sábado, 28 de fevereiro de 2015

O Relato Bíblico - Adauto Lourenço

A Origem das Teorias: Como Tudo Começou? - Adauto Lourenço

Evidências de Criação - Adauto Lourenço

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Mário Sérgio Cortella | Se você não existisse, que falta faria?

A ERA DA PSICOPATIA

Psicopatia

Jesus disse que o esfriamento do amor faria a iniqüidade se multiplicar na Terra. Por outro lado, a multiplicação da iniqüidade esfria todo amor.
Portanto, seja porque o amor esfriou ou porque a iniqüidade se multiplicou, o resultado é o mesmo: a Era do Gelo Final; os homens sem afeto; a vida sem amor; a existência como arte predatória e desalmada.
Hoje a Psicopatia é o mal da Era!
Já foi a Histeria, depois a Depressão, depois o Pânico, e, agora, a Psicopatia.
E pior: não há medicação para fazer amar com amor divino, sublime e verdadeiro!
E mais angustiante ainda:...
De acordo com Paulo em II Timóteo 3, tal Psicopatia atingiria inclusive os crentes dos últimos dias.
Inafetividade, implacabilidade, arrogância, frieza, desconsideração, irreverência, culto ao próprio ego, e, sobretudo, hipocrisia; pois, têm forma de piedade, mas são filhos da Peidade; falam de Deus, porém O negam por suas próprias obras más; sobretudo O negam por suas ações de manipulação do próximo e de sedução dele.
Psicopatia tem graus, níveis e estágios!...
Entretanto, sua maior marca é a falta de culpa quando se erra..., de arrependimento a fim de consertar o erro..., e de afetividade, no caso de nada se sentir quando se ofende o próximo!...
Veja se apesar de todos os cultos que você freqüenta sua alma já não é a de um psicopata.
Sem a prática constante do amor e sem que se exercite nele, toda alma cairá na psicopatia como doença global.
Já é fato; mas ficará tão pior que o Goleiro Bruno nem no banco desse time ficará!
Pense nisso; mas, sobretudo, olhe para o seu próprio coração.

Nele, com o amor que salva da Psicopatia desta Era,

Caio

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A controvérsia da doutrina da Eleição


Por Hermes C. Fernandes



Muito tem sido debatido acerca da doutrina da eleição. De um lado, encontramos os calvinistas, defensores do direito que Deus tem de escolher quem quer que seja, sem ao menos consultar a vontade humana. Do outro, os arminianos, advogando o direito humano de ser consultado, e ter sua vontade respeitada, mesmo pelo seu Criador. Ambos vêm se digladiando há séculos. Afinal de contas, a Bíblia respalda tal doutrina? 

Não é preciso muito conhecimento do texto sagrado para dar-se conta de que tal doutrina é amplamente difundida ali. De Gênesis a Apocalipse. Mesmo o mais ferrenho arminiano terá que admitir. Ou Deus não escolheu a Noé para construir a Arca e salvar o remanescente humano do dilúvio? Ou também não escolheu a Abraão para originar a estirpe que traria Jesus ao Mundo? E igualmente não escolheu a Davi dentre todos os seus irmãos? E por aí vai…

O problema não é a doutrina da eleição em si, mas a maneira como ela tem sido exposta e defendida.

Primeiro, a eleição jamais foi um fim em si mesma, como sugerem alguns calvinistas. Mas tão-somente um meio para alcançar um fim maior. Por exemplo: Deus escolhe a Noé para garantir a perpetuação da raça humana. Portanto, um foi escolhido para o bem de todos. Deus escolhe a Abraão para que por ele e sua descendência todas as famílias da Terra fossem abençoadas. E o que dizer de Paulo, chamado por Deus de "vaso escolhido" para fazer conhecido entre os gentios o mistério do Evangelho? Mais uma vez, um foi escolhido para o bem de todos.

Apesar disso, Israel parece não ter compreendido bem sua posição como povo escolhido para benefício de todos os povos, e arrogou para si o monopólio do sagrado. Creio que justamente nesta vala que a igreja tem caído. Em nossa pobre concepção, ser eleito é sinônimo de ser os únicos com os quais Deus Se importa, os detentores do copyright de tudo quanto é sagrado, os prediletos. Ora, a mesma Bíblia que afirma nossa eleição, também declara que Deus não faz acepção de pessoas.

Costumo usar uma analogia para tentar explicar a maneira como a igreja tem se portado quanto à doutrina da eleição. A humanidade é um navio naufragante como o Titanic. Os calvinistas, preocupados em salvar sua pele, declaram terem sido escolhidos pelo comandante da nau a ocupar os botes salva-vidas. Os arminianos, por seu turno, se amotinam reivindicando o direito de serem salvos à despeito do que diga o comandante. Para eles vale o “salve-se quem puder”, ou melhor, “quem quiser”. Enquanto isso, aqueles que realmente creem na eleição esboçada nas Escrituras, reúnem-se com o comandante para consertar o navio. Nem calvinismo, nem arminianismo. Eu chamaria tal postura como “reinismo”, pois os que a defendem acreditam que o reino de Deus foi introduzido no mundo para garantir a redenção da humanidade, e a restauração de tudo quanto o pecado danificou. Dentro desta perspectiva, o último capítulo na história da redenção será o cumprimento da promessa de que “Deus seja tudo em todos” (1 Co.15:28).

Portanto, não podemos transformar a eleição numa doutrina que nutra nosso orgulho religioso, fazendo-nos acreditar que fomos preferidos, enquanto todos os demais foram preteridos por Deus. Não estou aqui defendendo que no final das contas todos serão igualmente salvos. Não vem ao caso. E sim que devemos voltar nossos esforços para alcançar a todos, ainda que alcancemos apenas a alguns. Como disse Paulo: “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1 Co. 9:22).

Qual será nossa surpresa se no final descobrirmos que muitos daqueles que se julgavam “escolhidos” estiverem entre os réprobos, enquanto que outros a quem desprezávamos, reputando-os como irremediavelmente perdidos estiverem entre os redimidos?

O fato de sermos escolhidos não deve fazer com que nos enxerguemos como tais. Devemos manter-nos humildes, e sempre dependentes da misericórdia divina. Postura semelhante era adotada por Paulo, o apóstolo que mais falou da preciosa doutrina da eleição:

“Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Por isso todos quantos já somos perfeitos, sintamos isto mesmo; e, se sentis alguma coisa de outra maneira, também Deus vo-lo revelará.” Filipenses 3:10-15

Não basta sabermos o que somos, mas também como nos sentimos com relação a isso. Não façamos da eleição uma justificativa para sentir-nos superiores aos demais. Mesmo que sejamos “perfeitos”, no sentido de que nossa debilidade é suprida em Cristo, admitamo-nos perfeitamente imperfeitos. Ainda que aos olhos de Deus a obra esteja acabada, percebemo-nos em processo de acabamento. Ele nos santificou, todavia devemos buscar a santificação. Ele nos justificou, todavia devemos encarnar a justiça do Reino de Deus. Ele nos predestinou, contudo devemos perseverar até o fim. Ele nos abençoou, porém devemos buscar ser bênção na vida de todos. Nas palavras de Pedro, devemos procurar fazer cada vez mais firme a nossa vocação e eleição, porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçaremos (2 Pe. 1:10).

Na esperança de não ser mal interpretado, ouso aqui citar Nietzsche: "Grande, no homem, é ser ele uma ponte, não um objetivo: o que pode ser amado no homem é ser ele uma passagem e um declínio. Amo aqueles que não sabem viver a não ser como quem declina, pois são os que passam."

Dr Adauto Lourenço - A Partícula de Deus

A partícula de Deus (bóson de Higgs) e o Ser- Olavo de Carvalho

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Édipo Rei - Adriane Duarte

Esperando Godot - Fábio de Souza Andrade

OS HUMANOS DESISTIRAM DA HUMANIDADE



A Discovery e o National Geographic Channel são meus prediletos na televisão. Aprendo, me inspiro, discordo com insights antitéticos construtivos para mim, e mantenho-me não tão longe do que mais gosto na Terra: ela mesma. Atualmente, no entanto, vejo o mais perigoso de todos os programas que a Discovery já produziu. Quando a ciência e a tecnologia constroem cenários de milhões de anos atrás e, baseados em registros fósseis também “reconstroem” a era pré-histórica, tudo bem. Muitas vezes faz sentido. Outras vezes, nem tanto. Quando nos tomam pelos olhos e nos conduzem aos ventrículos mais profundos da terra, do mar e da história, deixam-nos extasiados. Eu, pelo menos, freqüentemente me apanho em louvor e oração. Fico feliz de poder saber de todas essas coisas. Quando advertem profeticamente que a humanidade está se auto-aniquilando e, assim, tentam gerar ações de preservação de espécies e do meio ambiente, estão ajudando a criar uma consciência sadia, ainda que baseada em nossa autopreservação. Hoje, no entanto, foi diferente. O programa passou a primeira vez no domingo à noitinha. Repetiu a 1 da manhã de segunda. O nome do programa é Futuro Selvagem. A qualidade técnica é “Discovery”—ou seja: maravilhosa. A idéia é absolutamente lógica considerando as leis da teoria da evolução e, sobretudo, as condições de degradação do ecossistema e as inapeláveis conseqüências. Tudo certo conforme a premissa lógica e a lógica da premissa. Uma interpretação do passado da Terra a partir da teoria da evolução é aceitável para muitos cristãos. De fato, nos últimos vinte anos, apenas os cristãos americanos—e seus repetidores de formulas simples—é que ainda se preocupam com essa questão como uma ameaça à fé. Havia a pré-história e a história. A história começa com a autoconsciência e com o seu registro como alguma forma de impressão. E quanto maior a autoconsciência, maior é o sentido de história. A história, estranhamente, é tanto maior quanto maior e mais profundamente o sujeito a percebe. A história é feita fora, mas é escrita a partir de dentro do homem. Agora a Discovery criou o Futuro Selvagem. Os homens acabaram com a civilização humana. Uns poucos sobreviveram refugiando-se em outras galáxias. O que sobra na Terra é apenas aquilo que aqui havia antes de ter havido a primeira autoconsciência: milhões e milhões de anos de existências sem autoconsciência e uma quantidade enorme de seres que continuaram o processo evolucionário, sendo que o Caracará brasileiro, em mais cinco milhões de anos, perderá as penas e crescerá quatro vezes o seu tamanho atual. Voltará a ser um dinosaurinho. A viagem vai de tempos recentes no futuro como cinco milhões de anos, a futuros ultra-selvagens e solitários daqui a mais 200 milhões de anos—no fim de tudo: as aranhas prateadas dominarão a Terra e os tubarões bioluminicentes continuarão os senhores das águas; ou melhor: do mar único que será o oceano, que cercará uma única porção seca de terra. O que me incomodou nisto? 1. O espírito de entretenimento. A ser produzido o programa teria que ser em tom apocalíptico, não acompanhado de música romântica. Ópera e violinos de paz tocam ao fundo. Está tudo muito bom. 2. A filosofia inerente. A vida será assim daqui a 200 milhões de anos--sem humanos--, por que, então, ser de qualquer jeito hoje? 3. A escatologia afirmada. É fatalista. Dá como certo a impossibilidade de qualquer tomada de consciência, trabalhando, portanto, contra a própria filosofia do canal. 4. A soteriologia confessada. O homem—a elite dos humanos—se salva em outra galáxia—um arrebatamento autopromovido—enquanto a Terra pertence às aranhas prateadas e os mares aos tubarões bioluminicentes. 5. A fé proclamada. O homem tomou o seu destino definitivamente em suas próprias mãos. Tudo o que haverá é tudo o que conseguirmos. Ao mesmo tempo, entrega-se o mundo atual ao serviço dos interesses imediatos, corroendo a atmosfera e destruindo os sistemas de vida e as cadeias de sinergia natural. Assim, alguns homens herdarão o reino das galáxias, mas, enquanto isto, dá-se como certo que a humanidade já acabou e que seu futuro já está profetizado. Ao final, não há a Nova Jerusalém descendo do céu adornada como noiva. Há apenas algumas naves de fuga da elite humana, que deixam para trás o lixo que a elite humana produziu. Assim, lá vão os humanos fazer mais uma ...em uma outra galáxia. Se esse é o futuro, que presente é esse? O presente é o que é. O futuro já é. Quem diz chama a si mesmo de Eu Sou! E no meu futuro a Nova Jerusalém desce sobre a Terra. Quem diz isto é Aquele que é, que era e que há de vir! Mas a voz da Discovery, de qualquer modo, precisa ser ouvida: o homem é a bomba que inviabilizará a humanidade. O Discovery consegue ver a vida se adaptando e seguindo, mas não o homem, que demonstra que a coisa mais alienígena que há na Terra é essa inteligencia malvada dos humanos, que se alimentam da ganância do imediato, e vaticinado a continuidade de uma Terra sem gente. O que isto demonstra: que a Queda do homem é um fato: sua permanencia na Tera impede a vida. Sua ausência nos daria um Terra sobrevivente, sem guerras, a não ser a dos bichos do futuro, que continuaram a caçar apenas para comer, mas não destruirão a Terra por sede de poder. Caio

Fonte: Site do Caio Fábio

sábado, 21 de fevereiro de 2015

SELFIE - Um poema


Quero que todos me vejam

da maneira que me vejo
Ao me virem, me cortejam
Muitos likes, eu desejo

Nem que para isso exiba
um sorriso, um gracejo
Não há nada que me iniba
Aproveito cada ensejo

Sempre busco o melhor ângulo
Pra esconder qualquer defeito
No espaço de um retângulo
Este mundo fica estreito

Se puder evito closes
que reforcem os meus traços
Me distraio entre poses,
beijos, bicos e abraços.

De que adianta
tanto apreço pela imagem?
Se aquilo que preciso
Só se encontra além da margem

O que me encanta
Independe da roupagem
Quer saber, não sou Narciso
Meu reflexo é miragem

Quem me ama, me percebe
Sem moldura ou efeito
De que serve usar filtro
Se nem mesmo me aceito?

Quem me ama, me enxerga
De um ângulo distinto
Ao meu ego não se enverga
Só se importa com o que sinto

Qualquer coisa mostra a lente,
Qualquer coisa que se ostente
Só não mostra a verdade
que é aquilo que se sente.

Composto por Hermes C. Fernandes em 10/02/2015
Fonte: Blog de Hermes C. Fernandes

A Montanha Mágica - Jorge de Almeida

Literatura Fundamental 14 - O Banquete - Adriano Ribeiro Machado

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

CARNAVAL: O que merece aplausos e vaias


Por Hermes C. Fernandes


"Examinai tudo. Retende o bem." 1 Tessalonicenses 5:21

O que significa "examinar"? De acordo com o dicionário, examinar é ponderar, observar, analisar atentamente, minuciosamente. Considerando a sugestão de Paulo, que tal se examinássemos o Carnaval? Em vez de simplesmente bater o martelo e condenar a maior festa popular do mundo, prefiro desembrulhar o pacote e averiguar item por item. 

Como sou do Rio de Janeiro, apresentarei abaixo as razões que me levariam a aplaudir e a vaiar o carnaval carioca:

Primeiro, o que eu aplaudiria sem o menor constrangimento:

• A criatividade dos carnavalescos e compositores expressada  nas fantasias, no show de cores, nos carros alegóricos, e, principalmente, no samba-enredo, muitos dos quais retratam a história, o folclore e a cultura do povo brasileiro, enquanto outros denunciam o descalabro do preconceito, da devastação ambiental e outras mazelas que assolam a sociedade. Também é de se admirar a homenagem feita a alguns ícones populares.

• O empenho e a empolgação contagiosa do povo brasileiro, cantando, dançando e desfilando pela avenida, sempre com um sorriso nos lábios, mesmo com os pés sangrando de tanto sambar.

• A união de pessoas de camadas sociais diferentes. Morro e asfalto se unem em defesa do estandarte da escola de samba.

• O encontro de gerações. É bonito de se ver a honra dada à chamada velha guarda, bem como a integração e participação das crianças. 


O que deveria nos envergonhar, e que, portanto, merece minhas vaias:

• A política de pão e circo descaradamente usada e abusada pela classe política para distrair o foco da população dos assuntos importantes. Enquanto o povo festeja, a roubalheira prossegue. Não foi à toa que os mensaleiros foram absolvidos da acusação de formação de quadrilha na semana do Carnaval. Se fosse em outra época do ano, talvez o mesmo povo teria saído às ruas para protestar.

• A promiscuidade do poder público. Dos 51 vereadores do RJ, somente 5 se recusaram a usufruir de ingressos para o camarote patrocinado pelos contraventores do jogo de bicho, como pode ser constatado aqui.

• A lavagem de dinheiro do crime organizado e da contravenção com a anuência do poder público.

• A imagem da cidade associada ao turismo sexual e explorada à exaustão pelo mundo afora. O principal cartão postal que atrai turistas ao Rio de Janeiro não é o Corcovado, nem o Pão de Açúcar, mas os glúteos de nossas mulatas.

• A atmosfera de permissividade e licenciosidade, responsável pela gravidez precoce de muitas adolescentes, e pela destruição de muitas famílias através do sexo casual irresponsável e pelo uso de álcool e entorpecentes.

• O aumento drástico de acidentes nas estradas e da violência urbana que ceifam a vida de milhares de pessoas.

Cuidemos para não jogar fora a criança juntamente com a água do banho. O que for bom e belo deve ter seu sabor realçado pelo sal, mas o que for reprovável deve ser manifesto pela luz. Devemos, portanto, evitar dois extremos: o legalismo que a tudo condena sem se dar o trabalho de examinar e a licenciosidade que nos faz aceitar tudo, tornando-nos "cúmplices das obras infrutuosas das trevas" (Ef.5:11).

* Em tempo, muito merecida a homenagem que a Imperatriz fez para o galinho de Quintino. Zico foi um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Sinto por quem não teve o privilégio de vê-lo jogar. 

Fonte: Blog de Hermes C. Fernandes

Literatura Fundamental 15 - Trilogia Os caminhos da liberdade - Franklin...

Literatura Fundamental 16 - Ficções - Ana Cecília Arias Olmos

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Método Científico: Em Defesa da Integridade da Física


Crédito da Imagem: Vasava.
Durante este ano, debates entre físicos tiveram uma preocupante reviravolta. Diante de dificuldades para aplicar teorias fundamentais ao universo observado, alguns pesquisadores pediram por uma mudança na maneira como a física teórica seja desenvolvida. Eles começaram a argumentar — explicitamente — que se uma teoria é suficientemente elegante e explanatória, ela não precisa ser testada experimentalmente, algo que rompe com séculos de tradição filosófica no tratamento de conhecimento científico como empírico. Nós discordamos disso. Como argumentou o filósofo da ciência Karl Popper, uma teoria precisa ser falseável para ser científica.
Entre os líderes que advogam a tese de que elegância basta, estão alguns pesquisadores de teoria das cordas. Como teoria das cordas é supostamente o "único jogo na cidade" capaz de unificar as quatro forças fundamentais, eles acreditam que ela deve conter um grão de verdade, apesar de se sustentar em dimensões espaciais extras que jamais podemos observar. Alguns cosmólogos também estão procurando abandonar a verificação experimental de grandes hipóteses que invocam domínios imperceptíveis, como aqueles que ocorrem no caleidoscópico multiverso (compreendendo uma miríade de universos), a interpretação dos muitos mundos para a realidade quântica (na qual atos de observação são associados a ramos paralelos da realidade) e conceitos pré-Big Bang.
Essas hipóteses não verificáveis são muito diferentes daquelas que se relacionam diretamente com o mundo real e que são testáveis através de observações — como as do modelo padrão em física de partículas e a existência de matéria escura e energia escura. Da maneira como estamos percebendo a situação, a física teórica corre o risco de se tornar uma "terra de ninguém", que perambula entre matemática, física e filosofia, mas que não atende aos critérios de nenhum desses ramos do conhecimento.
A questão da testabilidade tem assombrado a física por uma década. A teoria das cordas e a teoria do multiverso têm sido criticadas em livros e artigos de divulgação científica, incluindo alguns escritos por um de nós (G.E.). Em março, Paul Steinhardt publicou neste periódico que a teoria do universo inflacionário não é mais científica, uma vez que se tornou tão flexível a ponto de acomodar qualquer resultado observável. O físico teórico e filósofo Richard Dawid e o cosmólogo Sean Carroll têm combatido essas críticas com uma defesa filosófica para enfraquecer a exigência de testabilidade em fundamentos da física.
Congratulamos Dawid, Carroll e outros físicos por terem trazido este problema à tona. Mas o passo drástico que eles propõem exige um debate cuidadoso. Essa batalha pelo coração e pela alma da física está ocorrendo em uma época na qual resultados científicos — em tópicos que variam de mudanças climáticas à teoria da evolução — estão sendo questionados por alguns políticos e fundamentalistas religiosos. O potencial dano na confiança pública em ciência e na natureza dos fundamentos da física precisa ser contido a partir de um diálogo mais profundo entre cientistas e filósofos.
Teoria das Cordas
Teoria da cordas é uma elaborada proposta para explicar como minúsculas cordas (objetos unidimensionais) e membranas (extensões de cordas para várias dimensões) existentes em espaços multi-dimensionais sustentam toda a física. Essas dimensões extras são entrelaçadas de maneira tão intensa que são pequenas demais para serem observadas a níveis de energia acessíveis por meio de colisões em qualquer acelerador de partículas concebível no futuro.
Alguns aspectos da teoria das cordas podem ser testados experimentalmente, em princípio. Por exemplo, um princípio de simetria entre férmions e bósons, central nesta teoria — supersimetria — prevê que cada tipo de partícula admite uma parceira ainda não observada. Tais parceiras não foram detectadas ainda pelo Large Hadron Collider, no CERN, o laboratório europeu de física de partículas localizado próximo de Genebra, Suíça, o que limita o espectro de energias no qual a supersimetria possa existir. Se essas parceiras das partículas já conhecidas continuarem imperceptíveis, então poderemos jamais saber se existem ou não. Os defensores da teoria das cordas poderão sempre afirmar que as massas dessas partículas são maiores do que os níveis de energia sondados.
Dawid argumenta que a veracidade da teoria das cordas pode ser estabelecida através de argumentos filosóficos e probabilísticos sobre o processo de pesquisa. Citando análise Bayesiana, um método estatístico para inferir a probabilidade de que uma explicação seja adequada para um conjunto de fatos, Dawid afirma que confirmação é equivalente ao aumento de probabilidade de que uma teoria seja verdadeira ou viável. No entanto, este aumento de probabilidade pode ser puramente teórico. Como "ninguém propôs uma boa alternativa" e "teorias sem alternativas tinham a tendência de ser viáveis no passado", ele argumenta que a teoria das cordas deveria ser assumida como válida.
Na nossa opinião isso é como mover as traves do gol. No lugar de aumentar a crença em uma teoria com base em evidências observacionais, ele sugere que descobertas teóricas é que devem reforçar a crença. Mas conclusões oriundas da matemática não precisam se aplicar ao mundo real. Experimentos já demonstraram que muitas teorias belas e simples estavam erradas, desde a teoria do estado estacionário em cosmologia até a Grande Teoria Unificada SU(5) de física de partículas, que buscavam unificar as forças nucleares eletrofraca e forte. A ideia de que verdades preconcebidas sobre o universo podem ser inferidas além de fatos estabelecidos (indutivismo) foi descartada por Popper e outros filósofos do século XX.
Não podemos assumir a inexistência de teorias alternativas. Pode ser que não as tenhamos encontrado ainda. Pode não haver a necessidade de uma teoria geral de quatro forças fundamentais se a gravidade, um efeito da curvatura do espaço-tempo, difere das forças forte, fraca e eletromagnética que governam partículas. Em suas muitas variantes, a teoria das cordas não é sequer bem definida. Na nossa opinião, a possibilidade de uma teoria unificada é uma nota promissória.
Muitos Multiversos
A hipótese do multiverso é motivada por um enigma: por que as constantes da natureza, como a constante de estrutura fina (que caracteriza a intensidade de interações eletromagnéticas entre partículas) e a constante cosmológica (associada com a aceleração da expansão do universo) têm valores que se encontram no pequeno intervalo que permite a existência de vida? A teoria do multiverso estabelece que existem bilhões de universos paralelos não observáveis lá fora, nos quais todos os possíveis valores para essas constantes podem ocorrer. Portanto, em algum lugar existe um universo condizente com vida, como o nosso, apesar disso ser altamente improvável.
Alguns físicos consideram que a teoria do multiverso não encontra qualquer ideia alternativa para explicar muitas outras coincidências bizarras. O baixo valor da constante cosmológica — conhecido como 10 elevado a 120 vezes menor do que o valor previsto pela teoria quântica de campos — é difícil de explicar, por exemplo.
Este ano, defendendo as hipóteses do multiverso e da interpretação de muitos mundos, Carroll dispensou o critério de falseabilidade de Popper, alegando que se trata de um "instrumento contundente" (veja aqui). Ele apresentou duas outras exigências: uma teoria científica deveria ser "definitiva" e "empírica". Por definitiva, Carroll entende que a teoria diz "algo claro e sem ambiguidade sobre como a realidade funciona". Por empírica ele compreende algo que está de acordo com a definição usual de que uma teoria deve ser julgada como bem sucedida ou fracassada a partir de sua habilidade para explicar dados.
Ele argumenta que domínios inacessíveis podem ter um "efeito dramático" em nosso quintal cósmico, explicando por que a constante cosmológica é tão pequena na parte que observamos. Mas na teoria do multiverso, essa explicação poderia ser dada independentemente do que astrônomos observam. Todas as possíveis combinações de parâmetros cosmológicos existiriam em algum lugar, e a teoria tem muitas variáveis que podem ser alteradas. Outras teorias, como a gravidade unimodular, uma versão modificada da teoria da relatividade geral de Einstein, também podem explicar por que a constante cosmológica não é enorme.
Algumas pessoas desenvolveram variantes da teoria do multiverso que são suscetíveis a testes. A versão do físico Leonard Susskind pode ser falseada se algum dia for descoberta uma curvatura espacial negativa no universo. Mas tal descoberta não provaria coisa alguma a respeito das outras versões. Fundamentalmente, a hipótese do multiverso se sustenta na teoria das cordas, que ainda não é verificada, e nos mecanismos especulativos para compreender diferentes físicas em universos paralelos. Isso, em nossa opinião, não é robusto e, muito menos, testável.
A interpretação dos muitos mundos para a realidade quântica, proposta pelo físico Hugh Everett, é o multiverso quântico final, onde probabilidades quânticas afetam a realidade macroscópica. De acordo com Everett, cada um dos famosos gatos de Schrödinger, o vivo e o morto, envenenado ou não em sua caixa fechada por ação de decaimentos radioativos aleatórios, é real em seu próprio universo. Cada vez que você faz uma escolha, mesmo que seja tão mundana quanto seguir para a direita ou para a esquerda, um universo alternativo pipoca a partir do vácuo quântico para acomodar a outra ação.
Bilhões de universos — e de galáxias e de cópias de cada um de nós — se acumulam sem a possibilidade de comunicação entre eles ou de teste sobre suas existências. Mas se uma duplicata de alguém existe em cada multiverso e se há infinitos universos, qual é o verdadeiro "eu" que experimento neste momento? Alguma versão deste "eu" é preferida sobre alguma outra? Como "eu" poderia saber qual é a "verdadeira" natureza da realidade se um "eu" favorece o multiverso e o outro não?
Em nosso ponto de vista, cosmólogos deveriam acatar a advertência do matemático David Hilbert: apesar de infinidades serem necessárias para completar a matemática, elas não ocorrem em lugar algum do universo físico.
Fonte - Universo Racionalista

domingo, 15 de fevereiro de 2015

NEOPAGANISMO EVANGÉLICO


Teologia pentecostal se afasta da tradição judaico-cristã ao atribuir
ao mal uma potência independente de Deus e dos homens

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI

Colunista da Folha

Estava passeando pela TV quando dei com um culto da Igreja Mundial do
Poder de Deus. Teria rapidamente mudado de canal se não tivesse
acabado de ler o interessante livro de Ronaldo de Almeida, "A Igreja
Universal e seus Demônios – Um Estudo Etnográfico" [ed. Terceiro Nome,
152 págs., R$ 28], que me abriu os olhos para o lado especificamente
religioso dos movimentos pentecostais. Até então, via neles sobretudo
superstição, ignorando o sentido transcendente dessas práticas
religiosas.

No culto da TV, o pastor simplesmente anunciou que, dado o aumento das
despesas da igreja, no próximo mês, o dízimo subia de 10% para 20%. Em
seguida, começou a interpelar os crentes para ver quem iria doar R$
1.000, R$ 500 e assim foi descendo até chegar a R$ 1.

Notável é que o dízimo não era pensado como doação, mas simplesmente
como devolução: já que Deus neste mês dera-lhe tanto, cabia ao fiel
devolver uma parte para que a igreja continuasse no seu trabalho
mediador. Em suma, doar era uma questão de justiça entre o fiel e
Deus.

Em vez de o salário ser considerado como retribuição ao trabalho, o é
tão só como dádiva divina, troca fora do mercado, como se operasse
numa sociedade sem classes. Isso marca uma diferença com os antigos
movimentos protestantes, em particular o calvinismo, para os quais o
trabalho é dever e a riqueza, manifestação benfazeja do bom
cumprimento da norma moral.

Se o salário é dádiva, precisa ser recompensado. Não segundo a máxima
franciscana "é dando que se recebe", pois não se processa como ato de
amor pelo outro. No fundo vale o princípio: "Recebes porque doastes".
E como esse investimento nem sempre dá bons resultados, parece-me
natural que o crente mude de igreja, como nós procuramos um banco mais
rentável para nossos investimentos.

O crente doa apostando na fidelidade de Deus. Os dísticos gravados nos
carros, "Deus é fiel", não o confirmam? Mas Dele espera-se
reciprocidade, graças à mediação da igreja, cada vez mais eficaz
conforme se torna mais rica. Deus é pensado à imagem e semelhança da
igreja, cujo capital lança uma ponte entre Ele e o fiador.

ANTICALVINISMO
Além de negar a tradicional concepção calvinista e protestante do
trabalho, esse novo crente não mantém com a igreja e seus pares uma
relação amorosa, não faz do amor o peso de sua existência.

Sua adesão não implica conversão, total transformação do sentido de
seu ser; apenas assina um contrato integral que lhe traz paz de
espírito e confiança no futuro. Em vez da conversão, mera negociação.
Essa religião não parece se coadunar, então, com as necessidades de
uma massa trabalhadora, cujos empregos são aleatórios e precários?

Outro momento importante do livro é a crítica da Igreja Universal ao
candomblé, tomado como fonte do mal. Essa crítica não possui apenas
dimensões política e econômica, assume função religiosa, pois dá
sentido ao pecado praticado pelo crente. O pecado nasce porque o fiel
se afasta de Deus e, aproximando-se de uma divindade afro-brasileira,
foge do circuito da dádiva. Configura fraqueza pessoal, infidelidade a
Deus e à igreja.

Nada mais tem a ver com a ideia judaico-cristã do pecado original. Não
se resolve naquela mácula, naquela ofensa, que somente poderia ser
lavada pela graça de Deus e pela morte de Jesus, mas sempre requerendo
a anuência do pecador.

Se resulta de uma fraqueza, desaparece quando o crente se fortalece,
graças ao trabalho de purificação exercido pelo sacerdote. O fiel
fraquejou na sua fidelidade, cedeu ao Diabo cheio de artimanhas e
precisa de um mediador que, em nome de Deus, combata o Demônio. O
exorcismo é descarrego, batalha entre duas potências que termina com a
vitória do bem e a purificação do fiel.

PAGANISMO
Compreende-se, então, a função social do combate ao candomblé: traduz
um antigo ritual cristão numa linguagem pagã. Os pastores dão pouca
importância ao conhecimento das Escrituras, servem-se delas como
relicário de exemplos. Importa-lhes mostrar que o Diabo, embora tenha
sido criado por Deus, depois de sua queda se levanta como potência
contra Deus e, para cumprir essa missão, trata de fazer o mal aos
seres humanos.

O mal nasce do mal, ao contrário do ensinamento judeu-cristão que o
localiza nas fissuras do livre-arbítrio. Adão e Eva são expulsos do
Paraíso porque comeram o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do
Mal e assim se tornam pecadores, porque agora são capazes de
discriminar os termos dessa bipolaridade moral.

Essa teologia pentecostal se aproxima, então, do maniqueísmo. Como
sabemos, o sacerdote persa Mani (também conhecido por Maniqueu), ativo
no século 3º, pregava a existência de duas divindades igualmente
poderosas, a benigna e a maligna. Isso porque o mal somente poderia
ter origem no mal. A nova teologia pentecostal empresta o mesmo valor
aos dois princípios e, assim, ressuscita a heresia maniqueísta,
misturando o cristianismo com a teologia pagã.

________________________________

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção
"Autores", do Mais!.
FOLHA DE SÃO PAULO

Domingo, 02/08/2009

Fonte: Site de Caio Fábio

Literatura Fundamental 17 - Grandes Esperanças - Daniel Puglia

Literatura Fundamental 18 - Eneida - Paulo Martins

Literatura Fundamental 19 - O grande Gatsby - Maria Elisa Cevasco

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Os 50 tons de uma espiritualidade daltônica e sadomasoquista



Por Hermes C. Fernandes

Hoje chega às salas de exibição de todo o Brasil a versão cinematográfica de “Cinquenta tons de cinza", romance erótico de autoria da inglesa Erika Leonard James publicado em 2011. O primeiro livro da trilogia que é fenômeno entre as mulheres vendeu mais de dez milhões de exemplares nas seis primeiras semanas, apesar de ser um gênero que sempre foi voltado para o público masculino. O livro é um dos maiores bestsellers dos últimos anos. 
O título é um trocadilho com o nome de um dos seus protagonistas, Christian Grey. Interessante que se traduzirmos ambos, nome e sobrenome, encontramos “Cristão Cinza”.
O romance tem como personagem principal uma jovem de 21 anos chamada Anastasia Steele. Após entrevistar Christian Grey para o jornal da faculdade, passa a ter um relacionamento com o magnata. Em meio ao luxo, ele a introduz num mundo de sadomasoquismo, tornando-a sua escrava sexual.
Em vez do colorido comum aos romances literários, eles se envolvem numa relação em que o sexo casual e sádico se revela em tons melancólicos, porém, envolventes.
Tenho a impressão de que o livro tente disseminar fantasias masculinas no coração de mulheres, como se isso fosse próprio de sua natureza. Imagino o mal que literaturas deste tipo podem fazer a médio e longo prazo, criando expectativas sobre-humanas entre parceiros, descolorindo o que por si só é tão belo e sedutor.
Estou longe de ser pudico ou moralista. Porém, acredito que a relação sexual deva ser encarada como algo sagrado, e que nosso parceiro não pode ser coisificado, como se existisse só em função de nosso prazer.
O que apimenta qualquer relação é o amor, o romantismo, e não chicotes, palavrões, brinquedos eróticos e outros fetiches.
Ora, se Paulo toma a relação conjugal como alegoria do relacionamento entre Cristo e Sua Igreja, que tal tomarmos esta obra literária como analogia de nossa condição espiritual? Pergunto: Até que ponto temos vivido uma espiritualidade sadomasoquista? Por que razão temos aceitado como belo o que antes considerávamos repugnante e depreciável? Não estaríamos cultivando uma religiosidade fetichista?
Cinza é a cor do que sobra daquilo que foi devorado pelo fogo. Tomando a simbologia bíblica, cinza representa tristeza, luto, melancolia, e por vezes, arrependimento. São estes os tons de cinza apresentados nas Escrituras.
Davi, por exemplo, no auge de sua crise depressiva, escreveu:

“O meu coração está ferido e seco como a erva, por isso me esqueço de comer o meu pão. Por causa da voz do meu gemido os meus ossos se apegam à minha pele (...) Pois tenho comido cinza como pão, e misturado com lágrimas a minha bebida.” Salmos 102:4-5,9 

Comer cinza é uma expressão usada para denotar uma depressão profunda que o levava a perder o apetite. Quando o indivíduo se via neste estado, ele podia expressá-lo através do uso de cinzas literais, derramando-a sobre a cabeça ou assentando-se sobre elas. Lemos que “Jó tomou um caco para se raspar com ele; e estava assentado no meio da cinza.” (Jó 2:8). Seu estado era tão lastimável, que sua própria mulher sugeriu-lhe o suicídio.

A chama apagou. O colorido da vida desbotou. Só sobraram cinzas em seus vários e melancólicos tons.

Outro tom de cinza encontrado nas páginas das Escrituras é o do arrependimento. Para demonstrar que estavam arrependidas,  as pessoas se vestiam de saco e derramavam cinzas sobre suas cabeças.


Jesus diz que se os milagres que Ele fizera em algumas das cidades que percorrera houvessem sido feitos em cidades que tiveram fins trágicos, seus destinos teriam sido bem diferentes, pois seus moradores certamente teriam se arrependido“com saco e com cinza”(Mt.11:21-24). Até Sodoma teria se convertido caso houvesse sido cenário dos milagres feitos em Cafarnaum.  Neste caso, as cinzas, bem como as roupas de saco, eram usadas para exteriorizar seu estado de espírito e seu arrependimento.

Alguns usavam as cinzas, juntamente com o jejum, em protesto diante de Deus e dos homens. Achavam que isso os fazia merecedores de uma atenção especial da parte de Deus, resultando em resposta às suas orações. Para eles, o jejum havia se tornado numa poderosa arma para pressionar a Deus a atendê-los.  Uma espécie de greve de fome.  Deus, porém, parece rejeitar tal demonstração de espiritualidade, afirmando que o jejum que o agradava não era que o homem afligisse a sua alma, e estendesse debaixo de si saco e cinza, e sim, que soltasse as algemas da impiedade, despedaçasse todo jugo, deixando livres os oprimidos, repartindo seu pão com o faminto, recolhendo em casa os pobres abandonados e cobrindo os nus (Is.58:5-7). Em vez de privar-se de um pão inteiro por algumas horas, o que Deus esperava era que se privassem de metade deste mesmo mão para sempre, partilhando-o com o que nada tinha. Em vez de privação, partilha. Em vez de flagelo, compaixão. Em vez de dever, prazer. 

Jesus denunciou aquela prática equivocada de jejum, e disse que tentar agregá-la ao evangelho é o mesmo que pôr remendo novo em panos velhos, ou vinho novo em odres velhos. A espiritualidade proposta pelo Evangelho não tem nada de cinza; em vez disso,  é repleta de cores, tanto quanto a túnica com a qual Jacó presenteou a José, seu filho.  Talvez por isso Paulo tenha se referido à “multiforme sabedoria de Deus” que se manifesta através da igreja. O termo traduzido por “multiforme” significa “multicolorida” (Ef.3:10). Ele chega a dizer que os principados e potestades, assistem boquiabertos à esta manifestação gloriosa numa espécie de voyeurismo angelical.  Pedro também toma emprestada a mesma palavra para referir-se à multiforme graça de Deus revelada nos múltiplos dons conferidos à igreja (1 Pe. 4:10). Quem está equipado da sabedoria e da graça multicoloridas de Deus não precisa recorrer aos fetiches cinzentos oferecidos por uma religiosidade medíocre e utilitária.

Deus não tem qualquer prazer em nos ver afligir nosso corpo ou nossa alma, numa espécie de exercício de espiritualidade masoquista. Acreditar nisso é o mesmo que chamá-lo de sádico.

É lamentável testemunhar o que alguns cristãos fazem com seus corpos, submetendo-se a sessões de tortura e autoflagelação. Nas Filipinas eles chegam a se crucificar. No Brasil, sobem escadarias de joelhos. E não precisa ser católico fervoroso para fazer algo semelhante. Presenciei crentes subindo ao monte de joelhos na zona oeste do Rio. Fui tachado de incrédulo por recusar-me a tal sacrifício de tolo.

Veja o que diz Isaías, no texto usado por Jesus em Sua primeira aparição pública:

“O Espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos pobres; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes. A ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê uma coroa em vez de cinzaóleo de alegria em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado. E edificarão os lugares antigamente assolados, e restaurarão os anteriormente destruídos, e renovarão as cidades assoladas, destruídas de geração em geração.” Isaías 61:1-4

É necessário que as cinzas sejam removidas para dar lugar à coroa de glória e ao “óleo de alegria”. Os resquícios de nossa velha vida devem ser varridos, removidos de nossas cabeças, para que estejamos aptos a receber aquilo que é a fonte de nossa força, a alegria do Senhor.  Em vez de fantasias, vestes de louvor. Em vez de alienação, um choque de realidade, somado à certeza de que Deus tem todas as coisas em Seu controle. 

Remover as cinzas é romper com o que ficou para trás, a fim de avançarmos para o que se insinua diante de nós. É fazer uma faxina em nossa alma, espanando de uma vez por todas o pó que acumulou-se nos recantos do ser. 

Comparando a alegria proporcionada pelo mundo à alegria vinda de Deus, podemos dizer que a primeira sempre termina em cinzas. Começa bem, termina mal. Mas a segunda toma o caminho inverso. Ela é como a fênix que emerge das cinzas com suas exuberantes asas.

Repare no que disse Jesus sobre isso:

“Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.” João 16:20-22

A alegria do mundo é fugaz. Por mais lugar comum que isso possa parecer, trata-se de um fato verificável.  Toda alegria oferecida pelo mundo não passa de entretenimento com prazo de validade pré-estabelecido. Quando expira, só sobram cinzas. Já a alegria proposta pelo evangelho nasce das cinzas e para lá jamais retorna, pois é eterna.

Há que se fazer aqui uma pequena digressão. Como conciliar o que Jesus disse com a orientação dada por Paulo para que nos alegrássemos com os que se alegram, e chorássemos com os que choram (Rm.12:15)? Ora, se Jesus afirmou que enquanto mundo se alegrasse, nós nos entristeceríamos, como, então, poderíamos celebrar sua alegria?

O fato é que a alegria do mundo não é genuína. Entristecemo-nos, não por inveja de sua alegria, mas por perceber o quão falsa e passageira ela é. Entristecemo-nos por saber que sua alegria resultará em culpa, tristeza e vazio.

A genuína alegria independe de circunstâncias, de dias festivos, de fetiches, de fantasias. Ela decorre, sobretudo, da certeza que temos de que Ele está conosco. Sua presença é tão real que ofusca qualquer adversidade.  Seu amor seduz nossa alma, e nos faz atingir patamares inimagináveis de satisfação. Sua graça é-nos mais que suficiente.  Não carecemos de fazer do mundo nosso amante, posto que Ele corresponda a todos os anseios de nossa alma.

Ele não nos usa, como Christian Grey faz à jovem Anastasia.  Ele simplesmente nos ama, e faz questão de que sintamos todo o Seu amor a nos envolver.  Após render-nos aos Seus galanteios, sentimo-nos realizados, e não culpados, usados, machucados, sujos e vazios.  

Caso não tenha se rendido ainda, experimente, aprecie sem moderação, pois Seu amor não tem contraindicação. 

Fonte: Blog de Hermes C.Fernandes