quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

LOUCOS & LOUCOS

O louco de antigamente está em extinção, e, na realidade, fora a possibilidade de encontrá-lo em um “hospício” ainda à moda antiga, dificilmente se o achará nos lugares de antes...; que eram as casas, pois viviam com parentes; as ruas, pois faziam parte do ambiente social e até anedótico do lugar; as portas das igrejas, onde faziam parte da liturgia dos que iam e vinham; as festas de rua, nas quais eram parte integrante de tudo; e nos surtos folclóricos, dos quais eram personagens narrados com carinho...
Em Manaus, quando eu era menino, tínhamos os nossos loucos de afinidade em quase todos os bairros. Onde morávamos, no antigo Alto de Nazaré, havia duas loucas: a Rita e a Carmem Louca.
Faziam parte do folclore de nossas existências...
Éramos gostosamente assombrados por elas...
De vez em quando elas jogavam pedras...
Ambas tinham a libido em excesso...
Eram loucas com vontade de namorar... quando não corriam atrás dos carros... quando não se irritavam com as brincadeiras dos meninos, e jogavam pedras... Pedras que nunca machucaram ninguém...
Esse louco hoje está tão drogado que não tem mais força para nada...
Alguns, graças a Deus, receberam medicação adequada e quase que se reintegraram à normalidade da vida...
Esses, todavia, nunca foram os loucos perigosos... Nem ontem e nem hoje...
Os loucos perigosos são os não diagnosticáveis...
Sim, são os malucos funcionais...
Os loucos perigosos são os que trabalham, ganham dinheiro, namoram, compram e vendem, fazem tudo...; ao mesmo tempo em que o trabalho é uma obsessão, o dinheiro é um deus, o namoro é abuso apaixonado e semi-homicida, o comprar é compulsivo, o vender é avarento, e, sobretudo, seu maior perigo é sua louca e insana capacidade de enganar, de dissimular, de camaleonear, de não sentir, de não se importar, de não se dar, de não considerar, de não ser grato, de ser esquecidiço do bem; e de se tornar um ser educadamente psicopatico no meio de todos...
Esses são capacitados a levar suas loucuras, seus surtos, seus narcisismos, seus orgulhos endiabrados, suas ufanias satânicas, seu desamor, sua gula de alma, sua insaciabilidade, sua inveja, sua cobiça doentia, seu desejo de poder, de comer, de possuir, de acabar, de eliminar, de usar, de abusar, de dissolver... — a todos os lugares; posto que sejam os loucos da moral, da lei, do politicamente correto, da religião, das ongs, das igrejas, dos partidos, dos sindicatos, das torcidas organizadas, dos seminários, dos conventos, dos monastérios, das grandes empresas, da ONU, da Unesco, da Unicef, do Criança Esperança, do Viva Rio e de qualquer Clube do Bem...
Esses loucos não jogam pedras, eles dão pedradas... Não rasgam dinheiro, rasgam os ricos... Não matam os pobres, usam a pobreza... Não correm atrás de sombra de avião, só vão se for de 1ª Classe...
Esses não são parte do Folclore, são os mestres da cultura...
Esses não são malucos, são loucos surtados de egoísmo educado...
Esses não vão aos hospícios, eles fazem outros irem...
A loucura desses não é para eles mesmos, é para os outros...
A loucura deles é enlouquecer...
Esse tipo de louco é o diabo em exercício humano de sandice dissimulada...
E mais: com extrema facilidade esse louco se tornará político, empresário, pastor, guru, médium, sacerdote, ator, celebridade, e qualquer coisa do gênero; ou seja: qualquer coisa que os ponha na posição de chafarizes de loucuras derramadas em praça pública como show de importância...
Esse é o maluco com loucura de sedução, de importância, de elegância, de reputação, de poder, de sensualidade, de ganância, de segurança, de esperteza, de sobrevivência a qualquer preço, de negociação aberta a todo e qualquer sucesso...
Esse maluco, em geral, é o líder...
A maior parte dos líderes que conheço fazem parte desse rol...
Os que não são assim, saiba: são os que assim não são!

Nele, que disse: “Entre vós não é assim!”,

Caio

O abuso do dom de línguas



Por Hermes C. Fernandes

É inegável o flagrante abuso do dom de línguas em nossos dias. Para alguns, o simples fato de possuírem o dom já os torna superiores ou mais espirituais que os demais. Ledo engano. A começar pelo fato de que o dom de línguas jamais foi evidência do batismo com o Espírito Santo, como em geral tem sido entendido atualmente. Na mesma passagem em que Paulo afirma que todos “fomos batizados em um só Espírito” (1 Co.12:13), ele pergunta: “Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos?” (v.30b). Tal pergunta não faria sentido se a resposta fosse sim. Concluímos daí que nem todos os que são batizados no Espírito manifestam o dom de línguas. O que evidencia o batismo no Espírito é o profundo amor que é derramado em nossos corações. Confira:

“E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” Romanos 5:5

Se o falar em línguas fosse mais importante que isso, Paulo não teria dito: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine” (1 Co.13:1). Portanto, é preferível o amor sem línguas a línguas sem amor. O dom pode ser bom, mas o amor é o caminho mais excelente (1 Co.12:31). E mesmo quando todos os dons perderem a sua validade, o que permanecerá serão a fé, a esperança e o amor, “mas o maior destes é o amor” (1 Co.13:13). Não dá para rivalizar o menor dos dons com a maior das virtudes. Línguas sem amor não passam de barulho. Por mais que impressione os homens, não agrada a Deus.

A segunda verdade que precisamos considerar sobre o assunto é que todo cristão verdadeiramente regenerado pelo Espírito recebeu o batismo e o selo no momento em que creu no Evangelho. Leia atentamente:

“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” Efésios 1:13

Não se trata de uma experiência posterior à conversão, mas concomitante a ela. O que geralmente tem sido identificado como “batismo no Espírito Santo” é uma espécie de êxtase seguida da manifestação do dom de línguas. Não me atrevo a questionar a legitimidade da experiência, porém, recuso-me a chamá-la de batismo no Espírito.

Apesar de batizados no momento em que cremos, somos conclamados a encher-nos constantemente do Espírito (Ef. 5:18). Esta, portanto, é uma experiência que deve ser  contínua na vida do cristão e que deve ser buscada incessantemente. Encher-se do Espírito não é receber uma nova medida d’Ele, ou uma porção extra de Sua presença, mas sim submeter-nos cada vez mais à Sua vontade. Para receber porção dobrada do Espírito Santo, Ele teria que Se multiplicar por dois. Lembre-se que Ele é uma pessoa, não algo que possa ser medido. Deus não nos dá do Seu Espírito por medida (Jo.3:34). Portanto, ou O recebemos por inteiro, não O recebemos. Todavia, quanto mais nos submetemos a Ele, mas nos enchemos de Sua presença amorosa. Não se trata de receber mais d’Ele, e sim de Ele receber mais de nós.

Voltando à questão das línguas, importa verificar à luz das Escrituras que falar em línguas não nos torna mais espirituais. Os coríntios, para os quais Paulo enviou duas cartas, possuíam todos os dons do Espírito em abundância, porém, foram classificados como carnais (confira 1 Co.1:7; 3:1). Provavelmente, a igreja de Corinto era uma das mais pentecostais/carismáticas/renovadas de seu tempo. Sobrava carisma, faltava caráter. 

O fato de Deus nos conferir um dom que não deu a outros não nos torna superiores, e sim servos dos demais. Não custa lembrar a exortação de Jesus: “E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc. 12:48).

Devido à mentalidade predominante em alguns círculos, onde falar em línguas tornou-se sinônimo de status, muito abuso tem sido cometido. Quem fala em línguas quer tornar isso notório, e para isso, não hesita em falar em alto e bom som durante os cultos. Alguns, no afã de chamarem ainda mais atenção, acrescentam manifestações bizarras como pulos, sapateados, tremedeiras, gritos, espasmos, etc. Tal exagero já ocorria na igreja de Corinto, resultando no apelo de Paulo por sua correção:

“Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento (…) Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?”1 Coríntios 14:18-20, 23

Paulo jamais usou o dom para exibir-se, e não encorajava ninguém a fazê-lo. Quer falar em línguas, fale consigo mesmo. Que razão haveria para alguém falar em línguas publicamente sem que houvesse interpretação? Quem seria beneficiado com isso? Se verdadeiramente somos batizados no Espírito, o amor derramado em nossos corações fará com que nos preocupemos muito mais com os outros do que conosco mesmo. O que um visitante vai pensar ao ver-nos exibindo nossos dotes espirituais? Que benefício nossos irmãos terão daquilo que dissermos em línguas estranhas?

A única concessão que Paulo faz à manifestação pública do dom de línguas é no caso de haver quem as interprete.

“E, se alguém falar em língua, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus.” 1 Coríntios 14:27-28

O intérprete nem sequer precisa ser uma terceira pessoa. Se o próprio indivíduo puder interpretar os anseios produzidos pelo Espírito em Seu coração, ele poderá expressá-los em seu próprio vernáculo.

Não confundamos os dons. Línguas nada têm a ver com profecias. Quem profetiza fala aos homens. Quem fala em línguas fala exclusivamente a Deus. Então, por que careceria de intérprete? Para que os demais possam dizer “amém”. As línguas sempre visam a edificação de quem as fala, nunca a de outros. Mesmo quando interpretadas, seguem edificando quem as fala, porém, dá aos demais a oportunidade de colaborarem nesta edificação com sua concordância.

Dois extremos precisam ser evitados.  O primeiro é a desordem, onde todos falam em línguas em alta voz, sem qualquer preocupação com a edificação do outro. O outro extremo igualmente perigoso é proibir qualquer manifestação do dom. Eis a recomendação apostólica:

“Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.” 1 Coríntios 14:39-40

Como recebê-lo?

Todos os dons estão disponíveis para o Corpo de Cristo. Todavia, Deus os distribui conforme o Seu propósito. Cada membro recebe dons através dos quais será útil aos demais.

“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.”1 Coríntios 12:4-11


Portanto, o propósito de Deus deve prevalecer sobre a vontade humana. Entretanto, não podemos nos esquecer de que “Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fl.2:13). De maneira que um desejo ardente de receber algum dom pode ser gerado pelo próprio Espírito e, por isso, deve ser buscado. Caso contrário, que sentido haveria na admoestação de Paulo para que busquemos “com zelo os melhores dons” (1 Co. 12:31)?


Porém, antes de buscarmos qualquer dom, devemos verificar quais são nossas reais motivações. Se forem a glória de Deus e o serviço aos nossos semelhantes, mui provavelmente tenham sido despertadas pelo Espírito. Mas se formos motivados por vaidade pessoal, porfia, inveja, ciúmes, Deus certamente não nos atenderá. 

Ed René Kivitz - Desamparo