segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Questões sinceras sobre Deus (Afinal, perguntar não é pecado...)


Por Hermes C. Fernandes


Recebi um e-mail recentemente com perguntas sinceras acerca de Deus. Embora tenha me pedido para respondê-lo por e-mail, resolvi publicar suas questões por acreditar que sejam as mesmas que estejam incomodando a muitos outros.

O que estiver em itálico, são as questões. Abaixo de cada uma delas, minha tentativa em respondê-las.

Vamos a elas:

Questão: Não entendo o por que de Deus ter feito a criação, especialmente o homem. Já ouvi muitas vezes gente falando que foi porque Ele queria que experimentássemos a vida, que era pra louvarmos a Ele e etc. Agora vem o problema: Todas essas explicações me parecem muito egoístas. Sendo Deus o todo poderoso e auto-suficiente, Ele não se sentiria sozinho na eternidade, Ele não precisava de nós. Ai Ele resolve criar bilhões de pessoa pra louvá-Lo, pra experimentar a vida e tal. Mas esquecemos que dessas bilhões, digamos que (chutando baixo) 30% delas não aceitaram a Jesus e morreram. Assim elas passarão a eternidade em sofrimento. Já que Deus é onisciente, Ele sabia que isso aconteceria. Eu, no lugar dEle, desistiria de criar a humanidade. Grande parte dela vai se perder, isso é muito sofrimento. Não me entra na cabeça isso.

Resposta: Egoísta, Deus? Por quê? Por querer compartilhar a vida com outros seres além d'Ele mesmo? Isso é egoísmo? Ele não nos criou por precisar de nós. Como você mesmo disse, Ele é auto-suficiente. Pai, Filho e Espírito Santo jamais poderiam sentir-Se sozinhos num relacionamento eterno de amor. Nem tampouco nos criou para testar Sua criatividade, para auto-afirmar-Se, ou coisa parecida. Ele nos criou porque Ele é amor. E o amor O faz desejar compartilhar com outros que existam fora do círculo trinitário.

Você diz que no lugar de Deus, desistiria de criar a humanidade, já que uma boa porcentagem dela se perderá. Trazendo esta questão para o cotidiano: você desistiria de comer porque parte do que você come é eliminado pelo sistema excretor? Eu sei que minha analogia não é perfeita, e chega a ser grotesca, porque comemos por necessidade, enquanto Deus não tem a necessidade de criar. Porém, o amor é uma força propulsora muito maior que a fome. É o amor que O impele a criar, apesar de todos os riscos. Cada um de nós é um sobrevivente entre bilhões de espermatozóides que disputaram um único óvulo. Você deixaria de desejar ter um filho por causa disto? Que bom que você não é Deus, hein? Se fosse, não estaríamos aqui trocando idéias.

Questão: Já que Deus é criador de tudo, ele criou o inferno e todas as "regras" que dizem que se não O seguirmos e não o aceitarmos vamos sofrer eternamente. As vezes isso me dá a impressão de um Deus ditador e repressivo. Tipo "se não fizeram o que mando vão sofrer". É outra coisa que não me encaixa na minha cabeça.

Resposta: Observe uma noite estrelada. Milhares de estrelas podem ser vistas à olho nu, tendo como pano de fundo um enorme espaço vazio, que se nos apresenta como um breu. Sem este contraste, jamais distinguiríamos a luz das estrelas. O equilíbrio do universo repousa sobre os contrastes. O que contrastaria com um prazeroso paraíso, senão um inferno de tormentos? Sem a existência do inferno, o Universo inteiro seria um enorme inferno, uma terra sem lei. A própria existência seria uma impossibilidade se não houvesse regras. Seres morais necessitam de parâmetros, de um sistema que incentive o bem, enquanto iniba o mal. Deus não criou o mal. Deus criou o bem. O mal nada mais é do que a ausência do bem. Deus não criou as trevas, mas a luz. As trevas são a ausência da luz. Da mesma maneira, o inferno é a alienação da fonte primeva da vida. Por isso, está destinado àqueles que decidiram viver para si mesmos, em vez de viver para o próximo, e sobretudo, para Deus. Aliás, o que você acharia se seus filhos o classificassem como "um ditador repressivo", simplesmente por não deixá-los fazer o que lhes dá na gana? Quem ama, impõe limites, visando o bem da pessoa amada. Quem ama, castiga, porque se importa.

Questão: O chamado Eu Sou e que a Bíblia diz que não muda nunca me parece dois deuses totalmente diferente no novo e no velho testamento. O velho, ele chega a ser cruel matando muitos povos que nem o conheciam. Já no novo, Ele é todo um paizão. Eu sei aquele negocio de pactos diferentes com a humanidade antes de depois de Jesus, mas isso não me é justificativa suficiente. Já que Deus é onipotente, ele poderia ter lidado com as coisas diferente na época do Velho Testamento.

Resposta: Como nos relacionamos com nossos pais? Quando crianças, eles nos castigavam, nos obrigavam a comer o que não queríamos, nos faziam ir pra cama mais cedo, etc. Depois que crescemos, embora não tenham deixado de ser nossos pais, passamos a nos relacionar com eles de maneira diferente. Lembro da primeira vez em que meu pai me chamou pra conversar. Enquanto dirigia, ele se desabafou comigo. Nunca havia conhecido aquele lado mais humano de meu pai. Fiquei surpreso quando me disse: Filho, preciso de alguém com quem conversar...e você agora é um homem e pode me compreender. Percebe a diferença?

No Antigo Testamento, Deus estava lidando com uma humanidade mergulhada num narcisismo infantil. Por isso, tinha que usar de rédeas curtas, severidade exacerbada, dureza. Mas depois de nos haver enviado o Espírito de Seu Filho, tornamo-nos espiritualmente maduros. Sobre isso, aconselho que leia as seguintes passagens: Gálatas 4:1-7; Colossenses 1:12; Efésios 4:14.

Espero ter-lhe ajudado, meu irmão. Se precisar, estamos aqui à sua disposição.