sábado, 15 de junho de 2013

Manifestações no Rio e em São Paulo: O desabrochar da primavera brasileira


Por Hermes C. Fernandes

Ontem várias cidades brasileiras foram cenário manifestações populares contra o aumento abusivo das passagens de ônibus. Engana-se quem pensa que elas só aconteceram no Rio e em São Paulo.

O protesto no Rio, convocado por estudantes nas redes sociais, começou por volta das 17h15 em frente à Igreja da Candelária, no centro. Cerca de três horas mais tarde, porém, passou a ser reprimido quando os manifestantes seguiram para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Às 20h40, os manifestantes se sentaram no cruzamento das avenidas Rio Branco e Presidente Vargas para bloquear o trânsito. Para dispersá-los, a Tropa de Choque da Política Militar lançou bombas de gás lacrimogêneo e recebeu como resposta flores jogadas por alguns dos presentes. Um grupo ateou fogo a pilhas de lixos e entulhos que estavam nas calçadas e policiais jogaram bombas de efeito moral. A abordagem truculenta da polícia nos remeteu aos tempos da ditadura militar. Sobrou até para jornalistas que cobriam o protesto.

Alguns tentaram ridicularizar o movimento, dizendo que não valia a pena lutar por míseros vinte centavos. Os grande veículos de comunicação anunciaram em tom jocoso. Qualquer um que visse as imagens do helicóptero da rede Globo sobrevoando a avenida Rio Branco no centro do Rio, diria que havia dezenas de milhares de pessoas. O jornal Nacional noticiou que eram apenas duas mil. O governador do Rio disse que tudo não passava de articulação política visando as eleições do próximo ano. 

Para uns, os manifestantes não passavam de baderneiros. Para outros, um bando de esquerdistas e anarquistas. Mas o que eu vi foi o despertar de um gigante, quiçá, semelhante ao que se levantou no mundo árabe recentemente, e que atendeu pela alcunha de "Primavera Árabe". 

Convém lembrar que, coincidentemente, o estopim do grande movimento pelos direitos civis nos EUA encabeçado por Martin Luther King, Jr. foi uma crise entre a população negra de uma cidade e as empresas de ônibus.

Como pregador das boas novas do reino, não posso deixar de me posicionar. E sinceramente, jamais me posicionaria ao lado dos poderosos, dos que oprimem a população, dos empresários de ônibus e dos governos corruptos e hipócritas que só lembram do povo em época de eleição.  Seria como se os discípulos de Jesus se posicionassem por Herodes, Pilatos ou mesmo por César. Prefiro estar ao lado dos oprimidos, dos explorados, que cansados saem às ruas em busca de justiça.  

Moisés era um príncipe no Egito. Criado na corte de Faraó, estava sendo preparado para ser seu possível sucessor. Mas quando deparou-se com um soldado egípcio espancando um escravo hebreu, o que ele fez? De que lado se colocou?

Os que se colocam a favor da ordem em detrimento da justiça, deveria atentar para a admoestação bíblica:
“Até quando defendereis os injustos, e tomareis partido ao lado dos ímpios? Defendei a causa do fraco e do órfão; protegei os direitos do pobre e do oprimido. Livrai o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios. Eles nada sabem, e nada entendem. Andam em trevas”.Salmos 82:2-5a
Quero ser contado entre os que bravamente resistiram ao sistema; gente do calibre de Bonhoeffer, Francisco de Assis, Lutero, e tantos outros, alguns dos quais pagaram com sua vida por se atreverem a colocar-se em favor dos fracos.

Vandalismo? Está falando sério? Já ouviu falar de um vândalo que há dois mil anos entrou num templo derrubando tudo? 

O que povo não pode é calar-se, aceitar passivamente o fardo que lhe tem sido imposto. 

Que estas manifestações sejam o desabrochar das flores anunciando a aproximação da primavera.

Entregando os sonhos a Deus - Ed René Kivitz

Ed René Kivitz - Virada