segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sexo, amor e espiritualidade


 “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula, pois aos devassos e adúlteros Deus os julgará” (Hb.13:4). O tradutor usa a palavra “leito”, que é sinônimo de “cama”; talvez por ser uma palavra mais elegante. Porém, o texto original usa o vocábulo grego “koité”, de onde vem a palavra “coito”. Portanto, tanto o matrimônio quanto o coito (o ato sexual em si) devem ser igualmente honrados.
Parece bobagem? Mas não é! Nossa sociedade tem transformado o sexo numa coisa suja, banalizando-o, coisificando-o. Rita Lee retrata isso em uma de suas composições, em que diz que o amor é cristão, mas o sexo é pagão. A pornografia nada mais é do que a vulgarização de algo sagrado, a perversão da justiça. Sexo é comunhão, e a cama do casal é um altar onde o que ali se pratica deve ser encarado como uma oferta de amor. Não há comunhão sem comunicação. Tampouco há sexo plenamente satisfatório sem amor. 

Um relacionamento sem amor não produz um ambiente propício à comunicação franca, sincera, aberta. Logo na primeira estrofe de seu maravilhoso hino acerca do amor, Paulo declara: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa, ou como o sino que tine”. Ora, Paulo era um poliglota. Para circular livremente pelas províncias romanas, ele teria que falar, pelo menos, quatro idiomas: grego, latim, aramaico e hebraico. Ele sabia, entretanto, que não bastava dominar vários idiomas para poder comunicar-se com pessoas de culturas diferentes. Se ele quisesse comunicar algo, ele teria que dominar o idioma do amor. O verbo “comunicar” tem o sentido de tornar algo comum entre pessoas diferentes. Comunicar é construir pontes entre mundos diferentes. Cada pessoa é um mundo distinto. Para podermos atravessar o abismo que nos separa uns dos outros, precisamos de pontes. O idioma é apenas o pavimento desta ponte. O amor pode ser comparado às colunas abaixo do pavimento, que dá sustentação à estrutura da ponte. Sem amor, o pavimento cede, e a ponte cai.

A pessoa pode falar quantos idiomas puder, e até mesmo a língua angelical. Com isso, ela impressionará muita gente, mas não fará mais do que barulho. Ela pode até comunicar idéias, mas jamais vai conseguir comunicar seu ser. A verdadeira comunicação transcende o campo das idéias. Os termos comunicação e comunhão são sinônimos. Através da Sua Palavra, Deus nos comunica Seu próprio Ser. Não nos comunicamos pra tentar convencer alguém de que estamos certos em nosso ponto de vista. Em vez disso, nos comunicamos para tornar alguém participantes daquilo que temos recebido. Essa é a essência da comunicação, de acordo com as Escrituras. E isso só é possível mediante o amor.

Quando não há amor, falta diálogo, mas sobra discussão. E sabe por quê? Porque ninguém quer dar o braço a torcer. Aos poucos, o tom de voz vai se alterando, e o que deveria ser um diálogo edificante, torna-se uma gritaria irracional.

A diferença entre um diálogo e uma discussão é que o primeiro se baseia na necessidade que ambos de têm de se compreender mutuamente. O segundo se baseia na insistência que ambos têm de provar que estão com a razão.

Discutir é entrar na contramão do outro. Toda discussão leva à colisão. Já o diálogo produz o encontro.

O amor tem sua própria linguagem, que abrange desde sons inteligíveis pronunciados pelos lábios, passando por expressões corporais, cheiros, toques, olhares, gemidos, sendo capaz de expressar-se até no silêncio.

O CAMINHO DE TODOS OS QUE ANDAM NO CAMINHO



Paulo disse que os dons espirituais eram graças do Espírito, e que todos eram necessários ao Corpo de Cristo. Porém, prosseguiu e fez um convite para algo que faz com que toda a discussão sobre dons, se torne como coisa de crianças, nas suas disputas por pirulitos celestiais, lugares na gangorra, pequenas façanhas no trapézio, e algumas sonsas vontades de aparecer no grupo, todas elas travestidas de “carismas” e muita cara de “piedade”.

Sim, porque a realidade dos dons espirituais, de todo e qualquer um deles, já nasce morta quando Paulo diz que sem amor nenhum dom espiritual teria qualquer significado; ou: “de nada vos aproveitará”.

“Eis que passo a mostrar-vos um Caminho sobremodo excelente...”, diz ele. Isto para então relativizar todas as coisas, até mesmo e sobretudo, as coisas chamadas “boas”; dizendo que sem amor tudo é vácuo, zunido, coisa nenhuma, proveito algum.

Não há nenhuma coisa boa que possa ser boa se não for fruto do amor!

O que quer que não seja fruto do amor não existe como Bem diante de Deus. Línguas estranhas e espirituais, fé que remove montes, ciência sobre tudo, sabedoria que enxerga o caminho da sensatez, profecias que mexem com o hoje e o amanhã, coragem altruísta, e abnegação capaz de se dar ao fogo pela vida dos outros — não produzem Bem algum para aquele que o pratica, se os fizer sem amor.

Os outros, os que receberam o benefício, esses são beneficiados, se os recebem com gratidão; mas os chamados benfeitores, nada levam diante de Deus por tais “boas e santas” performances.

Paulo diz que esse Caminho maior e adulto é feito do amor que tudo crê, que tudo sofre, que tudo espera, que tudo suporta, que pensa o melhor de tudo e todos, que não se exaspera, que não se torna jamais ressentido, que não se vinga, que não tem prazer na injustiça, mas regozija-se com o que verdadeiro.

Para ele, tudo o que não crescesse no Caminho Excelente do Amor, cristalizava-se no estado de infantilismo apenas carismático, cujo sentir é em geral imaturo e invejoso, em razão da não experiência do amor. Por isso é um sentir de criança, um pensar de menino e um agir de garotinho.

No fim, não no final, mas afinal, o que vale, fica e sobra, são apenas três importâncias espirituais: a fé, a esperança e o amor; sendo que dentre esses, nenhum é como o amor; pois os anteriores podem existir a partir de outras pulsões existenciais e psicológicas; porém o amor é maior do que eles; visto que eles podem ser sem “este amor”; mas no amor eles existem de modo intrínseco, e em sua expressão válida para Deus.

A questão é: e daí? Essa conversa é velha. Isso só serve para entreter noivos em cerimônias de casamento; ou mesmo para dar poesia a um momento de culto!

Mas, de fato, não é assim; e quem assim pensa, já morreu, e ainda não foi informado mediante um atestado de óbito espiritual, o qual a “igreja” jamais fornecerá, visto que nesse dia assinará uma carta de alforria aos crentes, e isso ela parece jamais desejar. Afinal, a ela parece interessar manter todos como seus garotinhos.

Paulo diz a procedência desse amor, e, além disso, ensina o significado dele; e mais: nos diz como ele pode crescer em nós. Afinal, andar nesse Caminho sobremodo excelente é o alvo terreno de nossa existência. Sim, esse é o Bem do Evangelho para a alma.

Tal amor é fruto da gratidão. Gratidão pelo que Jesus fez por nós. E esse “fez por nós” não é algo distante, lá na Cruz do Calvário, na Palestina, há dois mil anos...

Na realidade esse “fez por nós” é algo que tem que ter relação com o Hoje. Tem que ser a gratidão pelo perdão de cada dia. Sim, e mais: esse “fez por nós” precisa ser também demonstrado como aquilo que nós fazemos pelos outros. Isto porque o perdão que se recebe como perdão dos céus, é o que se deve conceder na Terra aos homens.

É assim na terra como no céu que a Graça se manifesta sempre!

Ora, isto só acontece como experiência cotidiana da gratidão pelo amor de Cristo. É tal amor que nos constrange e nos move no Caminho sobremodo excelente.

O chão desse Caminho é expresso por Paulo da seguinte maneira: “E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes inculpáveis e irrepreensíveis para o dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus”.

Assim, o amor que é fruto da gratidão pela Graça de Deus Hoje, e que suscita a força da indivorciabilidade do amor de Deus por nós, gera um constrangimento interior, e que é o motor da alma, na caminhada da fé no cotidiano, a qual é feita mediante a Graça do amor que cresce em “conhecimento e em percepção”.

Ora, isto significa que o caminho do amor de Deus em nós é uma jornada de crescimento da consciência, posto que conhecimento e percepção, no dizer de Paulo, equivalem ao espírito do entendimento da vida, conforme o ensino simples do Evangelho.

A questão é que o Caminho sobremodo excelente já não significa mais nada num mundo de espertalhões, maquinadores, manipuladores, e seres que existem apenas para as riquezas que a traça e o ferrugem corroem...; ao invés de ambicionarem tesouros nos céus.

No entanto, para quem ainda deseja o que vale e o que carrega significado diante de Deus — não tendo de todo se entregue ao cinismo que acomete a maioria dos de nossa geração —, deve ser dito que somente crescendo nesse amor que nasce da gratidão pela Graça do amor de Cristo, da justificação total, do perdão absoluto, e que cresce em entendimento espiritual conforme o espírito do Evangelho — é que vem o poder da alegria daquele que confessa fé em Jesus.

A maioria de nós vive apenas no mundo das performances dos milagres, do esforço de modo altruísta diante dos homens, dando-se às chamas e aos sacrifícios, entregando-se aos estudos do divino, aprendendo de tudo o que se pode amealhar como saber intelectual, buscando expressões de manifestações espirituais e morais visíveis, e arriscando-se na intenção de tirarem montanhas do caminho; ou, sobretudo, fazendo de tudo para serem frutuosos conforme as contabilidades de evangelização e capacidade de fazer pessoas se converterem à “igreja”.

Ora, havendo isso tudo sem que seja fruto da gratidão pela Graça recebida, pode haver sucesso exterior, mas nada de bom e verdadeiro se acrescenta ao ser como bem para ele mesmo. Essa é a razão pela qual o exercício de tais “trabalhos” não torna os seus praticantes seres felizes e pacificados no amor de Deus.

Cristãos infelizes são seres ingratos!

Cristãos felizes são seres gratos!

E tal gratidão não é pela prosperidade material ou pelo sucesso obtido entre os homens, mas gratidão pela Graça de todo dia, o que faz com que a existência seja movida pelo amor de Cristo, o qual nos desentope o ser, pois nos faz crescer em conhecimento e percepções acerca do que vale e do que tem sentido, e que se manifesta como fruto de uma vida que existe em permanente estado de gratidão.

É para esse Caminho sobremodo excelente que somos chamados. Além disso, não há vida com Deus que nos faça “bem-aventurados” se não for vivida nesse amor que não é burro; posto que cresce em entendimento e em gratidão, sabendo que o que vale não está do lado de fora, mas começa no coração.

No Caminho sobremodo excelente o coração conhece o Evangelho como Boa Nova para si mesmo; e tudo o mais é fruto desse estado de contentamento produzido pelo amor que é filho do perdão e da consciência da grandeza da Graça em nosso favor.

Para quem quiser, ainda dá tempo de experimentar a alegria dessa Jornada no Caminho mais excelente que existe para um ser humano na Terra.



Caio Fábio
Pregador do Evangelho de Cristo Jesus 

Ed René Kivitz - Frustração