terça-feira, 18 de março de 2014

Homenagem da Vivo e Samsung ao Raul Seixas (Metamorfose Ambulante)

Decifrando os mistérios da Bíblia


Por Hermes C. Fernandes


“Agora vemos em espelho, de maneira obscura; então veremos face a face. Agora conheço em parte então conhecerei como também sou conhecido” (1 Coríntios 13:12).


Naquela época, os espelhos não eram tão polidos quanto hoje. A imagem refletida no metal era distorcida pela sua superfície irregular. Por isso, era necessário que se buscasse uma posição de onde se pudesse ver com mais precisão.

As Escrituras Sagradas nos servem como espelho através do qual podemos ter um vislumbre de Deus.

O que podemos ver num espelho? Qualquer coisa para o qual ele esteja voltado. Assim é com as Escrituras. Ao lê-las, podemos enxergar através delas nossas próprias deformidades. Suas páginas revelam a ambigüidade da natureza humana, capaz de proezas e crueldades, virtudes e vícios.

A Bíblia não esconde nem maquia as vicissitudes de seus heróis. O mesmo Davi que derrota Golias, se rende ao encanto da mulher alheia, e acaba cometendo adultério seguido de homicídio. O mesmo Abraão que se dispõe a oferecer o próprio filho em sacrifício a Deus, omite do rei do Egito a informação de que Sara era sua esposa. Podemos nos ver em cada personagem bíblico. Cada situação que enfrentamos em nosso cotidiano encontra paralelo em suas histórias.

Por isso, Tiago nos exorta:

“Se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla no espelho o seu rosto natural e, depois de se contemplar a si mesmo, vai-se e logo se esquece de como era” (Tg.1:23-24).

Portanto, ler a Bíblia é encontrar-se consigo mesmo. É enxergar sua silhueta emergindo de suas páginas.

Mas quando posicionamos o mesmo espelho na direção de Cristo, vemos Sua glória nele revelada. É como posicionar um espelho na direção do sol. Toda a glória do astro rei pode ser refletida num caco de vidro.
A melhor maneira de se ler o texto sagrado é mantendo os olhos em Jesus. Ele é a nossa Pedra de Roseta*, a chave interpretativa das Escrituras. Tudo aponta para Ele. Desde os sacrifícios exigidos pela Lei, passando pelas festas instituídas por Deus, aos acontecimentos épicos narrados no Antigo Testamento, tudo tem o objetivo de nos revelar a figura central das Escrituras: JESUS CRISTO. Portanto, deve-se ler a Bíblia a partir de Jesus.

Não são as Escrituras que são perfeitas, mas a imagem que elas se propõem refletir. Se fizermos uma leitura crítica, poderemos encontrar dados não tão precisos, como por exemplo, onde o morcego é classificado como ave. Mas se nos posicionarmos corretamente diante deste espelho, poderemos ver claramente a perfeição d’Aquele que a inspirou, ao mesmo tempo em que perceberemos nossas debilidades.

Não há como isolar uma imagem num espelho, apagando o seu background. Quando fitamos nele, vemos também o pano de fundo, o ambiente à nossa volta. Da mesma forma, ao lermos uma passagem escriturística, devemos considerar seu contexto histórico. Não basta ler suas linhas; temos que investigar suas entrelinhas. Não é em vão que Jesus nos orienta a investigá-las. Uma leitura superficial é incapaz de revelar-nos o Deus que Se oculta nas entrelinhas.

Se cremos numa revelação progressiva como acreditavam os reformadores, temos que supor que esse espelho vai ficando cada vez mais polido, até encontrar seu auge nas páginas neo-testamentárias. O que antes era obscuro, agora está mais límpido e claro. As sombras, os ritos e os tipos do Antigo Testamento cedem lugar à realidade revelada pela luz de Cristo Jesus (Cl.2:17; Jo.1:17).

Não vá às Escrituras como quem vai a uma cartomante, ou quem consulta ao horóscopo. Abri-la aleatoriamente não nos trará qualquer benefício. Também não vá em busca de dados científicos precisos. Abra suas páginas em busca de Cristo, e você o encontrará. "São elas que testificam de mim", garantiu Jesus.

A Pedra de Roseta (foto acima) é um bloco de granito negro encontrado no Egito em 1799 por soldados do exército de Napolão Bonaparte. A sua importância se deve ao fato de que, à época de seu estudo, no século XIX, proporcionou aos investigadores um mesmo texto escrito em hieróglifos (escrita egípcia antiga), em egípcio demótico e em grego clássico. Como o grego era uma língua então bem conhecida, a pedra serviu como chave para decifração dos hieróglifos egípcios, que por séculos se mantiveram como uma incógnita. Por causa desta importante achado, milhares de textos egípcios puderam ser interpretados, decifrando a história desconhecida do antigo Egito, e muitas vezes comprovando a acuridade dos textos bíblicos.

CAMINHANDO SEM DEIXAR PEDAÇOS


Jesus ensinou como é que a gente tem que fazer para não sair deixando pedaços de nós pelo caminho. 

O mover humano sobre a terra, em todos os encontros que constroem a vida, em seus múltiplos e interconectivos relacionamentos, estabelece que, muitas vezes, a gente vá levando pedaços de outros em nós; como também cria a possibilidade de que nos deixemos desmembrar e espalhar em muitas partes. 

Sim, muitas vezes, deixamos partes de nós como despojo para os que nos usaram, ou nos comeram, ou nos engoliram, ou nos vampirizaram o ser.

Se pudéssemos nos ver com olhos que enxergam o invisível, veríamos imagens psicologicamente horrendas de nós mesmos e dos outros. 

Vejo uma menina bela, pura, simples e cândida—e que mantinha tal padrão de ser de modo consistente por mais de 25 anos—, subitamente vir a se apaixonar por um homem duro, grosso, cheio de cavalices, incapaz de respeitá-la, canastrão de baixo nível, beberrão e babão; o qual, pega tal menina e vira sexualmente do avesso; e, depois disso, a mantêm como escrava, adoecendo a alma dela; a qual, agora, usa de sua própria bondade a fim de auto-justificar sua permanência numa relação desrespeitosa e desumanizante. 

Mas ela fica com ele. Dois anos depois ela é ainda boa, porém, adoecida pela paixão que se veste de bondade a fim de não ter que encarar o fato de que a visceralidade do vinculo sexual se tornou mais importante que a vida e a paz. 

Ela já não é mais a mesma!

O sadio é mudar sempre em nós mesmos; não mudar de nós mesmos.

Encontros podem mudar completamente o sentido e o equilíbrio do ser. Especialmente se as doenças dos que se encontram, são complementares; pois, nesse caso, faz surgir simbioses entre as partes; ou, ainda, faz com que ambos deixem pedaços de si um com o outro, quando do ato da separação. 

O mesmo se pode dizer de amizades. Há amizades que mudam as vidas das pessoas para sempre; para o bem ou para o mal. Já vi amigos mais casados e conjugados um com o outro, do que jamais conseguiram ser com suas mulheres ou amantes. 

Durante anos e anos de história, convívio, cumplicidades, banditismos, acobertamentos, pactos, admiração, dívidas, testemunho histórico; ou, por último, total conhecimento dos vícios um do outro, muitos vão ficando cada vez mais amigos e parecidos apenas porque estão ficando cada vez mais doentes da mesma doença; sendo, agora, um a doença do outro. 

Quando há uma ruptura, fruto de alguma traição, então, cada um segue para o seu lado, agora sofrendo cada qual outra dor: a de descobrir que já não sabe o que nele é dele; e o que nele é do outro—sendo que sofre por algo que nele existe e não lhe pertence, mas lhes faz muito mal.

Tudo o que não sou eu em mim, não faz bem a mim!

É fundamental que em nosso caminhar a gente “não leve nos pés nem a poeira da cidade”, ou do relacionamento, ou do vício e da co-dependência que nos aprisionou entre paredes de espíritos angustiados.

Jesus ensinou que somente a paz pode nos deixar imunes a essas coisas. 

Encontros, relacionamentos, amores, paixões, desejos, admirações, ou convívio com gente que não consegue nos acolher ou inspirar na paz, sempre arrancam pedaços de nós e nos corrompem.

Por essa razão, Jesus mandou que quando entrássemos numa cidade ou casa, a primeira coisa que fizéssemos fosse proclamar, com sincero desejo, as seguintes palavras: “Paz seja nesta casa!” 

Ele disse que se houver “um filho da paz” no lugar, que nossa paz desça sobre ele; mas se não houver ali espíritos de boa vontade e paz, que nossa paz não se perca como outras formas de energia, como num atirar de pérolas aos porcos. 

Ele disse que nesse caso, não se levasse nem mesmo a poeira daquele chão de discórdias nas sandálias que calçam nosso andar. 

O que deve calçar os nossos pés é o Evangelho da Paz. Não se pode calçá-lo com as poeiras das energias espirituais da amargura, da cobiça, da luxúria, da megalomania, da maldade e da indiferença.

Assim, Jesus não nos ensina sobre o poder de frases poderosas ou mágicas, como o mero dizer: “Paz seja nesta casa!” Ao contrário disso. Pois, embora Ele mesmo faça tal saudação, conforme as narrativas dos evangelhos, o Seu ensino, todavia, é muito mais sério e profundo do que um dizer “paz”. 

Na realidade Jesus estava falando de discernir espíritos. E de não insistir em ‘estadas’ que não promovem a paz, antes nos fazem filhos do ódio, da ira, da hostilidade, ou da antipatia. 

Nesse caso, que não se perca energia espiritual—“...que a vossa paz volte sobre vós”—; e que não se leve nada da energia espiritual daquele lugar, cultura, relacionamento, ou mesmo daquela assembléia de ouvintes.

É obvio que para os que rejeitam a paz que é oferecida como fruto da Graça que é emulada pela consciência do Evangelho, o resultado é danoso. Ninguém se encontra com a Boa Nova, a rejeita, e deixa de ficar num estado sete vezes pior do que antes. 

Quanto mais se rejeita a paz, pior se vai ficando. A ponto de se ficar pior do que “Sodoma e Gomorra”. 

O que se deve saber é que a pessoa humana irradia suas energias o tempo todo. Somente quem anda no espírito da paz é que passa e não se contamina com o que é mal. Quem não anda respeitando o arbítrio da paz no coração, jamais conseguirá passar imune pelos inevitáveis encontros com toda sorte de intenções espirituais malévolas. 

Portanto, chegue e ande sempre na paz. E isto não é frase. Também não é um sentir de ausência de desconforto. A paz é densa, é certa, é serena, é ativa, é alegre. 

Por isso, não se apaixone pela angustia, não se enamore da aflição, não se amasie com a culpa, não se case com a amargura, não sirva ao desrespeito, não entregue sua bondade à auto-destrutividade. 

Não se deve esquecer que quando Jesus ensinou essa verdade aos Seus discípulos, um pouco antes, Ele lhes havia dito: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos”. Assim, tudo o que segue a esta afirmação tem a ver com a proteção do ser-cordeiro no mundo dos seres-lobos. 

Não deixe sua paz se perder na casa da perversidade. Não deixe sua paz se perder na congregação dos indiferentes. Não deixe sua paz servir de tapete para o vomito dos tiranos que desejam se deitar sobre sua vida. 

Que nenhum pedacinho de você fique arrancado e largado por aí. Que a paz seja o poder que proteja você de ser engolido na casa dos lobos.

Não brinque com o ser-lobo. Ele não ama a paz. De seu ambiente espiritual não carregue nem mesmo a poeira.

Mas se você deixou pedaços, não se desespere; apenas descanse na paz. Isto porque quando alguém se deita na paz, que é fruto da confiança, então, tudo o que é “nós”, volta para nós; e tudo o que não é “nós”, sai de nós. 

É a voz daquele que diz como Ezequiel “Senhor Deus, tu o sabes!”, aquilo que inicia o processo que rejunta os pedaços dos ossos secos, e os faz tornarem-se corpos inteiros, completos e vivos.

Enquanto anda, anuncie a paz com sua vida. Anunciar a paz também faz belo o caminho do caminhante. “Quão formosos são seus pés!”

Não há pés mais belos, não há charme mais cativante, não há caminho mais admirável, do que o daquele que anuncia e vive a Boa Nova como paz.

Além do quê, o único ser que pode abraçar a si mesmo com sentido de inteireza é aquele que se deixou pacificar pela confiança. Esse não deixa pedaços de si mesmo por aí.




Caio Fábio