terça-feira, 26 de novembro de 2013

VOCÊ ACREDITA EM "COBERTURA ESPIRITUAL" DE PASTOR?


Oi, Caio...tudo bem? Meu nome é Marcelo e já nos correspondemos algumas vezes (lembra do Boteco dos Inconformados?). Sou um inconformado. Parece ser algo de dentro da minha alma, do meu ser. Não consigo ver o mundo neste caos e simplesmente relaxar, queria fazer algo... Mas me vejo pequeno frente a tudo isso...principalmente o mundo da religião que manipula tanta gente. Esta semana assisti um culto em São Paulo, uma pregação do Pr. Sila Malafaia. O pessoal gostou... Eu saí amargurado. A pessoa do pastor, do líder da igreja, foi engrandecida o tempo todo. Falou-se de tudo... Exemplo: que o capeta não toca um crente que tem um pastor forte e tal. Que temos que ter um pastor assim, e que devemos ofertar muito para o salário pastoral e tal. Quero deixar claro que não tenho nada contra o pastor ter um salário digno. Acho até que as igrejas deveriam recolher INSS e outros benefícios pra seus funcionários... Mas pregações que idolatram pastores ou o homem, e que falam do umbigo, me fazem mal devido a tantas experiências que já vi de homens que se aproveitam das ovelhas. Outro exemplo da pregação. O pregador falou: “Se você acha que devemos fazer o que está na Bíblia, fique em pé." Era aniversário do Pr. Jabes de Alencar. Daí, lógico, todo mundo fica em pé. Aí o pastor prega sobre o salário do Pr. Jabes, dizendo que está na bíblia que o pastor tem que receber em dobro (I Tm 5:17). Daí prega-se uma palavra de perfeição pastoral sobre o Jabes de Alencar (que não conheço muito e num tenho nada contra), e, no final, fala pra quem ficou em pé ofertar na vida do Jabes e que ele ( Silas ) iria profetizar bênçãos pra comunidade. Aí o povo que ficou em pé é constrangido a ofertar... putz... isso me irrita! Aí fala que aquele que está pensando algo contra, pra tomar “cuidado”... e tal... Daí conta um monte de experiências de pessoas que foram abençoadas dessa maneira (ofertando ), que levantou oferta pra um pastor e compraram um Mitsubishi Pajero pro pastor, pois ele é servo do Senhor... e tra lá lá... Ele também falou que quando um pastor fala, devemos cumprir, pois o pastor é autoridade de Deus na minha vida...Isso é verdade??? 1 - Será que eu virei um cético?? Será que o evangelho é isso... e coisas assim, desse tipo, e desse nível? Onde está a graça e a certeza de quem Deus é na dificuldade e nos dias escuros e na alegria? Como dói ver um povo... muita gente fazendo o que os líderes querem sem questionar... nada... Por sinal não pode questionar, pois o pastor é o servo do Senhor. Então eu pergunto: Até quando obedecer os pastores? 2 - Esse negócio de cobertura espiritual... como funciona à luz do Novo Testamento?. Essa história de que o Pastor tem que ser “o cara” e, assim, o demônio não chega perto das ovelhas, tem alguma base bíblica? Eu tenho visto um número enorme de pessoas sendo machucadas por homens que se chamam de líderes e pastores. Gente que busca uma espiritualidade verdadeira, cai na deles. Eu me amarguro com isso e não sei que resposta dar ao meu próximo que está machucado e ao meu interior que está inconformado com o que se chama de boa notícia....de evangelho... Eu achava que pastor tinha que ser servo. Ser o menor... olhar o próximo com amor e considerar esse próximo pelo menos igual a si mesmo. Eu achava que pastor deveria se prostrar e servir ao povo, brincar com o povo e trazer uma palavra também prática para o povo e muito mais.... Não sou mais evangélico, embora eu seja um Cristão. Bom deixei umas perguntinhas no texto acima. Se o senhor puder responder...? Um beijão Caio... aqui no site é muito legal... é meu refúgio... Marcelo ___________________________________________________________ Resposta: Meu querido amigo: Graça e Paz! Se você quiser saber o que penso da pessoa que você mencionou, basta você ler meu livro “Confissões de um Pastor”, no qual narro as impressões bem próximas que tive e tenho daquele prega-dor. Mas dele cuida Deus! Não é preciso dizer que tudo o que você narrou, em tendo acontecido assim, é absurdo, e, ao mesmo tempo, demonstra que tais pessoas sucumbiram de vez ao “sacerdotalismo da velha aliança”. Sim, eles são pessoas do Velho Testamento, nem cristãos ainda são, posto que, para eles, o “sacerdote” (eles) é o representante de Deus na Terra e é o mediador da aliança com os homens. Na velha dispensação, por exemplo, o sacerdote carrega o povo sobre si, seus pecados e ofertas de culto; mas, pelo menos, antes de fazer a expiação pelo pecado do povo, eles faziam por eles mesmos. Ou seja: até na velha aliança o sacerdote primeiro tinha que olhar seu próprio coração e confessar seus próprios pecados. Hoje, todavia, tais sacerdotes não pecam mais, não têm nada a confessar, e, além disso, ainda se auto-promovem como se fossem, eles próprios, os salvadores das ovelhas. Conforme o Evangelho, verdadeiros pastores não pensam assim. Assim pensam os falsos pastores denunciados pelo profeta Zacarias, aos quais Jesus chamou de lobos e mercenários. Desculpe-me a franqueza, mas eu seria um hipócrita se fizesse qualquer que fosse a média aqui. E como tudo o que você narrou aconteceu em público, e como em público eu já disse antes o que penso sobre a pessoa mencionada, não retirei os nomes citados, embora, em geral, eu assim proceda. Vamos às suas questões: 1. Ele também falou que quando um pastor fala, devemos cumprir, pois o pastor é autoridade de Deus na minha vida...Isso é verdade??? Resposta: Somente a Palavra de Jesus é autoridade sobre a sua vida. E um líder espiritual não é autoridade sobre ninguém. Se ele é coerente com o Evangelho, e se ele discerne o Evangelho para a vida, então, ele carrega autoridade. Tal autoridade, porém, nunca é por ele cobrada, pois, caso o faça, perde a autoridade. Paulo reclamou muito acerca de que sua autoridade não se fazia real entre os Coríntios, por exemplo. No entanto, a aflição dele não tinha nada a ver com uma autoridade que fizesse dele um Barão Espiritual da Igreja. Na realidade, ele trabalhava de graça na maioria das vezes. O que ele demandava era que os Coríntios não se deixassem enganar por aqueles que se diziam autoridades espirituais, mas que entre eles estavam apenas para perverter-lhes o entendimento na fé, e também a fim de aproveitarem-se financeiramente deles. Ainda no primeiro século já havia muitos que pregavam a fim de ver se tomavam dinheiro das pessoas. Assim, meu irmão, não obedeça a pastores, mas ao Evangelho; e ouça o que dizem os pastores que genuinamente ensinam a Palavra. O mais é entre você, Deus, e sua consciência. 2. Será que eu virei um cético?? Será que o evangelho é isso... e coisas assim, desse tipo, e desse nível? Onde está a graça e a certeza de quem Deus é na dificuldade e nos dias escuros e na alegria? Como dói ver um povo... muita gente fazendo o que os líderes querem sem questionar... nada... Por sinal não pode questionar, pois o pastor é o servo do Senhor. Então eu pergunto: Até quando obedecer os pastores? Resposta: A pergunta final já está respondida antes. Quanto a primeira pergunta — Será que eu virei um cético?? Será que o evangelho é isso... e coisas assim, desse tipo, e desse nível? —, devo dizer que é para ser cético disso aí mesmo. Se você é cético em relação a isso, saiba, então, que eu sou o mais absoluto incrédulo, posto que o que fazem não é conforme o Evangelho, e, nem tampouco eles o são enquanto assim procederem. Não dá mais para cobrir o sol com a peneira! 3. Esse negócio de cobertura espiritual... como funciona à luz do Novo Testamento?. Essa história de que o Pastor tem que ser “o cara” e, assim, o demônio não chega perto das ovelhas, tem alguma base bíblica? Resposta: Quanto ao pastor ter que ser “o cara” para proteger as ovelhas, digo que não existe tal coisa. É balela para enganar os trouxas. É como o espírito do feitiço, da macumba, do despacho; é um espírito pagão em relação ao Evangelho. Quem nos guarda é o Senhor. E tenho pena dos pastores que dizem tais coisas, pois, estão invocando sobre eles mesmos a ira de Deus. Deus não dá Sua Glória a outrem. E pobre daquele que brinca com isto. Quanto ao mais, a Palavra ensina que quem está “em Cristo”, está guardado no amor de Deus. Sim, está livre da morte, da vida, das coisas do presente e do porvir, das alturas, das profundidades, e até mesmo de qualquer criatura. E o maligno não lhe toca! O resto é parte do esquema de assalto e estelionato que se pratica em nome do Evangelho todos os dias. Grande é a ira de Deus sobre os que falsificam Sua Graça e adulteram Sua Palavra. É melhor ir a um bordel do que subir num púlpito para manipular almas sedentas de Deus. Sim, menos rigor haverá para os que freqüentam bordeis do que para aqueles que manipulam o povo de Deus e se aproveitam do Bom Nome que sobre nós é invocado, a fim de assaltarem as almas dos homens. Quanto a você, sugiro que você use de modo criativo e amoroso a sua “inconformação”, pois, “inconformados” estéreis, acabam ficando amargos, paralisados, e paralisantes. Não existe isto de ser pequeno. Tudo que Deus faz, começa pequeno e é feito de muitos pequenos. Tudo. Portanto, seja você, de modo propositivo, no âmbito de sua vida, aquele que anuncia a Boa Nova. Ou você pensa que para falar de Deus o cara tem que ter aquele circo lá? Ou é isto que você quer para você? Assim, me mostre seu inconformismo com atos, não com reclamações. Sim, por que você não começa a reunir os amigos para ler a Palavra, conversar e orar? Inconformados que apenas sofrem, e nada fazem, são com certeza os grandes amargurados de amanhã. Assim, não se inconforme apenas, mas busque ser a veste nova e o odre novo da presente hora. Receba meu abraço! Nele, que deu a vida pelas ovelhas, Caio

O LAVADOR DE ALMAS


Acabo de ver o filme que em português ganhou o nome de “O Lavador de almas”, e que trata da história real de Albert Pierrepoint, que viveu entre 1905 e 1992, e foi o mais famoso membro da família de Yorkshire, a qual forneceu três gerações de Chefes de Execuções da Inglaterra.

Para quem desejar mais informações basta ler no link http://en.wikipedia.org/wiki/Albert_Pierrepoint

No total Pierrepoint executou por enforcamento, em nome da Inglaterra, de modo oficial, mais de seiscentas pessoas, entre 1932 e 1955.

Além de excelentes performances artísticas dos atores e atrizes, o filme é tragicamente belo por revelar o processo psicológico de tentativa de isenção de um “carrasco” que acreditava que seu “trabalho” poderia ser “deixado fora dele”. Ou seja: fora de sua própria mente e coração.

Além disso, o filme mostra como o “Estado” tem um papel de corrente de transferências de responsabilidade diabólica. Assim, quem julga e decide a pena, dorme “em paz”; e quem a “executa”, também “dorme em paz”.

É a mesma psicologia dos que são contra a morte de uma galinha, mas adoram comer uma “coxinha”.

Também é evidenciada no filme a força perversa da mídia, a qual, quando interessa, promove o indivíduo, e, quando ele não interessa à venda de notícias, o mata sem deixá-lo morrer aos olhos do público.

Pode-se ver também como as mudanças sociais (as quais fazem o que é louvado hoje ser abominado amanhã) sempre focam seu alvo de ódio (uma vez havendo a mudança de paradigma “moral”) na parte final do processo. Ou seja: naquele que torce o pescoço da galinha.

O que é forte ante a percepção é o processo de suposta isenção que uma corrente de “diluição de responsabilidades” pretende produzir na mente dos implicados. Afinal, “it only my job” — diz cada ser humano membro da cadeia de eventos.

O problema é que a alma não acredita nisso, e, mais cedo ou mais tarde, cobra seu próprio pagamento pela execução dos trabalhos de auto-aniquilamento da consciência individual.

O filme é muito útil a todo aquele que julga que na engrenagem da maldade, a consciência pode ter paz pela suposta auto-justificação de que aquele ato é apenas a seqüência de um processo decisório sem pai e sem mãe éticos.

Na realidade, de um modo ou outro, todos nós fazemos parte de uma engrenagem de morte que, de tão difusa, nos apresenta um cenário psicológico que viaja do ente Absoluto que é o “Estado” (sem pai, sem mãe e sem densidade individual), até o executor físico das medidas, as quais, são por ele praticadas com a suposta isenção que diz: “Isto é apenas um negócio. Portanto, não é nada pessoal”.

O Juiz que decidiu o faz mediante a frieza da Lei, e, no fim do processo, o executor o faz crendo na responsabilidade do Estado. Assim, se crê que ninguém fez mal a ninguém (ou matou ninguém), mas apenas cumpriu seu papel numa cadeia cheia de elos sem responsabilidade individual existente em qualquer deles; pois, de fato, a responsabilidade primeira e final é da Lei e do Estado, ambas as coisas intangíveis para a percepção do indivíduo.

A alma, todavia, não está sujeita à Lei dos Homens, pois, é dotada de uma Lei mais profunda, a qual, jamais está de todo submissa à Moral das circunstâncias e dos acordos da Sociedade (outro ente imaterial, porém, carregado de responsabilidade intangível).

De fato, Deus colocou Sua Lei no coração do homem, e, em oposição sistemática a ela ninguém mantém a sanidade, mesmo que se diga amparado pela Lei Moral criada pelos caprichos ou passageiras compreensões da Maioria.

Os auto-enganos elaborados pela mente na busca de auto-justificação têm poder relativo, e, com o passar do tempo, nada mais funciona quanto a aplacar a verdade que habita o interior humano — ainda que por vezes tal prevalência da verdade do ser contra a moral humana ou contra a Lei da civilização, leve anos para acontecer.       

Ninguém quer fazer o trabalho sujo. Ninguém quer torcer o pescoço da galinha. Assim, o que decide o faz baseado na culpabilidade do acusado segundo a Lei; e quem executa a ordem o faz fundado na responsabilidade de quem mandou que ele assim fizesse, segundo a Lei.

A alma, entretanto, não consegue existir para sempre sob os sacrifícios de “bodes e touros”, e, ao final, levanta-se como carrasco daquele que violou a Lei do Coração.

Alias, o próprio Albert Pierrepoint desenvolveu seus próprios ritos de auto-justificação. Pois, cria que uma vez mortas, aquelas pessoas por ele executadas em nome do Estado, estavam inocentes, posto que pela morte haviam pagado seus próprios pecados contra o próximo. Desse modo, ele tratava os corpos com a delicadeza litúrgica com a qual um padre trata a hóstia em solenidade eucarística.

Até o dia em que Albert começa a executar os que dizem com a boca e os olhos que são inocentes.

Até o dia em que seu talento de executor é celebrado pelas autoridades inglesas, desejosas de dar ao mundo um espetáculo de firmeza-limpa, e pedem ao “carrasco” que vá à Alemanha executar oficiais do alto escalão Nazista, após a guerra. Lá ele começa a surtar sob imenso auto-controle exterior...

Até que seu único amigo mate a amante e ele tenha que passar à volta do pescoço do companheiro de diversão a maldita corda da forca. E isso enquanto o amigo agradece a ele...

Então, vêm os remorsos, as culpas, os pesadelos e as angustias. E, sobretudo, vêm as auto-punições. Sim! Chega a hora da consciência violada pelo “Direito” se tornar o carrasco de si mesma.

Um dia Albert Pierrepoint teve a coragem (ainda que a principio auto-enganada) de por um fim na história de sua família de carrascos. E, em razão de tal decisão, provavelmente tenha dado a si mesmo a chance de grande longevidade, pois viveu mais 40 anos, tendo morrido com mais de 90 anos de idade, em 1992.

As grandes lições do filme são essas aqui mencionadas, e nenhuma delas é coisa de somenos importância para a consciência humana.


Caio

Ed René Kivitz - Libertação