sábado, 3 de janeiro de 2015

Não há pressa na Eternidade



Por Hermes C. Fernandes

O homem moderno tem pressa. Não é à toa que um dos super-heróis mais populares desta geração é o Flash, capaz de correr e fazer outras tarefas numa velocidade extraordinária. Flash é inspirado no deus grego Hermes, incumbido de transmitir aos homens as mensagens de Zeus. Sua principal característica era a velocidade, representada por seus pés alados.

Com o avanço tecnológico, as distâncias foram encurtadas. O que antes parecia tão longe, agora ficou tão perto. Uma viagem que antes demoraria dias, agora é feita em poucas horas. A indústria aeroespacial prevê que em trinta anos produzirá um avião supersônico que alcançará dez vezes a velocidade do som, sendo capaz de dar a volta ao mundo em apenas duas horas. A pressa deixou de ser a inimiga da perfeição, pra ser aliada à eficiência. O mundo tornou-se, de fato, numa aldeia global. Encurtando as distâncias, o homem almeja remir o tempo. As notícias são veiculadas pela TV e pela Internet em tempo real. Satélites estrategicamente posicionados ao redor do globo possibilita a informação instantânea.

A pressa é tamanha em receber informações, que os canais especializados já exibem várias notícias de uma só vez. Enquanto o repórter nos fala de uma tragédia ocorrida na Ásia, no rodapé da TV temos informações sobre a cotação do dólar, a meteorologia, e etc.

Como bem sinalizou Frei Betto, “a arte cinematográfica nos introduziu em um novo conceito de tempo. Não mais o conceito linear, histórico, que perpassa a Bíblia e, também, as obras de Aleijadinho ou Sagarana, de Guimarães Rosa. No filme, predomina a simultaneidade. Suprimem-se as barreiras entre tempo e espaço. O tempo adquire caráter espacial e, o espaço, caráter temporal. No cinema, o olhar da câmara e do espectador passa, com toda a liberdade, do presente para o passado e, deste, para o futuro. Não há continuidade ininterrupta”. Apesar das duras críticas que ele faz acerca desse novo conceito de tempo, Frei Betto conclui que há “algo de positivo nessa simultaneidade, nesse aqui-e-agora que nos impõem como negação do tempo. É a busca da interioridade. Do tempo místico como tempo absoluto. Tempo síntese/supressão de todos os tempos. Eis que irrompe a eternidade - eterna idade. Pura fruição. Onde a vida é terna”.

Tanto a TV, quanto a Internet, e outras mídias modernas, com seu novo conceito de tempo, nos oferece uma pálida metáfora da consciência que obteremos na Eternidade.

O conhecimento nos será acessível, não por informações sucessivas, mas por revelação. A diferença entre informação e revelação é que a primeira é mediada por alguém, enquanto que a segunda nos é diretamente transmitida por Deus. Em Jeremias 31:34, Deus nos garante: “Não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu irmão dizendo: Conhecei ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior”. Teremos acesso irrestrito à Mente de Cristo (1 Co.2:16). Na verdade, já o temos hoje, entretanto, sofremos constantes interferências de nossa mente natural, o que produz algum tipo de “ruído”, e compromete a qualidade de nossa comunhão. Mas na Eternidade, em posse de um corpo glorificado, estaremos aptos a conhecer “as profundezas de Deus”, que nos serão reveladas pelo Espírito Santo (1 Co.2:10). Será como se substituíssemos a conexão de discagem de nosso computador, pela de banda larga. Estaremos sempre on-line com Deus.

Teremos um conhecimento panorâmico da realidade. Entenderemos onde as partes se encaixam na formação do Todo. E o mais importante: compreenderemos onde cada evento da vida encontra seu lugar na execução do supremo propósito.

Na Eternidade, todos os tesouros do conhecimento e da sabedoria, disponíveis em Cristo, nos serão acessíveis. Encontraremos respostas para as sete questões básicas: Quem, O quê, Por quê, Para quê, Onde, Quando e Como. O sujeito, o objeto, a razão, o propósito, o local, o tempo e o modo nos serão revelados.

Na Eternidade ouviremos a execução completa da Sinfonia da Vida, com todos os seus acordes, incluindo os graves, os agudos, e até mesmo os dissonantes.

Contemplaremos o grande mosaico da existência, e distinguiremos a figura que dele emergirá.
Por enquanto, o que vemos é o avesso daquilo que o Grande Artista está bordando. Mas lá veremos o outro lado, e apreciaremos estupefatos à Sua obra-prima.

A música nos oferece uma analogia interessante para o tipo de percepção de tempo que nossa consciência terá na Eternidade. Agostinho nos brinda com sua compreensão do tempo:

“Vou recitar um hino que aprendi de cor. Antes de principiar, a minha expectação estende-se a todo ele. Porém, logo que o começar, a minha memória dilata-se, colhendo tudo o que passa de expectação para o pretérito. A vida deste meu ato dividi-se em memória, por causa do que já recitei, e em expectação, por causa do que hei de recitar. A minha atenção está presente e por ela passa o que era futuro para se tornar pretérito. Quanto mais o hino se aproxima do fim, tanto mais a memória se alonga e a expectação se abrevia, até que esta fica totalmente consumida, quando a ação, já toda acabada, passar inteiramente para o domínio da memória”.[2]

Na Eternidade faremos uma síntese perfeita do tempo. Viveremos um “agora eterno”, síntese de sucessivos eventos.

A diferença entre a maneira como percebemos o tempo no “tempo”, e como o perceberemos na Eternidade é que, em nossa condição caída, nossa expectação quanto ao futuro vira ansiedade, nossa memória do passado produz saudade, e nossa experiência do presente é temor e angústia. Temos receio de que o que é bom termine. Queremos eternizar os momentos bons, e evitar os momentos desagradáveis. Não será assim na Eternidade. Não estaremos exprimidos entre a ansiedade, a saudade e a angústia. Nossa consciência, livre da corruptibilidade, processará a síntese perfeita. Nossa memória nos permitirá revisitar experiências maravilhosas que houvermos tido. Nossas lembranças serão tão perfeitas, que será como se revivêssemos tais experiências. Cada momento terá o peso de uma eternidade. Cada momento será como um degrau de uma grande escada espiralada. Dos andares superiores, pode-se ver perfeitamente os andares que já percorremos. Não perceberemos o tempo numa forma linear, mas espiralada, como são nossos genes, como são as galáxias.[3] O tempo, como o compreendemos agora, segue um padrão linear. É como uma linha esticada, com pontas nos dois extremos. Se quisermos ver o passado, temos que olhar para trás. O futuro se nos apresenta como algo que está à frente. Já na eternidade, perceberemos o tempo como um carretel de linha. Passado, presente e futuro estarão sempre “presentes” nesse carretel eterno, sobrepondo-se uns aos outros. O tempo se apresentará em forma de espiral, como o fio telefônico ou uma mola.

Não haverá evento algum do qual queiramos nos esquecer. Não haverá porão em nossa alma, para que nele lancemos nossas lembranças dolorosas. Mesmo as experiências ruins que tenhamos tido durante o tempo de nossa peregrinação, serão relembradas de um modo diferente. Isso porque as entenderemos em um contexto mais amplo. Constataremos a veracidade da promessa que diz que todas as coisas cooperam em conjunto para o bem daqueles que amam a Deus, e que foram chamados segundo o Seu propósito (Rm.8:28). Eis a palavra mágica: propósito.

Veremos não apenas os fatos isolados, mas as conexões entre eles. Tudo fará sentido. E isso resultará num tipo de louvor e adoração até então desconhecido. Nosso culto racional será plenamente consciente.

[1] "Algumas vezes me pergunto do porque de ter sido eu quem desenvolveu a teoria da relatividade. A razão, eu acho, é que um adulto normal nunca pára e pensa na questão do tempo e do espaço - essas coisas são pensadas quando criança. No entanto, meu desenvolvimento intelectual foi atrasado, o que me fez pensar sobre isso apenas quando mais velho." - Albert Einstein[2] Santo Agostinho LIVRO XI, 28 das Confissões.[3] O DNA tem a forma de espiral, e sua função transmitir informações acerca das características de cada indivíduo. As galáxias também possuem forma espiralada, e segundo recentes teorias, o Universo funciona como uma computador, processando informações.

Literatura Fundamental 58 - O Leopardo - Maria Betânia Amoroso

Literatura Fundamental 59 - A Ilustre casa de Ramirez - Helder Garmes

O futuro já aconteceu e o tempo é uma ilusão


Você sabia que há um lugar onde o tempo não passa igual para todos? E nenhum relógio marca a mesma hora? Pois saiba que ele existe. Nesse lugar tudo está congelado: passado, presente e futuro são a mesma coisa e tudo aconteceu ao mesmo tempo. Nesse lugar, tudo o que aconteceu desde o início do universo até seu fim existe ao mesmo tempo.

O que é futuro para você já está registrado na memória de outro alguém nesse lugar. Para você, seu filho não nasceu… mas para seu irmão, ele já tem dez anos. Ou seja, talvez você nem tenha resolvido se terá filhos ou não, mas você não tem escolha. Daqui a alguns anos, seu filho terá 20. Você já deve ter percebido que a liberdade de poder decidir é uma mera ilusão nesse universo. Podemos tanto decidir o que faremos amanhã quanto uma pedra.
Isso foi descoberto por um alemão em 1905 e inspirou várias teorias surpreendentes, de por no chinelo qualquer obra de ficção. O nome do tal descobridor era Albert Einstein e o lugar a quem nos referimos desde o início é o nosso próprio universo.
- A distinção entre passado, presente e futuro é só uma ilusão, ainda que persistente… – disse Einstein uma vez numa carta em 1955.
Mas não existe algo mais concreto que a passagem do tempo! Nascemos com a consciência de que as horas passam no mesmo ritmo para todas as pessoas, e que viajamos juntos para o futuro. Como isso pode ser uma ilusão?
Vamos complicar sua mente um pouquinho… Segundo Einstein, o tempo é um lugar, uma dimensão onde andamos até morrer. Enquanto você lê essa matéria, o tempo passa, não? Na verdade, você está cruzando o tempo num meio de transporte invisível nesse instante.
Se isso ainda não foi suficiente, saiba que esse meio de transporte é bem rápido, anda numa velocidade de 1,08 bilhão de km/h, a exata velocidade da luz. Einstein também afirmou que o tempo e o espaço são a mesma coisa, que na verdade é chamado de espaço-tempo.
Se você prestou atenção, temos um probleminha. Como você deve saber, nada pode viajar mais rápido que a luz. Mas você já está andando na velocidade da luz, então e se você se levantar agora e ir até a cozinha pegar um copo de água e andar a 5 km/h? Você está ultrapassando a velocidade da luz?
Não, essa velocidade sai de algum lugar, mais precisamente dos motores que empurram o tempo. Imagine que a velocidade do tempo é um banco. Ela empresta um pouco de sua velocidade para todas as coisas que se movem. Mas claro que isso tem um preço: faz seu relógio perder velocidade, ou seja, o tempo anda mais lentamente para você. Aí as coisas ficam mais interessantes…
Exemplo: imagine que esteja sentado em frente à seu computador, você está atravessando o tempo a 1,08 bilhão de km/h. Ou seja, 1 minuto irá passar em 1 minuto mesmo, nada demais. Mas aí em algum universo paralelo você ganhou na loteria e comprou um Bugatti Veryon e decidiu dar uma voltinha com ele à 180 km/h, por exemplo. Aí então você pega emprestado 180 km/h do banco do tempo, e o que acontece? Seu relógio anda mais devagar, seu tempo passa mais lentamente em relação à todos os que estão parados no momento. Um momento que durava exatos 60 segundos passa a durar 59,99999999999952 segundos. O carro está te acelerando, mas está freando seu relógio, entenda bem, o SEU relógio. Nada muda do lado de fora do carro. Após uma hora à 180 km/h, você viajou 0,0000000576 milésimo de segundo para o futuro. Insignificante, não?
Tanta complicação para chegar nisso? Infelizmente (ou não), as velocidades que vivenciamos no nosso cotidiano são extremamente pequenas, sendo insuficiente para realizar algum efeito notável sobre a passagem do tempo. Parece que o crédito de 1,08 bilhão é mais que suficiente…
Mas será que o banco do tempo pode entrar em falência?
Sim, quando a velocidade de um corpo é muito alta. Se uma nave andar a 1 bilhão de km/h, por exemplo, o banco estará quase falindo…
Exemplo: imagine que seu Bugatti pudesse viajar na mesma velocidade da nave. Há um bar na rodovia, e há alguém no bar. De repente, surge um ladrão, que está com uma arma na cara do sujeito. Aí você passa com seu Bugatti na rodovia à 1 bilhão de km/h. Em seu relógio, são 12h15, e quando você passar em frente ao bar não verá o sujeito sendo ameaçado pelo ladrão. Lembre-se que o tempo passou mais devagar para você que estava viajando à 1 bilhão de km/h. Enquanto seu relógio marca 12h15, o relógio do bar marca 12h30! Somente o seu tempo freou. Você viajou para o futuro.
Mas o que você vê em frente ao bar? Você verá algo que, para o homem que está com uma arma na fuça, não foi ainda decidido. O que temos? Um paradoxo. Você e o sujeito vivem o mesmo instante, um momento em que ambos chamam de agora. Mas para ele é futuro algo que já está fixado em sua memória, do seu passado.
A confusão toda ainda não acabou. De acordo com Einstein, enormes distâncias também distorcem a ideia de que haja um agora igual para todos. Ou seja, para alguém numa outra galáxia, o momento em que você lê esse artigo pode ser interpretada como um distante passado.
“A concepção dele sobre o que existe neste momento no Universo pode incluir coisas que parecem completamente abertas para nós, como o vencedor das eleições presidenciais dos EUA de 2100. Os candidatos ainda nem nasceram, mas na ideia dele sobre o que acontece exatamente agora já vai estar o primeiro presidente americano do século 22”, escreveu o físico Brian Greene, da Universidade Columbia, nos EUA, em seu livro The Fabric of the Cosmos (O Tecido do Cosmos).
Então o futuro já aconteceu…
Se essa afirmação é verdadeira, então obviamente não podemos escolher como será nosso dia de amanhã. No universo de Einstein e sua Teoria da Relatividade, não há liberdade de escolha. Tudo está escrito. Nossas escolhas já estão escritas no tecido da realidade.
Bom, já que nada podemos fazer para mudar o futuro, podemos pelo menos prevê-lo? Não. Nada pode computar mais rápido que o universo.
Sir Roger Penrose, da Universidade de Oxford e considerado o maior especialista em Relatividade do planeta, concorda: “Mesmo que o mundo seja completamente determinado, como diz a teoria, ele certamente não é computável”.
E você leitor, o que acha disso tudo? Toda a liberdade de escolha para você comentar abaixo. Ou não…

***

O sábio Salomão já tinha insights sobre isso: 

"O que foi, isso é o que há de ser, e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há novo debaixo do sol. Há alguma coisa do que se possa dizer: Vê, isso é novo: Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós (...) Sei que tudo o que Deus faz durará eternamente, nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar (...) O que é já foi, e o que há de ser também já foi..."Eclesiastes 1:9-10; 3:14a,15
Davi também expressa sua certeza de que os dias futuros já eram história no livro de Deus:

"Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando ainda não havia nem um deles." Salmos 139:16

Depois de séculos de bifurcação, aos poucos, fé e ciência vão se reaproximando, e, em breve, hão de formar um único rio de conhecimento.

Seria por isso que Jesus costumava dizer "vai chegar a hora, e já chegou"? 
Fonte: Blog de Hermes C. Fernandes