre outras coisas, desse problema.

Aqui fica um resumo que espero abra o apetite dos leitores para a leitura do livro que escrevi, mas, sobretudo, aguce o desejo do leitor de ler na Bíblia o Livro de Jó.

A questão ética sobre o bem e o mal apresentada no Livro de Jó nos remete, como ilustração, à observação de Juízes 14: 4, 19. Ali, bem como em tudo o mais que vem na seqüência dos fatos narrados naquele texto — que eram, claramente, estratégias de Deus para criar inimizade entre Sansão e os filisteus a fim de destruí-los—, abre-se também a questão de se e quando os fins justificam os meios. 

Ora, no texto de Juízes, os “meios” usados por Deus, todavia, não agradavam às percepções imediatas dos pais e contemporâneos de Sansão. Entretanto, estranhamente, isto “vinha da parte do Senhor”. E chamar isto de “vontade permissiva” de Deus não passa de um ardil semântico e uma tentativa de “explicar” o inescrutável, como se fosse uma “negociação divina” com “outras forças”, incluindo o Diabo e o livre arbítrio humano. 

Ora, essa tentativa de “salvar Deus” pela via de uma “vontade permissiva” não passa de um mero vício filosófico de natureza escolástico-reducionista, própria também aos amigos de Jó. 

Sim! Não passa de mais uma tentativa de trazer Deus para os grilhões de nossas ignorâncias! 

Deus é o único que sabe o quê, num mundo caído, pode ser um “mal” que realiza um “bem”, ao mesmo tempo em que sabe quais são os “bens” que realizam o “mal”. 

Somente Deus não precisa de uma ética filosófica para o que faz!
Afinal, Ele só faz o Bem, mesmo que a nossa percepção filosófica imediata seja a de que há um “mal” em curso!

Provavelmente, na eternidade, descubramos que nossos maiores males e dores tenham sido nossas maiores e melhores bênçãos na Terra!

E quando se crê nesse Amor que à tudo criou, perde-se o medo, pois, a Graça cobre o ser! 

E o ser coberto pela Graça não se sente nu porque não está mais nu!
Entre os mortais, poucos seres chegaram aonde Jó chegou em sua alma e seu santo atrevimento na presença de Deus. 

Entretanto, no Livro de Jó — como de resto em toda a Bíblia — aprendemos que Deus põe o homem tendo que discernir a própria perversidade de seu caminho e a iniqüidade de seus próprios pensamentos, antes de ter que se pré-ocupar com os “caminhos de Deus”, pois, esses, são previamente indisponíveis aos sentidos e às percepções. 

E este é o engano: fica-se querendo saber qual é o “caminho de Deus”—que de acordo com Isaías é indisponível aos sentidos humanos—e não se busca discernir o próprio existir humano na Terra, que é fruto, para o mal, de “pensamentos iníquos”, e “caminhos perversos”. 

Assim, a recomendação é para que se enxergue a si mesmo, e para que se tente discernir nossas próprias construções de valores e pensamentos, que são os produtores do nosso modo de caminhar—que pode ser bom ou mal. 

O homem se manifesta na Terra como o produto de seus próprios pensamentos, sejam eles justos ou iníquos! E isto nada tem a ver com o que ele “recebe” na vida, mas com o modo como ele “responde” ao que “recebe”, incluindo todo “bem” e todo “mal”.

Com relação aos “caminhos de Deus”, o que o próprio Deus diz é muito mais simples, ou seja:
“Buscai-me e vivei!” E mais: “Buscai o bem e não o ma!” 

E isto não vem de uma Lista ou de um Código fixo. O resultado que o genuíno encontro com Deus promove é amor àquilo que realiza o bem em nós e no próximo! Portanto, o que se pede a Deus é “vê se há em mim algum caminho mal e guia-me pelo caminho eterno”. 

E isto é obra de Deus no coração que o busca e que se abre para deixar seus próprios pensamentos quando percebe que sua construção é iníqua; ou seja, quando não é justa e, por essa razão, promove a perversidade. 

Outro nome para essa dinâmica interior é arrependimento, que é mudança de mente, de estrutura de pensamento e de proceder em relação a Deus, a si mesmo e ao próximo!

E a estrada que nos leva à esse “entendimento”—como diz Isaías—pode até mesmo ser um “caminho no mar e uma vereda nas águas tempestuosas”; ou “um caminho no deserto”—e que, ao final, abre “rios no ermo”. Portanto, nos deixando “soltos” na nossa presunção de saber qual é o “caminho de Deus” à priori, forçando-nos, assim, a caminhar em fé, a fim de que—quem sabe—possamos um dia discernir as veredas de Deus à posteriori! 

O que passar disso, é problema dos amigos de Jó. Jó, todavia, nada mais tem a ver com isto!

E o que você me diz? 

É possível uma outra leitura do drama de Jó? 


Caio 
Fonte: Site de Caio Fábio

A História do Video-Game (Documentário Completo e Dublado)

terça-feira, 7 de abril de 2015

Um por todos, mas cada um por si!


Por Hermes C. Fernandes


O coração dos três estava a mil. Da última vez que foram destacados dos demais, algo extraordinário aconteceu.

- O que será que nos espera desta vez?  Pergunta um deles.

- Haveria glória maior do que aquela? Pergunta outro.

- Hum... mas Ele andou pedindo ao Pai que lhe restituísse a glória que tinha antes da fundação do mundo... será que se trata disso? Como poderemos fitar nossos olhos? Da outra vez já foi tão difícil... Concluiu Tiago.

- Só não entendi este lance de trazermos espadas... Ele nunca nos pediu para andar armados. Refletiu João. 

- Bem pensado, João. Mas fale baixinho pra Ele não ouvir...  Espero que não demore... estou caindo de sono. Sussurrou Pedro.

- Eu também. Disseram em uníssono Tiago e João, apelidados por Jesus de “filhos do trovão”.

De repente, Jesus interrompe a caminhada, dirige-se a eles e diz em tom dramático:

- Ok rapazes!  Chegamos. Estou profundamente deprimido.  Não quis dizer aos outros, porque sei que ficariam desapontados.  Mais do que nunca, preciso de vocês por perto, me apoiando. Vou um pouco adiante porque preciso ficar só com o meu Pai. Enquanto isso, fiquem aqui de prontidão em oração.

Quando Jesus se afastou um pouco, eles começaram a comentar entre si:

- O que será que Ele está esconde de nós? Nunca vimos Jesus assim...

O tempo foi passando, as vistas começaram a pesar e eles adormeceram.

Tocados por Jesus, acordaram assustados esperando assistir a um espetáculo semelhante ao que assistiram tempos antes. Mas se decepcionaram. Da vez anterior, estarrecidos com o espetáculo da transfiguração, mantiveram os olhos arregalados em todo o tempo. Pedro chegou a sugerir que fossem construídas três tendas para abrigar a Jesus e os dois profetas que lhes apareceram. Mas desta vez, o sono os vencera. Jesus os chama e os repreende por estarem dormindo num momento tão crucial de Sua vida.

- Vocês não podem vigiar e orar comigo pelo menos por uma hora? Será que não percebem a gravidade da situação? Preciso que se mantenham de prontidão.

Aparentemente despertos, sinalizaram como se houvessem entendido o apelo do Mestre. Porém, tão logo Jesus Se afastara novamente, tombaram dormindo, pois pensavam com os seus botões: hoje não haverá espetáculo.

Pelo jeito, esses “três mosqueteiros” às avessas fizeram escola. Dois mil anos passados e ainda somos tão suscetíveis à cultura do espetáculo ao passo que somos tão indiferentes ao sofrimento alheio. Apatia crônica é o diagnóstico de nossa espiritualidade. Almejamos a transfiguração, mas jamais a desfiguração. Queremos Sua divindade, mas não Sua humanidade. Seu poder, jamais Sua fraqueza. Sua sabedoria, não Sua loucura.

Foi necessário que Deus levantasse um D’Artagnan para chamar a atenção da igreja, despertando-a da letargia (Ef.5:14).  Paulo, aquele que sequer se considerava digno de ser chamado “apóstolo” (1 Co.15:8-10), destaca a loucura de Deus como mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus acima da força humana (1 Co.1:25).

Foi este quarto mosqueteiro que enxergou na cruz um espetáculo muito maior que qualquer transfiguração gloriosa. Mesmo tendo tido a experiência de encontrar Jesus no caminho de Damasco, cuja glória foi capaz de cegá-lo, Paulo determinou em seu coração a ninguém anunciar senão a Cristo, e este crucificado (1 Co.2:2). E não apenas isso: ele se achava privilegiado por participar das aflições de Cristo (Cl.1:24). A cruz de Cristo era a sua própria cruz. Enxergá-lo lá era o mesmo que enxergar-se na mesma cruz (Gl.2:20). Não havia do que se envergonhar! A fraqueza de Deus é Sua maior demonstração de poder. A lógica divina subverte a lógica humana. De sorte que os últimos são os primeiros. Quem quiser ser o maior, deve ser o menor. Foi a partir desta lógica subversiva que Paulo concluiu:
"Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte." 2 Coríntios 12:10
Já ouvi pregadores afirmando que Cristo não deseja ser visto “nos dias da sua carne”, mas em Seu estado de glória. Baseiam-se erroneamente numa passagem em que lemos que “a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo”(2 Co.5:16). A questão aqui não é “Cristo nos dias de Sua carne”, e sim obtermos um conhecimento meramente carnal do mesmo. Pode-se, inclusive, enxergá-lo em Sua glória, porém, de maneira carnal. Portanto, não se trata de Ele estar “em carne” ou “em glória”, e sim, de compreender Sua mensagem de maneira carnal (centrada no meu “eu”) ou espiritual.

Voltemos ao Getsêmane:

Enquanto dormiam, Jesus começou a desfigurar-se. Sua agonia era tão grande que Seus vasos sanguíneos se romperam fazendo com que Seus poros jorrassem sangue.

Se no episódio anterior eles puderam vislumbrar Sua divindade, agora perdiam a oportunidade de enxergá-lo na plenitude de Sua humanidade. Quem antes Se transfigurara ante seus olhos, agora Se desfigurava ante os olhos do Pai.

Nunca Jesus Se sentira tão só. Não havia plateia para aquele espetáculo mórbido. Apenas o Pai o ouvia, porém, Seu pedido não podia ser atendido. O que estava em jogo era o destino de toda a criação. Atendê-lo em Sua súplica seria o mesmo que entregar o universo à sua própria sorte.

- Pai, se for possível, passa de mim este cálice...

Pausa na respiração.

- Mas que seja feita a Tua vontade, não a minha.

O que desfigurou o semblante de Jesus não foram os socos e pontapés recebidos dos guardas do Sinédrio e dos romanos, mas Sua tristeza.  Se o coração alegre aformoseia o rosto, o que não faz um coração amargurado?

As primeiras gotas de sangue que pagariam por nossa redenção não foram derramadas no Gólgota, mas no Getsêmane. Não foram resultado das perfurações dos cravos ou da coroa de espinho, ou das chicotadas, mas resultaram da luta hercúlea travada entre Sua carne e Seu Espírito. Conforme Ele mesmo disse aos Seus discípulos numa das vezes em que os repreendera: O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.

Sua carne tinha que render-se à vontade do Espírito.

Luta diferente era travada entre os três que acabaram se rendendo ao sono. Até que Jesus os acordou pela terceira vez.

- Agora é tarde! Não há mais o que fazer. Lá vem o traidor...

Pedro levantou-se assustado, notou a aproximação de Judas que se fazia acompanhar por guardas do Sinédrio e pensou consigo:

- Posso me redimir através de um gesto heroico. Ele nem vai lembrar que estive dormindo quando mais precisou de mim. Afinal, Ele não teria nos pedido que trouxéssemos espadas se não tivéssemos que usá-las...

Num rompante, o pescador galileu desembainhou a espada e golpeou um dos soldados com a clara intenção de matá-lo. Por sorte, por estar ainda sonolento, seu reflexo falhou e, em vez de acertar o pescoço, atingiu a orelha do soldado e a decepou.

Com a saliva de Judas ainda no rosto, Jesus agachou-se, tomou a orelha decepada e a colocou no lugar. Este, por sinal, foi Seu último milagre antes de ser crucificado.

Só deu tempo de dizer a Pedro:

- Guarda esta espada, rapaz! Quem com ferro fere, com ferro será ferido!

O que Jesus espera de cada um de nós não são atos heroicos, nem rompantes de valentia, mas tão-somente constância, companheirismo, empatia, engajamento.

Horas depois, o mesmo Pedro O negaria por três vezes no pátio onde aguardava o julgamento de Jesus. Os mesmos que hoje se digladiam por um espaço sob os holofotes da mídia, quando as luzes se apagam são os primeiros a negar tudo quanto afirmam defender.

Não se pode oscilar entre heroísmo e indiferença, valentia e covardia. Há que se buscar uma espiritualidade pautada na constância, que não careça de tocar alarde, de chamar a atenção para si. Aquele tipo de engajamento indiscretamente discreto, em que a mão esquerda ignore o que faça a direita.

Quando falo sobre isso, alguns me contestam afirmando que como luz devemos ser colocados em lugar de destaque a fim de iluminar todo o ambiente. Ok. Mas a luz não chama a atenção para si, e sim para o objeto que pretende iluminar. Assim como o sal realça o sabor da comida. Se salgar demais, estraga. É a isso que chamo “engajamento indiscretamente discreto”.

Não precisamos sair por aí comprando briga com qualquer segmento do qual discordemos. Mantenhamos a espada na bainha. Chega de decepar orelhas! Chega de violar o direito do outro, impondo nossa própria moral. Se tivermos que lutar, que seja pelo bem comum e não pelo nosso próprio bem. E que, em vez de espadas afiadas na lima ideológica, usemos tão-somente a espada do Espírito que é a Palavra de Deus, lembrando que a mesma, por possuir dois gumes, corta tanto para lá quanto para cá. 

Fonte: Blog de Hermes C. Fernandes