domingo, 4 de agosto de 2013

Revista diz que igreja evangélica tem pouco a oferecer à sociedade


Por Hermes C. Fernandes

A Revista de História da Biblioteca Nacional publicou artigo sobre o crescimento dos Evangélicos no Brasil que foi reproduzido em francês em uma edição da Revista Courrier Internacional. Segundo um trecho da reportagem publicado na coluna de Ancelmo  Gois  no jornal O Globo, “enquanto nos últimos 50 anos a população brasileira cresceu 63,2%, o número de evangélicos quase dobrou de tamanho, aumentou 93%. A religião que mais cresce é aquela que resolve os problemas individuais e distribui benefícios imediatos, mas tem pouco a oferecer à sociedade”. 

Sinto-me impulsionado a concordar com o artigo. De fato, o discurso anacrônico de muitas igrejas, sobretudo, das midiáticas, tem colaborado para este quadro. O mercado religioso evangélico oferece milagres à granel, técnicas de autoajuda, discurso moralista e fundamentalista ao extremo, militância política de perfil ultra conservador, mas não atenta para as demandas sociais de nosso tempo. Como bem denunciou o profeta Jeremias: "Desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade.E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz" (Jr.6:13-14). 

Ontem mesmo tive o desprazer de assistir a uma pregação onde o pastor confessou ter pago considerável quantia para ser preletor de um importante evento promovido numa cidade balneária da região sul pela maior igreja pentecostal do Brasil. Pelo jeito, poucos escapam. 

A bem da verdade, só se pode dar o que se tem recebido. "O que eu recebi do Senhor", brada São Paulo, "isso também vos entreguei" (1 Co.11:23). 

De quem recebemos aquilo que temos distribuído em nossas igrejas? Ora, se foi do Senhor, por que não produz o efeito desejado? Como explicar que lugares onde a igreja mais cresce, os índices sociais permanecem os mesmos? Igrejas superlotadas enquanto a criminalidade avança. 

"Não tenho ouro, nem prata", disse Pedro a um paralítico, "mas o que tenho, isso te dou" (At.3:6). O problema é que queremos dar o que não temos recebido. Prometemos mundos e fundos para atrair as pessoas aos nossos cultos, mas não lhes damos o essencial. Dizemos que Jesus é a resposta, quando sequer sabemos quais são as questões verdadeiramente pertinentes do nosso tempo. E, mesmo quando nos propomos a dar exatamente o que temos recebido, achamo-nos no direito de cobrar por isso. É claro que ninguém vai ter o descaramento de estipular um preço. Preferimos a sutileza. Recorremos ao argumento da oferta para incentivar as pessoas a barganhar com Deus. Esquecemo-nos da advertência feita por Jesus: "de graça recebestes, de graça dai" (Mt.10:8).

Já passou da hora de acabarmos com esta farra. O povo de Deus precisa acordar. Chega de alimentar a esta indústria religiosa famigerada. Abaixo à ostentação de líderes religiosos inescrupulosos!

"Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap.2:29). Ainda que Ele esteja usando pessoas de fora de nosso círculo. Ele já fez isso antes, inúmeras vezes, e não duvido que esteja fazendo agora mesmo através do papa Francisco, com seu exemplo de austeridade e simplicidade. 

Que nos voltemos para as periferias, dispostos a arregaçar as mangas e trabalhar lado a lado com a sua população para garantir um futuro mais justo às próximas gerações. E que esta reportagem da Revista de História da Biblioteca Nacional seja entendida como um puxão de orelha dado pelo próprio Deus naqueles que dizem falar em Seu nome.

Ed René Kivitz - Semente