segunda-feira, 30 de junho de 2014

A gente não é feito pra acabar!

 


Por Hermes C. Fernandes
Durante estes dias de Copa do Mundo, o Brasil se transformou numa enorme caldeira cultural. Gente de todas as línguas e matizes culturais convivendo pacificamente nos mesmos espaços urbanos. Os mais curiosos se perguntarão: de onde vem tal variedade cultural? Ou ainda: de onde procede o fenômeno cultural? 
A vocação primordial do homem é a de cultivar a terra. O texto sagrado diz que o Criador tomou o homem a quem criara à sua imagem e semelhança e o pôs no Jardim do Éden, incumbindo-lhe de guardá-lo e cultivá-lo (Gênesis 2:15). Surgia aí a cultura. A própria etimologia da palavra encerra este significado. “Cultura”do latim colere, que significa cultivar. Portanto, a cultura surge a partir da dinâmica da interação do homem com o meio em que está inserido. A cultura, portanto, abrange toda a produção de conhecimento, crenças, arte, moral, lei, costumes e todos os hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade, e geralmente deixados para as gerações posteriores.
 A agricultura foi o ponto de partida desta interação entre o homem e o ambiente. Todavia, ela se intensificou à medida que o homem foi descobrindo novas demandas. Por exemplo, tomando a referência bíblica como base, quando se percebeu nu, o homem coseu folhas de parreira, uma das árvores que ele cultivava no jardim. Deus, entretanto, preparou-lhe uma vestimenta de pele de animal. Surgia, então, a espiritualidade, parte essencial da cultura humana.  A espiritualidade surge a partir da reflexão acerca da finitude da vida. Os antropólogos identificam a emergência da espiritualidade na raça humana com o tratamento dispensado aos mortos. Desde que começou a vislumbrar a possibilidade da vida após a morte, o homem passou a sepultar seus mortos de maneira reverente. Em vez de abandoná-los para serem devorados pelas feras, passou a enterrá-los em covas, acompanhado de flores e objetos de uso pessoal. A cultura, então, toma um rumo inusitado, pois não se resume à interação com o meio, mas também à resposta que se dá à existência, revestindo-a de sentido e significado. A vida deixa de ser vista como um acidente e passa a ser encarada como cheia de propósito. As folhas de parreira são substituídas por vestes feitas da pele de um animal sacrificado. Era a resposta do homem à inexorável sentença da morte: a gente não foi feito para acabar!
Duas cosmovisões começam a se digladiar entre si. Uma tem como arquétipo a figura de Caim, o primogênito de Adão. A outra, a figura de Abel, seu segundo filho. Caim, o agricultor, representa a fase em que a humanidade deu seus primeiros passos na composição de sua cultura. O que importava era a sobrevivência num mundo hostil, cheio de cardos e espinhos. Diferentemente da Adão, seu pai, que representa o estágio em que o homem vivia da coleta daquilo que encontrava. Abel, seu irmão, era pastor de ovelhas, e representa o desenvolvimento da prática pecuária. Neste estágio, o homem deixa de se preocupar exclusivamente com sua sobrevivência e passa a considerar assuntos relativos à transcendência. A interação entre as duas cosmovisões nem sempre foi amistosa. Todos  conhecemos o desfecho desta história. Caim mata Abel. Foragido, cabe a ele a construção da primeira cidade. Portanto, a civilização nasce daí, do conflito, da fuga e do desejo de estabelecer-se. Caim representa a humanidade que se assenta nos lugares férteis, geralmente próximos de grandes rios e ali edifica seus centros urbanos. Abel representa a humanidade em trânsito, nômade, hebreia, em busca do horizonte. Se esta aspiração houvesse terminado com Abel, talvez ainda estivéssemos às margens do Eufrates. Porém, Abel sai de cena e dá lugar a Sete, dando prosseguimento à saga daqueles que não têm cidade permanente, mas buscam a que se insinua no lugar onde nasce o sol, a cidade do futuro (Hb.13:14).
Desde então, a humanidade tem estado dividida entre dois grupos. Os que almejam a manutenção das coisas exatamente como são. E os que acenam para o futuro, desejando-o, não como repetição de uma história cíclica, mas como algo novo e inusitado. O primeiro grupo tende a produzir uma cultura estática, que valoriza, sobretudo, as tradições, sem ao menos contestá-las e colocá-las à prova. O segundo grupo tende a produzir uma cultura dinâmica, condenada a reformular-se constantemente. Para uns, a era áurea se encontra no passado. Para outros, o melhor ainda está por vir. Uns sonham voltar para o paraíso. Outros sonham com a Nova Jerusalém, arquétipo da civilização do reino de Deus. 
Para os que seguem o que chamo de paradigma caímico, a cultura se resume no que se produz para o próprio consumo. Para estes, a gente é feito pra acabar. Esta sentença nos persegue por toda a existência. Portanto, aproveitemos ao máximo o tempo de que dispomos. Mas para os que seguem o paradigma abélico, a cultura é o rastro que se deixa para os que virão depois. É a pista de que passamos por aqui. É a sinalização da estrada aberta e pavimentada pelos que nos antecederam. A cultura é, por assim dizer, o que restou de nós. Nossas paixões. Nossos sonhos. Nossos amores. Nossos temores. Tudo fica espalhado pela estrada na qual transitamos durante nossa peregrinação existencial, indicando aos que virão qual o melhor caminho a seguir e qual deve ser igualmente evitado.


domingo, 29 de junho de 2014

To Live In The 1920's

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Fábio Alexandrelli entrevista o Filósofo Paulo Ghiraldelli (Nietzsche)

Debate Sobre Maquiavel no Loucuras Filosóficas do Alexandrelli - JustTV ...

EVIDÊNCIAS DE VÍCIO MENTAL

 


Uma das marcas de saúde mental de uma pessoa é a sua capacidade de variedade de temas, interesses, assuntos e uma abertura total para tudo que seja humano e vida. Portanto, a maior marca de saúde mental é a alegria de ser, amar, conhecer, e participar da vida, fazendo isso com amor e bom senso; e sem medo da dor, especialmente da dor do amor.

Uma pessoa fixada num tema só, por mais que chame aquilo de “meu amor e minha paixão” ou, em certos casos, de “minha vocação”, ou de “minha obrigação”, se, todavia, se fixa naquilo como coisa única, e por tal fixação torna-se juiz de quem não tem o mesmo interesse ou não o tem na mesma intensidade ou, ainda, que manifeste outros interesses e prioridades, demonstra, por tal atitude de juízo fundado em sua própria fixação, que se fez vítima de um vício mental dos mais perigosos e também, por certo, dos mais capazes de reduzir a mente e a existência de uma pessoa a uma espécie de tara temático-existencial.

Quando uma pessoa se fixa num único tema na vida —seja pela via de um trauma, seja pela força de desejos reprimidos e transformados em “causa de vida”—, por tal fixação, evidencia o fato de que sua mente está viciada.

A questão é que vícios mentais não são apenas coisas que permanecem na psique da pessoa. De fato, quando não se trata de um problema congênito ou hereditário na área mental, em geral o que acontece é que quando a alma se entrega um certo modo de sentir — seja em brigas domésticas, seja uma relação viciada na tragédia e no desamor, seja um poderoso condicionamento de natureza sexual, seja a fuga de intimidade, seja o ódio, seja a amargura, etc —, o que acontece é que a presença contínua desse “sentir”, demanda do cérebro certas liberações químicas que façam “compensação” frente ao stress ou frente à hiperexcitação ou às oscilações ou a qualquer coisa que caracterize um modo de sentir intenso. E tais “descargas” químicas de compensação acabam por se tornarem programas cerebrais que passam a operar por conta própria; e, agora, invertendo a ordem, ou seja: já não necessariamente sendo a psique exigindo participação do cérebro, mas o contrário: o cérebro, agindo de modo condicionado, descarrega o que antes era um “socorro” para uma situação vivida como experiência emocional, a qual, agora, passa a ser demandada pelo cérebro, o qual exige aquele comportamento compatível com a liberação química em curso.

Vícios mentais, portanto, são como uma cobra que se alimenta do próprio rabo!

O problema é: onde está a mente sadia?

Para mim Jesus é o exemplo da mente mais sadia possível, e, portanto, aberta a tudo e todos; exatamente como Deus, que manifesta Seus interesses e variedades temáticas na multiformidade da criação.

Jesus mostra interesse pela variedade da vida assim como Seu Pai foi variado e extravagante em tudo o que criou. Sim, porque até as maiores sutilezas da criação estão carregadas de extravagância divina.

Jesus foi um carpinteiro por profissão, e nunca chegou a ficar nem de longe velho, tendo morrido jovem. Entretanto, já menino, no templo, chocava os mestres com suas questões e interesses acerca de coisas elevadas, porém, no lugar certo e com as pessoas certas. Nunca estudou, mas lia. Nunca plantou, mas observava o trabalho do agricultor. Nunca escreveu, mas sabia qual era a presunção de um copista do sagrado. Nunca namorou, mas sabia como ser carinhoso com as mulheres. Nunca teve ovelhas, mas sabia, pela observação, como um verdadeiro pastor se portava. Nunca foi casado, mas sabia como uma dona de casa ficava feliz quando achava algo precioso que se havia perdido. Nunca foi pai, nunca foi pródigo, nunca foi um irmão ciumento, mas sabia como todos os três personagens se sentiam em cada situação. Nunca foi desonesto, mas sabia como um administrador infiel se sentia quando apanhado em flagrante. E, assim, Ele demonstra também como um pai de família deve se comportar se um ladrão se aproximar. Sabe que a pobreza é crônica na terra; conhece o modo como os políticos dominam sobre os povos; sabe o que sente uma mulher dando à luz um filho. E não evita a emoção do choro, da dor, da tristeza, da alegria, do suor de sangue, do vinho melhor, do medo da cruz, e da oração para ter força para não morrer fora dela; e vive cada coisa, cada dia, não se deixando escravizar por nenhum tipo de aflição ou preocupação.

Sim, Jesus tinha a mente mais despreocupada do mundo, ao mesmo tempo em que era a mais responsável da Terra.

Sobretudo, além de ser pela variedade de Seus interesses, indo de crianças a velhinhas, vê-se Sua saúde mental na Sua total vitória sobre a ansiedade. Ele faz gestão leve até da hora da morte. “Não é a hora”, diz Ele. Até o dia em que Ele diz: “Chegou a Hora”. E Sua despedida de Seus amigos e discípulos não poderia ter sido mais própria, mais grave e, ao mesmo tempo, mais esperançosa; mais verdadeira e também protetora das limitações de percepção deles.

Assim, aprendendo com Jesus, busque interessar sua mente por tudo, sempre apenas retendo o que é bom. E se você perceber que se irrita com qualquer coisa que não seja o seu “tema”, preste atenção, pois já é forte sinal de que a sua mente e cérebro estão viciados ou se viciando. E isso não é brincadeira. É pior do que qualquer outro vício.

Pense nisso!



Caio

quinta-feira, 26 de junho de 2014

René Descartes em debate no Loucuras Filosóficas do Alexandrelli - 26/11...

Jesus é muito melhor do que nos contaram

 


Por Hermes C. Fernandes

Jesus é muito melhor do que nos contaram. Reconhecemos Sua inegável sabedoria, bem como Sua misericórdia ímpar, que O levavam a arguir doutores da lei com a mesma destreza com que atendia ao clamor de um párea da sociedade.

Todavia, o que mais me faz saltar os olhos é a maneira como Ele é capaz de enxergar bondade em quem todos só viam vilania. Atender ao pedido de um centurião romano, representante da força invasora, já era um insulto aos Seus patrícios. Mas elogiar sua fé, a ponto de afirmar jamais ter visto igual nem mesmo entre os mais fervorosos judeus, já era demais.  E o que dizer da vez em que concordou publicamente com um escriba por haver identificado em sua fala sinceridade e verdade? Não estaria Ele dando corda a um integrante de um dos grupos que mais lhe fizeram oposição?

E que tal introduzir um Samaritano em Sua parábola, não como vilão ou figurante, mas como mocinho? Logo um samaritano? Aquela gente considerada asquerosa!

Para Jesus, pouco importava se estava do Seu lado ou do lado oposto. Onde quer que a verdade e o amor fossem encontrados, Ele fazia questão de ressaltar sem o menor pudor. Mas também não hesitava em admoestar um dos Seus mais chegados discípulos, quando sua fala ou comportamente não condiziam com a verdade em amor. 

A bondade de Jesus era tão grande que não negou atender nem o inusitado pedido de uma legião de demônios. Quão escandalizador seria isso caso o levássemos a sério. Preferimos acreditar que aquilo foi apenas uma exibição de poder e uma demonstração do que os demônios são capazes. Pobres porcos!

Nem mesmo o meliante crucificado ao Seu lado foi poupado de Sua bondade. Dizem até que o paraíso foi inaugurado por ele, que adentrou-o de mãos dadas com o Salvador dos homens. 

Jesus jamais subestimou ninguém. Todos eram tratados com o devido respeito e gentileza. Meretrizes, mendigos, cobradores de impostos corruptos, traidores da pátria, e até religiosos hipócritas que o procuravam na calada da noite, eram acolhidos como seres humanos, portadores de uma dignidade intrínseca. Por mais moralmente deformado que estivesse, o mestre galileu era capaz de enxergar os resquícios dos traços fisionômicos do Pai Celestial. Em vez de ressaltar o que havia de pior nas pessoas, Ele preferia extrair delas o que tinham de melhor. Seu discurso não destilava ódio, rancor, nojo, mas os sentimentos mais nobres que poderiam habitar o coração humano. Jamais fez piadinha da condição de ninguém, nem ridicularizou quem quer fosse. Antes, encorajava-os a acreditar no maravilhoso destino que o Pai Celestial lhes havia provido.

Em vez de sair em defesa própria, como muitos de nós fariam sem titubear, Ele era a voz dos indefesos e oprimidos.

Caso Se preocupasse com Sua própria imagem, certamente não aceitaria a companhia de gente de vida pregressa duvidosa e reputação maculada. Ele não estava nem aí...

Ria quando tinha que rir. Chorava quando tinha que chorar. Comovia-se com o sofrimento humano, a ponto de sublimar o Seu. Não Se deixava impressionar pelos louvores de quem, no fundo, queria pressioná-lo a romper com Sua agenda e submeter-se a outros interesses. O único louvor que o enternecia era o das crianças, sem segundas e terceiras intenções.

Quanto mais medito acerca d’Ele, mais O admiro e sinto-me compelido a adorá-lo e submeter-me às demandas de Sua revolucionária mensagem. Somente um Deus saberia ser tão humano.

Que diferença entre este Jesus e aquele forjado pela indústria religiosa, garoto propaganda de impérios, ícone de moralismos anacrônicos. De fato, como Ele mesmo nos advertiu, não é possível servir a dois senhores. Ou servimos ao Cristo que emerge das páginas dos evangelhos, ou nos submetemos à figura insólita a quem nos acostumamos a chamar de Cristo, mas que está na posição oposto à d’Ele. Eu, particularmente, optei pelo primeiro. O outro que me esqueça.

E quanto aos que não admitem que Jesus pudesse ser tão bom, que ouçam de Sua própria boca: "Porventura vês com maus olhos que eu seja bom?" (Mt.20:15b).


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Quando a vaia é um sinal dos céus

 



Por Hermes C. Fernandes

Já era de se esperar que a presidente Dilma fosse vaiada durante a abertura oficial da Copa do Mundo. Eu diria que aquele foi o seu batismo de fogo. Semelhante ao vivido por Lula em pleno Maracanã durante os Jogos Pan-americanos. 

Creio que exercer qualquer cargo político numa democracia demanda que estejamos preparados para qualquer tipo de reação popular. E, sinceramente, prefiro isso à censura. Todavia, penso que deveríamos ser mais civilizados. Bastava uma boa vaia e ponto. Não havia a necessidade de xingá-la daquela maneira, posto que ela seja a maior autoridade do país. Se ficou feio para ela, ficou bem pior para nós diante da audiência mundial. Demonstramos ser um povo deseducado, capaz de impropérios como aquele até diante dos nossos próprios filhos.

Apesar de xingada, Dilma segue liderando as pesquisas de opinião. Julgo que agiu bem em não retrucar na hora. Experiente, ela sabe que o povo é instável em suas opiniões. O mesmo povo que recebeu Jesus com mantos e palmas e gritos de Hosana, no dia seguinte, instigado pelos sacerdotes e membros do sinédrio, gritava no pátio de Pilatos: "Crucifica-o!" Não duvido que muitos que a vaiaram e xingaram, votarão nela nas próximas eleições. A turba age pela emoção do momento. 

Creio que é hora de Dilma fazer um balanço honesto de seu governo. Não creio que a vaia só partiu da "elite branca". Ainda que o estádio estivesse lotado de gente beneficiada pelo bolsa família, duvido muito que ela não saisse igualmente vilipendiada. 

Nem mesmo Davi, o mais importante monarca de Israel, escapou de ser hostilizado por seu próprio povo. Durante sua fuga de Jerusalém quando seu filho Absalão conspirava para tomar-lhe o trono, um homem da linhagem de Saul, cujonome era Simei, aproveitou-se do momento para sair ao seu encontro, amaldiçoando-o e atirando-lhe pedras. Sobrou até para os servos de Davi. Um dos seus homens sugeriu uma reação forte contra Simei e até ameçou arrancar-lhe a cabeça, pelo que Davi respondeu: Se meu próprio filho procura tirar-me a vida, que dirá este homem que pertence a mesma linhagem de Saul. Deixem que ele me amaldiçoe à vontade, pois isso vem do Senhor (2 Sm.19:5-12).

Outro teria dito que isso viria do diabo... Mas Davi, homem segundo o coração de Deus, sabia que nada escapava do Seu controle. Mesmo o descontentamento da turba poderia resultar numa guinada em seu reinado. 

Se Dilma souber aproveitar este momento para reavaliar sua política, quem sabe seu governo sofra também uma guinada positiva?

Apesar de ter sido duravamente vaiado no Maracanã, o fato é que Lula conseguiu fazer sua sucessora. Isso é ou não é dar a volta por cima? Concordemos ou não com sua maneira de governar, é inegável sua popularidade sem precedentes na história recente do país. 

Não sou eleitor de Dilma, mas torço para que ela acerte. Não tenho qualquer comprometimento ideológico/partidário. Só quero ver meu país e meu povo prosperando. 

O descontentamento popular é um sinal dos céus para qualquer governante. Mesmo não concordando com o xingamento em si, creio que Dilma poderá encará-lo como um desafio. Brizola já dizia que ninguém é totalmente aceito sem que antes seja totalmente rejeitado.

O texto sugere que Simei passou todo o tempo acompanhando a caravana de Davi, amaldiçoando-o e apedrejando-o. Bastava um sinal por parte do rei, e sua cabeça voaria longe. Mas o rei preferiu sofrer calado.

Depois que Absalão foi derrotado, Davi fez o caminho inverso, e retornando a Jerusalém, reassumiu o trono. Enquanto caminhava em direção a Jerusalém, o povo saiu-lhe novamente ao encontro. Só que agora a situação era bem diferente. Em vez de tristeza, havia alegria no ar, ainda que o coração de Davi estivesse em profundo luto pela morte de seu filho amado. Era chegada a hora do acerto de contas. Aquele mesmo Simei que acompanhou a caravana de Davi, apedrejando-o e amaldiçoando-o, agora saiu novamente ao seu encontro.

Simei tomou a frente de todos, prostrou-se diante do rei, e lhe disse: “Não me imputes, senhor, a minha culpa, e não te lembres do que tão perversamente fez teu servo, no dia em que o rei meu senhor saiu de Jerusalém. Não o conserves, ó rei, no coração. Pois eu, teu servo, deveras confesso que pequei, mas hoje SOU O PRIMEIRO, de toda a casa de José, a descer ao encontro do rei meu senhor” (vv.19-20).

Como disse anteriormente, o povo costuma ser instável, tanto para o bem, quanto para o mal. Quem hoje nos critica, amanhã nos elogiará. Quem hoje nos elogia, amanhã nos xingará. A vida pública se parece com uma montanha russa, cheia de altos e baixos. O que não se pode é perder o foco, o propósito.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

A Ascensão de Cristo e o lançamento secreto da NASA

Na última quinta-feira, dia 22 de Abril, eu e minha família fomos surpreendidos ao flagrarmos o lançamento de uma nave espacial secreta do governo americano. Estávamos saindo de casa às 19:50h. quando vimos no horizonte aquela explosão de luz. Outro vizinhos saíram pra rua para assistir ao espetáculo. Por se tratar de uma missão secreta, só foi divulgada pela mídia depois do lançamento. Sem saber do que se tratava, fiquei boquiaberto. Só deu para perceber que era um foguete depois que o brilho ofuscante diminuiu, deixando um enorme rastro de fumaça no céu. Consegui acompanhar com os olhos até que o foguete soltou-se da nave, divindindo-se em várias partes.

Um espetáculo ímpar, confesso, e que muito me impressionou. Sempre quis assistir ao lançamento de um foguete. Mas nas duas vezes que fui ao Cabo Canaveral, a primeira em 1991 e a segunda no final do ano passado, não era dia de lançamento. Mas nesta quinta, aconteceu acidentalmente. Assisti praticamente do quintal da minha casa.
Passei o resto do final de semana meditando sobre como deve ter sido para os discípulos assistirem à ascensão de Jesus. Imagine: Jesus estava conversando naturalmente com eles, e sem qualquer aviso prévio, uma nuvem desce do céu (pelo menos é assim que eles descreveram o fenômeno), encobre Jesus e O eleva ao céu. Sem adeus, sem nem ao menos um aceno. Os discípulos só souberam o que estava ocorrendo quando dois seres misteriosos, trajando roupas brancas, apareceram entre eles afirmando que da maneira como Jesus subia, Ele um dia retornaria, só que dessa vez, não mais à vista de um grupo, mas à vista de toda a humanidade.

Há muitas especulações sobre a tal missão americana no espaço. O que aquele protótipo estaria fazendo lá em cima?

O X-37B, que parece um ônibus espacial em tamanho reduzido, e sem tripulação, foi lançado do Cabo Canaveral, no Estado americano da Flórida. Com 9 metros de comprimento, 4,5 metros de envergadura, a nave reutilizável tem cerca de um quarto do tamanho dos ônibus espaciais. O veículo militar não tem piloto e realizará a primeira volta à Terra e aterrissagem autônomas da história do programa espacial norte-americano. Especulações sobre os objetivos da nave levaram a acusações de que o projeto seria mais um passo para a militarização do espaço.

E quanto a Jesus? Sabemos qual foi Sua missão ao descer à Terra. Mas qual seria Sua missão ao subir aos céus? Seria TOP SECRET como a missão deste foguete lançado pela NASA na última semana?

Deixemos que Paulo nos responda:

“Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas”
(Ef.4:10).

Pra onde Jesus teria ido? Para algum outro planeta? Não! Para algum lugar distante do espaço sideral? Não! Nas palavras do apóstolo, Jesus “subiu acima de todos os céus”. Primeiro, temos que entender que Paulo usa uma referência espacial (acima), porque do ponto de vista humano, qualquer lugar que esteja fora do nosso campo de visão, é como se estivesse “acima”. Mas quando se sai da órbe terrestre, não há mais “acima” nem “abaixo”. Pergunte a um astronauta em órbita o que é sentir-se no meio do nada. Dependendo da posição da nave, pode-se dizer que a terra está abaixo deles, ou ao lado, ou mesmo acima. Tudo depende da posição de que se vê.

Jesus subir acima de todos os céus significa ser transferido à um lugar que transcende a existência do cosmos. Onde quer que o Universo termine, Jesus extrapolou seus limites, transpôs suas fronteiras. E ao atravessar as chancelas do tempo e do espaço, Jesus simplesmente abarcou em Si mesmo toda a realidade.

Paulo diz que Cristo tinha que subir acima de todos os céus para “cumprir todas as coisas”. Ora, se Ele terminou Sua obra na cruz dizendo que estava tudo “consumado” (cumprido), que outra obra Ele teria que cumprir “do outro lado”?

O verbo grego traduzido aqui como “cumprir” é plēroō, que poderia ser melhor traduzido como “encher”, ou ainda “plenificar”.

Jesus foi elevado a um nível de existência em que cada molécula do Seu Corpo físico assimilou em si mesma todas as estrelas do cosmos. Tudo o que é cósmico tornou-se agora crístico. O Universo foi absorvido n’Ele. Por isso, não há um centímetro quadrado sequer neste imenso universo que não esteja tomado pela glória de Deus. Talvez Paulo tivesse isso em mente ao declarar aos atenienses que “nele vivemos, e nos movemos e existimos” (At.17:28). Mas certamente era o que ele tinha em mente quando declarou que "foi do agrado do Pai que toda a plenitude (da existência) nele habitasse" (Col.1:19).

O Universo tornou-se nas vestes do Senhor, transfiguradas pela glória n'Ele revelada, como aconteceu no Monte da Transfiguração. Tal evento foi o avant premier do que acontecerá a todo o cosmos. O escritor sagrado sugere esta mesma figura de linguagem ao afirmar: "Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles, como roupa, envelhecerão. Qual um manto os enrolarás; como roupa se mudarão..." (Hb.1:10-12a). Ao ser tomado pela glória do Criador, a velha criação se transmuta, tornando-se "novos céus e nova terra". Davi previu isso ao declarar: "Estás vestido de glória e de majestade. Ele se cobre de luz como de um vestido, estende os céus como uma cortina" (Sl.104:1b-2). A Criação deixou de ser o lugar onde Ele Se esconde, para ser a plataforma de onde Ele Se revela. O Universo é o palco, a consciência é a platéia. O Espírito Santo é o Holofote. Em Cristo as cortinas se abrem, e Deus Se desnuda ante os nossos olhos.
A questão agora não é “onde encontrá-lO?”, e sim “onde não encontrá-lO?” Ele encheu todas as coisas! Foi por isso que Ele teve que ser elevado acima de todos os céus.

Ao contemplarmos o esplendor de uma noite estrelada, estamos, por assim dizer, contemplando o tecido que envolve o Corpo de Cristo, o genuíno manto sagrado. Ora, se Paulo compara nosso corpo físico às vestes, podemos dizer que o Universo seria o Corpo cósmico de Cristo, conquanto seja também Suas vestes (2 Co.5:3).

Se na Encarnação Ele assumiu um corpo gerado no ventre de uma mulher, na Ascensão Ele assumiu toda a Criação, elevando-a juntamente com Ele.
“E sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche tudo em todos (…) estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus” (Ef.1:22-23, 2:5-6).
Esta é uma verdade surpreendente. Se o Universo é o Corpo Cósmico de Cristo, suprindo-O de moléculas (matéria inanimada), a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, sumprindo-O de células vivas e conscientes. Somos o Organismo Vivo de Cristo, e é através de nós que Ele Se expressa no Mundo. Somos Seus ouvidos, olhos, boca, mãos e pés. E é através de nós que Ele almeja afetar todas as consciências, para que assim cada membro da humanidade torne-se também membro do Seu Corpo Místico. A igreja nada mais é do que o embrião da nova humanidade, formada por homens e mulheres escolhidos por Deus cujas consciências foram absorvidas pelo mistério da fé. Atenção: nossa eleição não é um fim em si mesmo. De fato, os “poucos escolhidos” o foram para o bem de todos.
Se Cristo não houvesse ascendido aos céus, jamais poderia fixar residência em nós pelo Seu Espírito. Ele mesmo declarou que se não fosse tirado do mundo, o Consolador não poderia vir. Se antes era Emanuel, Deus conosco, agora é CRISTO EM NÓS. Por intermédio da igreja, Sua missão é compartilhar a consciência do Seu reino à cada ser humano na face da terra, “para que Deus seja tudo em todos” (1 Co. 15:28).
Fonte: Tirei do blog do meu Amigo Hermes C.Fernandes

quarta-feira, 18 de junho de 2014

GERAÇÃO ALGODÃO DOCE!

 


Conversava com minha mãe hoje cedo, quando ela me disse algo que eu sempre senti e quase nunca expressei, a saber: que as pessoas de antes, no tempo dela, e, também, no tempo quando nasci, ficavam velhas bem cedo.

Ela falava de uma amiga dela, velha jovem de alma e corpo, que, aos 79 anos, andava serelepe com minha mãe e a filha, esta, grande amiga de minha mãe, quando, sem mal algum, com a pressão de criança, com tudo em cima, amanheceu morta diante da televisão, levada por um súbito ataque cardíaco.

Eis o que mamãe disse depois de muito falarmos sobre a querida amiga dela:

Antigamente as pessoas ficavam velhas com cinqüenta anos. Aos sessenta se era idoso. Conheci sua avó Zezé quando ela tinha 50 anos. Morreu aos 79, mas já era muito velha desde cedo. Eu tenho 81 e me sinto jovem. O problema é o corpo. Mas se não fosse isso, eu estaria muito jovem ainda”.

Então lembrei das filhas da minha avó paterna, minhas tias queridas. Todas envelheceram sem ficar velhas também. Quase todas enviuvaram, mas não se enterraram com seus maridos. Deram-se aos filhos e netos.

Muitas vezes me parece que a geração de papai e mamãe foi melhor do que a minha e do que a de seus pais.

Recordei ainda que quando eu era menino as pessoas morriam por muitas razões. Quase tudo matava. A idade média do amazonense nos anos 50 era de pouco mais de trinta anos de idade. Hoje a idade média no Amazonas beira os 70 anos.

Um jovem de trinta anos hoje, que muitas vezes não casou e não saiu de casa, ainda que trabalhe, sente-se um menino, enquanto, a mesma pessoa, 50 anos antes, sentir-se-ia esmagado por responsabilidades, e preocupava-se com a aposentadoria mais do que com lazer, viagens ou aquisições.

É uma pena que tal “longevidade” não se faça acompanhar do carnegão que antes existia nas pessoas.

Hoje todos são muito fracos e imaturos. As exceções, em geral, acontecem apenas entre os mais pobres. No entanto, falando do todo, o que se tem é que esta geração é fraca.

Sim! Sabem muita coisa, mas são insensatos. Fazem muitas coisas, mas realizam quase nada. Pensam em dinheiro, depois em ter filhos. Antes se pensava em ter filhos, e, então, se corria atrás do dinheiro. Se houvesse alguma separação conjugal, coisa muito rara, a mulher e os filhos tinham prioridade em tudo. Não era uma questão de leis, mas de honradez. Hoje se discute na justiça. Têm-se leis, mas não se tem humanidade.

Antes os filhos tinham prazer em ajudar os pais, mesmo que eles nada precisassem. Era uma honra, um privilégio. Hoje, os filhos se penduram nos pais e se fazem de crianças debiloides até quando seja possível.

O que se tem cada vez mais hoje é uma geração de longevos idiotados e musculosos, mas sem tutano no ser, sem perseverança, sem alegria não-estimulada, sem um olhar limpo; antes, sempre angustiado, sempre sôfrego, sempre afetivamente carente, sempre quase em depressão, sempre correndo, sempre sem tempo, sempre eles, quase ninguém mais.

Mas, como disse antes, vejo que a minha geração é mais fraca de caráter e disposição do que a de meu pai.

Meu pai, todavia, é uma exceção. Até aos oito anos de idade ele se arrastava pelo chão, pois, com 1 ano, teve paralisia infantil e perdeu os movimento da perna direita. Tudo para ele era muito difícil. Mas brincava. Jogava bola no gol ou na defesa. Fazia barra e se exercitava muito com os braços. Ficou muito forte e musculoso. Amava ver os outros divertirem-se. Seu maior lazer, no entanto, era a leitura. Aos 18 foi incumbido pelo pai, que morria lentamente, de cuidar dos negócios da família, pois, os demais irmãos homens estavam estudando fora do Amazonas. Viajava 15 dias de ida e 15 de volta. Às vezes ficava semanas na beira de um rio esperando o batelão chegar para resgatar a borracha e a castanha. Sem uma alma a milhas de distancia. Sozinho. Com chuva. Muita chuva e mosquito carapanã. Queixadas, porcos do mato, o cercavam querendo comer a castanha. Ele os enxotava noites e noites a fio. Cursou todo o curso de Direito passando suas férias no Seringal. Namorou por carta durante quase dois anos. Aprendeu a esperar, a ficar só, a aguardar as estações.

Eu, de minha parte, só vi televisão aos 10 anos de idade, mas, nunca mais fui o mesmo. Até aos 18 foi uma loucura só. Embora, aos dezoito, ao me converter, da noite para o dia tenha virado homem. E foi assim desde então. Mas, estou longe de ter aprendido a paciência natural que norteava meu pai. Hoje busco crescer nas coisas que nele pareciam parte de tudo.

Quanto mais facilidades, mais fragilidades!

Quanto mais expectativa de longevidade, mais retardo!

Quanto mais instantaneidade, mais impaciência!

Quanto mais cellular, menos tutano!

Quanto mais computador, mais com puta dor!

Quanto mais fora, menos dentro!

Sempre foi assim. Hoje, porém, tais coisas são ambições de todos, e, assim, essa é a fraqueza geral.


O que fazer?

Impor dificuldades a fim de obter bons resultados?

Não! Pais têm que ajudar os filhos sempre, mas sem que a ajuda os retarde.

E mais:

Se você é desta geração virtual, sem mangueira no fundo do quintal, então, salve-se disso buscando saber que um homem é homem quando nasce, e que a fase de menino deve começar a acabar com os sinais de maturação do corpo.

Antigamente a relação entre maturidade física e psicológica era natural. Hoje o homem de 35 anos já tem fios brancos no cabelo, mas vive como um eterno adolescente na idade.

As mulheres casam tão tarde que não raramente precisam de ajuda médica para escolher um bom óvulo. Antes elas tinham filhos um pouco depois de fisicamente os poderem ter, e, também, os tinham com facilidade, e os criavam com alegria. Era um privilegio.

Para mim, no entanto, nessa área, o que há de mais feio é uma velha assanhada e sem noção.

Sim! Velhinhas que não querem ser chamadas de avó, pois, depõem contra. Velhinhas que escondem a idade. Velhinhas que não podem ver um homem. Velhinhas sem amor. E velhinhos também. Tudo igual para quem sente. Mas para quem vê, parece que na mulher além de ridículo, é ainda um perder da própria natureza.

Para alguém pode parecer apenas um falar careta. Mas creia, não é. E, além disso, também não é um falar de alguém com saudade de nada, a não ser do bem de ser bem humano, e que hoje se torna algo cada vez mais raro.

Digo o que digo visando a busca de força e saúde para a alma, pois, os dias adiante de nós serão dias muito maus, e não serão próprios para esta Geração Algodão Doce.

O ideal é que se seja longevo, resistente psicologicamente, e maduro conforme a idade cronológica. E mais ainda: que, sendo assim, sejamos também dotados de alegria séria e de séria alegria, como era com eles, os que hoje já nos são apenas grata memória.



Caio



terça-feira, 17 de junho de 2014

O mundo secreto do inconsciente

 


Quando tinha pouco mais de cinquenta anos, o médico africano T.N. sofreu dois derrames cerebrais devastadores. Eles destruíram totalmente seu córtex visual, a região do cérebro que nos permite enxergar. T.N. ficou completa e irremediavelmente cego. Mas, ainda no hospital, um grupo de cientistas ingleses decidiu recrutá-lo para um estudo estranho. Colocaram um laptop na frente de T.N. e pediram a ele que identificasse qual figura aparecia na tela, que poderia ser um círculo ou um quadrado. O homem identificou corretamente 50% das figuras - o que é de se esperar num cego, pois esse índice de acerto é o mesmo que se consegue fazendo escolhas aleatoriamente. T.N. estava apenas chutando. Mas aí, num segundo teste, os pesquisadores trocaram as imagens exibidas no laptop. Agora, aparecia uma sequência de rostos, alguns amigáveis e outros hostis. T.N. deveria dizer se cada face era amiga ou inimiga. Para perplexidade geral, ele identificou corretamente dois terços dos rostos. Sorte? Os cientistas repetiram o teste, mas o índice de acerto se mantinha. T.N. estava tendo alguma reação aos rostos. Ele dizia que não estava vendo nada - e, clinicamente, de fato era impossível que enxergasse. Como explicar isso, então? Um fenômeno sobrenatural? Não.

Ser capaz de ler expressões faciais é uma habilidade extremamente importante. Para o homem das cavernas, saber se um indivíduo era amistoso ou hostil poderia significar a diferença entre a vida e a morte. E era preciso fazer isso no ato; não dava tempo de conversar e analisar racionalmente a pessoa para saber se ela era boazinha ou não. Por isso, ao longo da evolução, uma região cerebral se especializou em julgar rostos. Ela se chama área fusiforme e é um pedaço fininho e comprido da parte de baixo do cérebro. Quando você vê uma pessoa pela primeira vez, sua área fusiforme analisa o rosto dela. O processo dura frações de segundo e é inconsciente, ou seja, você não percebe que está acontecendo. Sabe aquela primeira impressão instantânea, que parece puro instinto e sempre temos ao conhecer alguém? É um julgamento feito pela área fusiforme.

No cérebro de T.N., esse pedaço estava intacto. O córtex dele não conseguia processar as imagens enviadas pelos olhos, mas a área fusiforme sim. É por isso que, mesmo estando cego, T.N. ainda conseguia ver rostos. Seu cérebro consciente não enxergava mais nada. Mas o inconsciente dele ainda conseguia ver - e, mais do que ver, julgar os rostos das pessoas.

Há diversos casos como o de T.N., tantos que a ciência até criou um termo para designá-los: blindsight, ou visão cega. Todos seguem o mesmo padrão. Conscientemente, a pessoa está cega - mas partes do cérebro dela ainda conseguem enxergar. A visão cega é apenas uma das demonstrações do poder do inconsciente, que interessa cada vez mais aos cientistas.

Agora, o lado oculto da mente não é apenas um assunto de psicanalistas; ele também virou uma das áreas mais interessantes da neurociência moderna. Essa transformação aconteceu porque as técnicas de mapeamento cerebral finalmente estão permitindo que os cientistas comecem a desbravar o inconsciente - um mundo inexplorado e muito maior que a consciência.

Quão maior? No ano passado, a emissora inglesa BBC fez essa pergunta a sete dos maiores experts do mundo em cérebro e cognição, de quatro grandes universidades (Oxford, Montreal, Columbia e Londres). Cada um deles deu seu palpite - sim, palpite, pois a ciência ainda está longe de ter um catálogo completo dos processos cerebrais. Pelas estimativas dos especialistas, a consciência ocupa no máximo 5% do cérebro. Todo o resto, 95%, é o reino do inconsciente.

CONSCIENTE X INCONSCIENTE
Quando você vê um rosto pela primeira vez, o seu inconsciente decide, em frações de segundo, se aquela pessoa é amiga ou inimiga. É uma habilidade vital para a sobrevivência - e também permitiu que um homem totalmente cego voltasse a enxergar.

Muito do que você faz, o tempo inteiro, é inconsciente. Falar, por exemplo. Você simplesmente pensa no que quer dizer (as ideias), e não precisa selecionar conscientemente as palavras - elas simplesmente aparecem. Isso acontece porque o seu inconsciente trabalha nos bastidores durante o papo, vasculhando o seu vocabulário e abastecendo o consciente para ajudar você a se expressar. Enquanto você escuta outra pessoa falar, acontece algo parecido. Você não precisa analisar e decodificar conscientemente cada palavra do que ela está dizendo - porque o seu inconsciente se encarrega de transformar em ideias os sons que estão saindo da boca dela. Quando você lê um texto, é a mesma coisa: o inconsciente transforma automaticamente os símbolos gráficos (as letras e palavras) da página em ideias, que só então são transmitidas para a sua consciência. É por isso que é tão difícil aprender outro idioma. Quando você começa a falar ou ler textos em outra língua, só usa a consciência - porque o inconsciente ainda não assumiu a tarefa (mais sobre isso daqui a pouco), e você tem de escolher ou analisar as palavras uma por uma. "Falar outro idioma é quase experimentar ser outra pessoa. Precisamos reunir os sentidos usando outra lógica", diz Luiza Surreaux, doutora em estudos da linguagem e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O inconsciente se encarrega de tudo o que fazemos sem esforço perceptível, como andar na rua ou escovar os dentes. Por causa disso, ele opera em potência máxima o tempo todo - e é uma exceção no organismo. Se você se levantar e sair correndo, por exemplo, os seus músculos vão gastar aproximadamente 100 vezes mais energia do que se você estivesse imóvel (e coração e pulmão também serão mais exigidos). Mas o cérebro é diferente. Quando você faz alguma coisa mentalmente intensa, como jogar xadrez, ele gasta apenas 1% a mais de energia do que se você estivesse olhando para o teto, sem pensar em nada. Isso acontece graças ao inconsciente - que trabalha freneticamente até quando estamos relaxados. "O cérebro é abastecido pelos olhos, ouvidos e outros sentidos, e o inconsciente traduz tudo em imagens e palavras", diz o psicólogo e neurocientista Ran Hassin, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e um dos autores do livro The New Unconscious ("O novo inconsciente", ainda não lançado no Brasil). "Novo inconsciente", aliás, é o termo que os cientistas têm utilizado para definir essa nova abordagem - que propõe uma explicação puramente neurológica para o lado oculto da mente. Mas também confirma a principal ideia de Freud.

LER X VER
Enquanto lê este texto, você vê uma sequência de símbolos: as letras. Mas é o seu inconsciente que dá sentido a elas.

PSICANÁLISE X CIÊNCIA
Sigmund Freud não foi o "descobridor" do inconsciente. Já durante o Iluminismo, no século 18, se discutia a existência dele - entendido como um pedaço da mente dotado de vontades que escapavam ao controle consciente. A contribuição específica (e enorme) de Freud foi transformar uma noção vaga num conjunto de ideias, teorias e técnicas: a psicanálise. Como explica o biógrafo Peter Gay em Freud - Uma Vida para Nosso Tempo (Companhia das Letras, 2012), Freud acreditava que o inconsciente era "uma prisão de segurança máxima" na qual os traumas sofridos na infância ficavam aprisionados, e nisso estaria a raiz das infelicidades humanas.

A neurociência nunca deu muita bola para a psicanálise. Mas os novos estudos sobre inconsciente trazem comprovação para um conceito central dela. Uma experiência liderada pelo psiquiatra Eric Kandel, que ganhou o prêmio Nobel de Medicina de 2000 por estudos sobre neurotransmissores, mostra como o inconsciente pode funcionar como amplificador das emoções. Antes da experiência, os voluntários preencheram questionários que mediam seus níveis de ansiedade. Depois, enquanto seu cérebro era monitorado pelos cientistas, cada voluntário via uma série de rostos com expressões de medo. Foram duas sessões. Na primeira, as fotos passavam bem devagar, com tempo suficiente para o voluntário analisar os detalhes de cada uma. Na segunda, as imagens passavam tão rápido que os voluntários não conseguiam identificar nada - não tinham nem certeza de ter visto um rosto ou qualquer outra coisa. A intenção de Kandel e seus colegas era provocar emoções conscientes e inconscientes. Quando a foto ficava por um bom tempo na tela, o voluntário tinha tempo de perceber conscientemente a expressão de medo da imagem. No outro experimento, era tudo tão rápido que não era possível ter uma reação consciente. Essas imagens rápidas estimulavam diretamente o inconsciente, e provocavam atividade muito alta no núcleo basolateral da amídala cerebral - área ligada às sensações de medo. Já as imagens lentas, que eram interpretadas de forma consciente, não geravam nenhuma atividade nessa área. Quanto mais ansiosa a pessoa era, maior a diferença entre a interpretação consciente e inconsciente da mesma coisa (as imagens). Para Kandel, o estudo é a comprovação neurocientífica de uma teoria central da psicanálise: a interpretação inconsciente de coisas negativas é a fonte de muitas das aflições humanas. Freud tinha razão.
EXPERIÊNCIA X INFLUÊNCIA
Você é o produto das situações que vive. Mas também sofre uma influência que vem de dentro - e é tão potente quanto elas.

O inconsciente pode ser fonte de angústias - e também de algumas injustiças, cujos efeitos são perceptíveis desde a infância. O queridinho do professor, provavelmente, será o aluno com as melhores notas da classe. Não porque ele seja necessariamente o melhor, mas porque os professores acreditam que seja - e acabam atuando inconscientemente a favor dele. Esse fenômeno, que se chama incentivo inconsciente, tem respaldo em diversos estudos científicos. Um dos mais engenhosos (e mais polêmicos também) foi conduzido na década de 1960 por Robert Rosenthal, hoje um octogenário professor de psicologia da Universidade da Califórnia.

Na experiência, os alunos de uma escola americana foram submetidos a uma prova. Rosenthal e sua equipe disseram aos 18 educadores do colégio que se tratava de um teste especial, desenvolvido na Universidade Harvard para analisar o potencial de desenvolvimento de cada criança. Mentira. Era apenas um reles teste de QI, sem nada de especial. O objetivo da lorota era aumentar as expectativas dos professores. Os alunos fizeram a prova, e a grande sacada de Rosenthal veio na hora de anunciar o resultado. Antes mesmo de calcular a pontuação de cada aluno, os pesquisadores escolheram aleatoriamente três a seis crianças de cada série e disseram aos professores que aqueles alunos haviam se destacado e teriam um desempenho extraordinário nos anos seguintes. Era outra mentira.

No final do ano escolar, a equipe de Rosenthal voltou à escola e repetiu o teste. Os alunos que haviam sido falsamente diagnosticados como gênios haviam ganho, em média, 3,8 pontos de QI a mais que os demais. O resultado foi ainda mais surpreendente entre alunos da primeira série: a diferença entre os ungidos e o resto foi de assombrosos 15,4 pontos de QI a mais. Ou seja: as crianças que haviam sido apresentadas como mais inteligentes de fato se tornaram mais inteligentes - porque inconscientemente, sem querer, os professores haviam dado mais atenção e estímulo a elas. "O resultado mais importante desse experimento foi mostrar como a expectativa dos professores faz toda a diferença para o desenvolvimento dos alunos", analisa Rosenthal. É impossível ser completamente justo e imune a esse tipo de influência, mas existe um antídoto eficaz contra as distorções induzidas pelo inconsciente: saber que ele sempre está pronto para nos enganar.

APRENDER SEM SABER
Se, por um lado, é impossível controlar o inconsciente de maneira consciente, é possível influenciá-lo. "Podemos mudá-lo. Ele é tão maleável quanto a consciência, ou talvez mais", afirma o neurologista Ran Hassin. Como se faz isso? Praticando alguma coisa até que ela se torne uma segunda natureza, ou seja, vire um processo automático. Qualquer profissional de elite, seja um pianista profissional, um jogador da seleção brasileira de futebol, um médico-cirurgião ou uma bailarina do Theatro Municipal, depende de anos de prática para chegar ao topo da carreira. Cerca de dez anos de prática - ou 10 mil horas de treino, segundo uma famosa pesquisa do psicólogo Anders Ericsson, da Universidade da Flórida. Ericsson estudou violinistas de uma das melhores escolas de música de Berlim. Eles começaram com cinco anos de idade, todos no mesmo ritmo. Mas, a partir dos oito anos, as horas de ensaio começaram a variar entre os estudantes. Quando chegaram aos 20 anos, os melhores violinistas haviam somado 10 mil horas de treino, enquanto os demais não passavam de 8 mil horas - e os piores da turma tinham apenas 4 mil horas de estudo.
SENTIR X PENSAR
O consciente e o inconsciente reagem de modo diferente à mesma coisa. O primeiro é racional; o segundo, carregado de emoção.

A dedicação trouxe recompensa porque, quando se pratica muito alguma coisa, ela fica gravada num tipo especial de memória: a memória não-declarativa, que faz parte do inconsciente e registra ações e movimentos do corpo. É ela que permite que o violinista consiga tocar bem. Se dependesse apenas do consciente, ele não daria conta de todos os procedimentos envolvidos na tarefa (ler a partitura, equilibrar o instrumento no ombro, posicionar os dedos, mover o arco, respirar e, ainda por cima, tocar de maneira natural e relaxada). E ninguém conseguiria aprender a falar fluentemente um segundo idioma. Em suma: a chave para ensinar uma nova habilidade ao próprio inconsciente é treinar, treinar e treinar. É um processo bem demorado. Mas já existe gente tentando deixá-lo mais rápido.
CRIA X FALA
Você decide o que quer falar, mas não escolhe as palavras que vai usar - o seu inconsciente faz isso por você. Ele pega as suas ideias e cria a sua fala. Quando você está aprendendo outro idioma, isso não acontece: a consciência tem de se virar sozinha.

AS SENHAS INVISÍVEIS
Elas são um problema típico do mundo moderno. Ou você acaba esquecendo as suas, ou escolhe uma bem bobinha e usa pra tudo - até que, por causa disso, alguém acaba invadindo o seu e-mail ou conta bancária. Um grupo de cientistas da Universidade Stanford tem uma solução melhor: senhas ultrassecretas, que ficam armazenadas no inconsciente. Funciona assim. Primeiro, os cientistas pedem a voluntários que joguem um joguinho no qual bolinhas caem, uma de cada vez, em uma das seis colunas que aparecem na tela. O objetivo é apertar o botão do teclado correspondente à posição da bolinha na tela. Se a bolinha cai do lado esquerdo, por exemplo, a pessoa aperta a letra S (porque ela fica bem à esquerda no teclado). A ordem das bolinhas parece aleatória, mas não é. A pessoa não percebe, mas existe uma sequência que se repete de tempos em tempos - cerca de 90 vezes ao longo de 30 minutos, a duração do jogo. Essa sequência é definida pelo computador e é personalizada, ou seja, diferente para cada jogador. Ela é a senha. E, graças à repetição, acaba sendo gravada no inconsciente da pessoa.

Na segunda etapa da experiência, a pessoa joga o joguinho novamente. E as bolinhas vão caindo na tela do mesmo jeito: sua ordem parece aleatória, mas uma sequência específica (a senha) se repete de tempos em tempos. Como as bolinhas caem bem depressa, o jogador erra muitas. Exceto as bolinhas daquela sequência que ficou gravada no inconsciente dele. Sem perceber nem saber o motivo, a pessoa acerta todas. Está digitada a senha. Ela é reconhecida pelo computador, que libera o acesso. Além de ser conveniente (você nunca mais precisará se lembrar de uma senha), a tecnologia é extremamente segura. "O sistema torna praticamente impossível para um assaltante forçar a vítima a revelar sua senha bancária, por exemplo. Porque a senha está no cérebro da pessoa, mas não está acessível conscientemente a ela", explica Hristo Bojinov, um dos criadores da tecnologia.

Segundo ele, o sistema de senhas inconscientes pode chegar ao mercado dentro de três anos, mas ainda precisa ser aperfeiçoado. Por enquanto, ele é inviável para uso cotidiano - porque é preciso jogar o joguinho durante 5 a 10 minutos até que a senha inconsciente seja digitada. Dez minutos é bastante. Mas é bem menos do que as 10 mil horas do exemplo anterior. Ou seja: a nova técnica mostra que é possível inserir informações simples no inconsciente muito mais depressa do que se acreditava.

O Exército americano já percebeu, e está tentando tirar proveito disso. A ideia é ajudar os analistas de imagens aéreas, funcionários do Pentágono que olham as fotos tiradas pelos satélites espiões dos EUA - e dizem quais delas contêm algo relevante (como um reator nuclear ou uma base militar inimiga, por exemplo). É um trabalho cansativo e difícil, pois são milhares de fotos aparentemente iguais, com diferenças minúsculas. Mas o cientista Paul Sajda, da Universidade Columbia, teve a ideia de monitorar o cérebro de um analista enquanto ele olhava essas fotos. O analista vestiu uma touca de eletroencefalograma (EEG), cheia de sensores que medem a atividade elétrica em determinadas regiões do cérebro. Aí Sajda mostrou a ele uma foto relevante, ou seja, na qual se via claramente uma construção suspeita. O eletroencefalograma registrou um pico de atividade cerebral - pois aquela imagem havia despertado a curiosidade do analista. Normal.

Mas aí os pesquisadores resolveram acelerar as coisas, e começaram a exibir dez imagens por segundo. Algumas das fotos eram relevantes, outras não, mas todas passavam rápido demais para que o analista conseguisse prestar atenção em qualquer coisa. Mesmo assim, quando aparecia uma foto relevante, algo incrível acontecia: o eletroencefalograma registrava um pico de atividade no cérebro dele. O analista não conseguia perceber nada de diferente nas imagens, mas o inconsciente dele sim - e estava identificando as fotos que tinham pontos interessantes. De acordo com Sajda, o novo método permite aumentar em até 300 vezes a eficiência da análise de imagens militares. "Os processos inconscientes são capazes de algum tipo de racionalidade, muito mais do que se pensa, e essa racionalidade pode levar a boas decisões", escreve o neurocientista Antonio Damasio no livro E o Cérebro Criou o Homem.

HANS, O CAVALO ESPERTO
O inconsciente não é apenas um depósito de traumas reprimidos e habilidades incríveis. Ele também é especialista em fazer o contrário: colocar tud  o pra fora. O psicólogo Paul Ekman, da Universidade da California, ficou famoso por ter catalogado mais de 10 mil conjuntos de "microexpressões" - expressões faciais que fazemos inconscientemente enquanto conversamos, e que podem revelar nossas verdadeiras emoções. Inclusive se o seu interlocutor for um cavalo.

Em 1904, o alemão Wilhelm von Oster ficou famoso por suas apresentações com Hans - um cavalo que era capaz de "quase tudo, menos falar". Segundo o dono, Hans fazia cálculos matemáticos complexos. Quando perguntavam a raiz quadrada de quatro, o bicho respondia batendo o casco duas vezes no chão. A conexão era tanta que Hans acertava o resultado mesmo quando seu mestre não fazia as perguntas em voz alta - e apenas pensava nelas. Havia quem jurasse de pés juntos que o cavalo lia a mente de Von Oster. A dupla rodou a Alemanha em apresentações fantásticas, e deixou estudiosos debruçados sobre o mistério durante anos. Em 1907, o psicólogo Oskar Pfungst publicou um estudo que solucionava a charada. Hans só acertava os resultados quando seu `entrevistador¿ (no caso, Von Oster) já sabia a resposta certa. Pfungst descobriu um padrão: Von Oster se inclinava levemente para frente quando terminava de propor uma questão. Esse era o sinal. Hans entendia e começava a bater o casco no chão. Quando atingia o número certo de batidas, algum outro movimento do dono denunciava a hora de parar. Von Oster era um charlatão, então? Talvez. Mas muitas outras pessoas, que não sabiam de nada, desafiaram Hans com problemas matemáticos. O cavalo acertou todos. É que elas, sem saber, também coordenavam com movimentos inconscientes as respostas dele. Ou seja: cavalos talvez não saibam fazer contas, mas podem ser capazes de ler o inconsciente alheio com mais precisão do que muito humano.
ROTINA X MUDANÇA
Um estudo neurológico provou que o inconsciente exagera as coisas ruins - e confrontá-lo pode ser a chave para superar angústias.

Ainda não existe uma fórmula que permita controlar o que dizemos de forma inconsciente. Emitimos sinais inconscientes o tempo todo - a ponto de sermos transparentes até para cavalos. É por isso que é tão difícil fingir: todo mundo percebe quando achamos que uma festa está meio chata, por exemplo. Mas não vá culpar o seu inconsciente por isso. Se não fosse ele, você sequer conseguiria dançar e conversar ao mesmo tempo.

Memória subliminar
Como funciona o sistema que permite gravar senhas de computador no inconsciente

1. Você joga um game em que bolinhas caem na tela - e o objetivo é apertar a letra do teclado correspondente à coluna na qual a bolinha está caindo.

2. A ordem das bolinhas parece aleatória, mas não é. Você não percebe, mas existe uma sequência de 30 letras que se repete várias vezes durante o jogo. Ela é a senha - e, de tanto ser repetida, fica gravada no seu inconsciente.

3. Para acessar o computador, você joga novamente o game. Como as bolinhas caem bem rápido, você erra muitas delas - exceto aquela sequência de 30, que o seu inconsciente gravou, e por isso você acerta. A máquina reconhece a senha e libera seu acesso.

Percepção acelerada
Exército dos EUA já sabe usar o poder do inconsciente para turbinar a visão humana

1. O militar veste uma touca de eletroencefalograma (EEG), aparelho que mede as correntes elétricas do cérebro.

2. Uma tela mostra dez imagens por segundo. É rápido demais para que a pessoa tenha qualquer reação consciente.

3. Mas quando aparece uma imagem relevante (mostrando uma base militar inimiga, por exemplo), o inconsciente percebe - e o EEG registra um pico de atividade cerebral.

4. A técnica permite que um analista militar processe até 36 mil imagens por hora - e com três vezes mais precisão do que se estivesse usando a consciência.


PARA SABER MAIS
Subliminal
Leonard Mlodinow. Pantheon Books, 2012.

Em Busca da Memória
Eric Kandel. Companhia das Letras, 2009.

* Por Reportagem: Alexandre de Santi e Sílvia Lisboa* Edição: Bruno Garattoni
Colaboração de Cristine Kist, Bianca Carneiroe e Ana Becker