domingo, 4 de maio de 2014

CULTO À IMAGEM.



Esse culto a imagem é o que mais faz separação entre nós e nós mesmos. 

O gap criado é sempre enfermiço, e trás consigo conseqüências devastaras para a alma. 

Assim, também cria-se o melhor ambiente psíquico para que todas as demais formas de distúrbios se instalem na interioridade humana, visto que uma espiritualidade da imagem, só tem olhos para os olhos dos outros; isto apenas para vermos como somos vistos; ou seja: para ver como os demais nos vêem. 

Desse modo, o interior é relegado ao plano da não-existência, e nessa “casa varrida e ornamentada” pelo culto à imagem, crescem todas as sombras e fantasmas—os mesmos que atormentam a alma de muitos na igreja. 

Somente quando compreendermos que nosso chamado psíquico é para a correspondência entre o interior e o exterior, é que começaremos a ter paz. 

Assim como no espelho a imagem corresponde ao rosto, assim também o exterior humano sempre deve corresponder ao interior. 

Ora, é aqui que o medo se instala, pois as pessoas sabem como são por dentro, tão cheias de rapinas e sentimentos invejosos e malignos. 

O que elas não sabem é que tais sentimentos cresceram justamente no abismo que o culto à imagem criou entre o Consciente e o Inconsciente. 

Desse modo, quanto mais culto ao exterior, mais rapina haverá no interior, e mais se temerá expor as verdades do coração, ou viver uma vida onde a cara espelhe a alma. 

Esta é a razão pela qual ficamos como um cão que nervosamente corre em círculos, tentando morder o próprio rabo. 

Paulo diz que tudo aquilo que se manifesta é luz. 

O equilíbrio do ser só acontece na luz, e mediante as coisas que se manifestam. 

Do contrário, quanto mais se pinta o sepulcro por fora, mas apodrecem os defuntos por dentro. 

A salvação da alma, como psique, está no encontro cada vez mais tranqüilo e límpido entre os ambientes externos e internos; assim como também na aproximação do mundo psíquico consciente daquele outro que nós muitas vezes nem conhecemos, mas que existe de fato, que é o inconsciente. 

Mas para que se experimente a paz do “meio” é preciso que o nervosismo dos movimentos bi-polares dê lugar à reconciliação entre os pólos. E isto só é passível de acontecer na Graça de Deus, quando reconciliados com Deus já não tememos quem somos, pois já sabemos pela fé como Deus nos vê para o nosso bem, visto que nos enxerga em Cristo; portanto, reconciliados e incluídos. 

Afinal, no meio cristão, os pólos representam extremos, estando de um lado a imagem externa de crente, e todas as suas morais; e de outro lado a aflição criada pela hipocrisia, e que sabe que os mundos exterior e interior estão esquizofrenizados, separados por um abismo imenso—daí o movimento de um pólo ao outro ser patrocinado pela paranóia, e pela neurose culposa. 

Tudo isto é muito triste. Afinal, Jesus veio ao mundo para que tudo isto desse lugar à paz. 

Todavia, enquanto formos patrocinados pelos senhores da imagem e da fachada, nossas almas continuarão nesse estado de angustia pendular; e a paz nos será apenas uma brisa quase imperceptível, e “sentida” de modo fugaz, quando na viagem para o outro pólo, passa-se de passagem por esse ponto do meio, onde, de fato, é o nosso lar.

Caio

Um Deus Operário e a "maldição" do trabalho


Por Hermes C. Fernandes


Hoje se celebra o Dia do Trabalho. E para muitos, não haveria melhor maneira de se comemorar do que tirando um dia de folga. Quem gostaria de passar o Dia do Trabalho trabalhando? Principalmente quando se tem a oportunidade de emendar num feriado prolongado... 

Fica a impressão de que trabalho seja um mal necessário, uma espécie de maldição. Daí, a ojeriza que temos pela segunda-feira e o anseio para que chegue logo a sexta-feira.  O sonho de muitos é ganhar na loteria para nunca mais ter que trabalhar. Consideramos bem-aventurado quem ganhe muito trabalhando pouco. 

Há até quem busque justificar tal postura com sua teologia. Estes entendem que o trabalho foi instituído por Deus como uma maldição decorrida do pecado. "Do suor do teu rosto comerás..." Ledo engano! Mesmo antes do episódio conhecido como Queda, Deus destacou o primeiro homem para que cultivasse o seu jardim. Portanto, o Jardim do Éden, ou jardim dos prazeres, também era o jardim do labor. Bem-aventurado é quem descobre no trabalho o prazer da vida. 

Se trabalho é maldição, logo, o Deus revelado em Cristo seria um deus amaldiçoado. Veja o testemunho dado por Jesus acerca de Seu Pai:
"Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também." João 5:17
O que torna o trabalho algo penoso ou prazeroso é o seu propósito. A pergunta que deveríamos nos fazer é: pelo que trabalhamos? Ironicamente, se trabalhamos visando unicamente nosso aprazimento, o trabalho se torna um tormento. Mas quando trabalhamos visando o bem comum e a glória de Deus, sentimo-nos realizados e plenamente satisfeitos pelo fruto de nosso labor. Em outras palavras, o que dignifica o trabalho é o amor. Isaías profetiza que Jesus "verá o fruto do trabalho de sua alma, e ficará satisfeito" (Is.53:11). E qual seria o tal fruto do Seu trabalho? A redenção da humanidade e a restauração de toda a criação. Portanto, o que motivou o Seu árduo trabalho foi o amor. 

Semelhantemente, o Pai trabalha visando o bem dos que ama. Como testifica o mesmo profeta Isaías, "desde a antiguidade não se ouviu, nem com os ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele esperar" (Is.64:4). Quem diria? O Deus dos cristãos é um Deus Operário. Ele trabalha até no turno da noite! "Aos seus amados, Ele dá enquanto dormem"(Sl.127:2b).

Sabemos que "em todo trabalho há proveito" (Pv.14:23), todavia, o trabalhador não deve ser o único a se beneficiar de seu labuto. Como discípulo do Pai e do Filho, impulsionado pelo Espírito, requer-se do verdadeiro cristão que "trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade" (Ef.4:28). 

Isso não quer dizer que não se possa usufruir dos frutos do próprio trabalho. Pelo contrário. A Escritura declara que "o lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos" (2 Tm.2:6), e que sem qualquer sentimento de culpa, "todo homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus" (Ec.3:13).

O que deveríamos considerar uma maldição é a ociosidade. Por isso, Cristo adverte aos Seus discípulos: "Negociai até que eu venha"(Lc.19:13). A palavra "negócio" é a junção de duas outras palavras: negar + ócio. Portanto, trabalhar é negociar, isto é, negar o ócio, descruzar os braços, buscar o que fazer. Pode até ser que falte emprego, mas jamais faltará trabalho. 

Quem se recusa a trabalhar, sente-se no direito de ser pesado aos demais. Desde os primórdios da igreja, alguns quiseram se aproveitar daquele clima de solidariedade em que todos repartiam entre si, e com isso, recusavam-se a trabalhar. Paulo teve que cortar um dobrado com esse espertalhões. A ordem apostólica era: "Se alguém não quer trabalhar, também não coma" (2 Ts.3:10).

Uma coisa é não trabalhar por razões contrárias à vontade, tais como falta de oportunidade, doença, injustiça, etc. Outra coisa é não querer trabalhar. Ninguém tem o direito de ser pesado aos demais. Paulo dá testemunho acerca da postura que ele mesmo adotou no afã de ser exemplo para os demais:
"Nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós." 2 Tessalonicenses 3:8
Outra coisa que Deus abomina é a exploração do trabalho alheio. Paulo dá eco ao princípio ensinado por Jesus: "O trabalhador é digno do seu salário" ( 1 Tm.5:18; Lc.10:7).

Assim como há quem queira receber sem trabalhar, também há que queira tirar vantagem do trabalho de outros. Há duas severas admoestação para os tais, uma extraída do Antigo e outra do Novo Testamento:

"Ai daquele que edifica a sua casa com iniquidade, e os seus aposentos com injustiça; que se serve do trabalho do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário." Jeremias 22:13 
"Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos Exércitos." Tiago 5:4 
Deus não viola Seus próprios princípios. Quem se atreve a burlá-los certamente terá consequência. Assim como queremos que nosso trabalho seja valorizado, recebendo o que for justo, devemos valorizar o trabalho dos outros, pagando-os de acordo com o que for justo e honesto.

No Reino de Deus, ninguém precisa perder para que outro ganhe. Onde impera a justiça, ali há paz. E onde houver paz, ali haverá alegria.

Feliz Dia do Trabalho a todos!