terça-feira, 31 de março de 2015

Procura-se igreja saudável e liderança confiável


Por Hermes C. Fernandes


Em meio a tanta confusão nos arraiais evangélicos, muitos preferem servir a Cristo em seus próprios lares, engrossando assim a fileira da igreja que mais cresce no Brasil e no Mundo: a dos desigrejados. Seu desapontamento com a igreja instituída fez com que agissem como Elias, o profeta solitário que cansou-se de nadar contra maré de corrupção que abatera sobre Israel, planejando terminar seus dias confinado numa caverna. O que ele não sabia é que Deus havia preservado sete mil pares de joelhos que não haviam se dobrado a Baal.

Basta visitar alguns dos milhares de blogs que povoam a blogosfera cristã para certificar-se de que ainda há esperança. A blogosfera transformou-se numa enorme congregação virtual. Gente oriunda de todos os setores da igreja cristã tem a liberdade de expor seu descontentamento com o rumo que a igreja tem tomado.

Como pastor, preocupo-me com aqueles que simplesmente desistiram de congregar e se alimentam unicamente do que é postado em nossos blogs. Precisamos muito mais do que isso. Precisamos construir relacionamentos sólidos, submeter-nos a uma liderança madura e respaldada na Palavra, encaminhar nossos filhos a um ambiente saudável, sentir-nos pertencentes a uma família espiritual, e mesmo, contribuir financeiramente com projetos que visem a glória de Deus e o bem-comum.

Daí surgem algumas questões pertinentes:

Poderíamos congregar numa igreja que não fôssemos capazes de recomendar a outros? Sentir-nos-íamos constrangidos e desconfortáveis em trazer nossos amigos e parentes a um culto?

Que tipo de igreja proveria um ambiente seguro e saudável para os nossos filhos? Que igreja poderia ajudar-nos na formação do caráter deles sem intrometer-se em assuntos domésticos e particulares, e sem expor nossa autoridade como pais? Há igrejas onde o pastor se vê no direito de estabelecer regras nos lares de seus congregados. Filhos crescem sem saber se devem honrar a seus pais ou obedecer cegamente a seus líderes espirituais. Imagine um pastor que exija ser chamado de “pai”, ou ser tratado como tal. Ou ainda: o desconforto de um pai cuja autoridade é rivalizada pela autoridade pastoral.

A que tipo de liderança deveríamos nos submeter? Um pastor que não é respaldado por sua própria família (pais, irmãos, filhos, esposa, etc.), estaria apto a mentorear outras famílias? E quando todos percebem que entre ele e a esposa não há amor? Você se submeteria a um pastor cujo casamento não passasse de um embuste? Que tipo de tratamento ele dá aos filhos? A famíla pastoral deve ser referência. Não digo que deva ser perfeita, mas pelo menos saudável.

Seria sábio submeter-nos a uma liderança susceptível a todo tipo de modismo doutrinário? Hoje prega uma coisa, amanhã prega outra totalmente difirente? Seria correto submeter-nos a uma liderança emocionalmente desequilibrada? Como nossos pastores reagem ante a uma crise? Como reagem quando são elogiados? E quando são criticados? Costumam trazer problemas de casa para o púlpito, ou vice-versa? Gostam de apelar ao emocionalismo? Gostam de tornar as pessoas dependentes deles?

Seria sábio submeter-nos a uma liderança antiética? Quem suporta um pastor que só sabe falar mal dos que o antecederam? Você se submeteria a um pastor que sequer sabe ser grato a quem o instituiu? E mais: com quem ele anda? Quem são seus amigos? Quem freqüenta sua casa? Não me refiro a amizade com pessoas não cristãs, e sim a amizade com falsos cristãos, lobos infiltrados no meio do rebanho para causar-lhe dano.

Como acolhem as pessoas que chegam a igreja? Dão o mesmo tratamento independente da posição social? Desprezam os veteranos para dar maior atenção aos novatos? Como são tratados os anciãos? Lembre-se que um dia você será um.

E quanto às contribuições? Seria sábio contribuir numa igreja onde a liderança é pródiga? É correto o pastor fazer compromissos maiores do que os que a igreja possa arcar e depois escapelar os irmãos na hora das ofertas? Como as ofertas são pedidas? Há muita apelação, manipulação e pressão psicológica? E como elas são administradas? A quem o pastor presta contas? Há uma instância acima dele? O que entra na igreja é usado exclusivamente ali ou parte é destinada a trabalhos missionários? Há projetos sociais relevantes? Que resultado esses projetos têm alcançado?

É correto usar o dinheiro da igreja para pagar cachês a cantores e bandas convidadas?

E se o pastor eventualmente cometer um deslize grave, como adultério ou roubo,quem poderá admoestá-lo, ou mesmo puni-lo?

Como a igreja lida com questões políticas? É certo a liderança apontar em quem os membros devem votar? É correto levar candidatos para o púlpito e ceder-lhes a palavra? Há algum trabalho de conscientização para que as pessoas exerçam sua cidadania cabalmente, sem interferência?

Quais os critérios usados pelo pastor para ceder seu púlpito a outro pregador?

Olhe para as pessoas à sua volta, principalmente para as que chegaram antes de você e pergunte-se: Elas são hoje pessoas melhores do que eram anos atrás? As pessoas que congregam ali estão amadurecendo na fé? Lembre-se: elas podem ser você amanhã.

E quanto ao culto? Percebe-se a presença de Deus naquele lugar? Há reverência ou simplesmente oba-oba? As pessoas que freqüentam estão realmente interessadas na Palavra ou só aparecem quando há algum evento ou convidado especial?

Essas são apenas algumas questões que precisam ser consideradas. Se você tiver alguma outra questão igualmente relevante, por favor, poste em seu comentário.

O que não podemos é desistir da igreja de Cristo, seja reunida de maneira formal ou informal. Não basta criticar, urge encontrarmos saída para resgatá-la deste estado calamitoso em que chegou.

Fonte - Blog de Hermes C. Fernandes

Before They Were on Mad Men

quarta-feira, 25 de março de 2015

CONCEITO DE FANTASIA PERVERSA


O que é fantasia do ponto de vista psicológico?


 

 

Fantasia é uma noção que encontra as mais diversas conceituações na psicologia. O conceito de Freud relaciona a fantasia a um mecanismo ligado ao princípio do prazer e distanciado do mundo externo, que o indivíduo utiliza como uma busca da satisfação por meio da ilusão.

Para Jung a fantasia expressa o fluxo ou agregado de imagens e idéias vindas do Inconsciente, e que produz uma atividade imaginativa, espontânea e criativa da psique.

Assim, a Fantasia é uma espécie de união entre os conteúdos inconscientes e conscientes. Nesse caso, a fantasia é o resultado imediato de operação das estruturas arquetípicas; ou seja: daquilo que no inconsciente são simbolos e imagens que correspondem ao sentido ou des-sentido do mundo interior, e que buscam Integraçao com o consciente humano.

Jung classificou a Fantasia em "fantasias ativas", as que requerem o auxílio do ego para emergirem na consciência, e "fantasias passivas", aquelas que emergem diretamente do inconsciente, porém utilizando-se de conteúdos conscientes.

As fantasias ativas seriam altamente criativas, enquanto que as passivas seriam de natureza patológica. Ambas podem ser interpretadas.

O que nos interessa aqui, entretanto, é a fantasia como fuga e evasão da realidade e, espiritualmente, da verdade.

Quando Jesus disse que o nosso ser deveria ser “sim” para sim e “não” para não, Ele acabava com a fantasia como fuga do real. Pois o que disso passa faz mal; ou seja: vem do maligno.

Ele, entretanto, nada tinha contra a fantasia assumida como arte e criação; jamais teria.

Todavia, a fantasia como fuga do que é, para Jesus é o caminho do diabo no ser.

Quase todo mundo tem grandes doses de fantasia perversa na mente.

Fantasias perversas são aqueles que privam o individuo da apreciação da realidade, dando a ele um olhar que corrompe tudo.

Tais pessoas não amam, elas desejam o desejo; mas nem mesmo desejam o desejado.

Digo estas coisas tão simples apenas por estar convencido cada vez mais de que boa parte do que as pessoas chamam vida, problema, angustia, dor, esperança, fé, crença, etc. — não passa de fantasia.

Conheço muita gente que tem fétansia, não fé.

Ora, a lista é sem fim; e eu tenho que dar uma saidinha agora...


Pense nisso, entretanto!


Caio

domingo, 22 de março de 2015

Quem disse que Jesus não combina com chicote?




Hermes C. Fernandes



Havia uma expectativa no ar. Todos comentavam entre si que finalmente chegara o dia em que o Messias tão esperado adentraria triunfantemente em Jerusalém; dirigindo-se ao palácio, deporia Herodes, o rei fajuto, marionete do império romano. Um tal galileu surgira na periferia, fazendo milagres, exorcizando demônios, alimentando multidões. Além de tudo, tinha pedigree. Só poderia ser Ele, o filho de Davi, que libertaria Seu povo do domínio romano, e assumiria o trono do qual era herdeiro.

A cidade estava em polvorosa. Munidos de ramos, todos dirigiram-se ao portão principal para dar boas vindas ao que vinha em nome do Senhor. HOSANA! Os tempos áureos voltaram! Viva o Filho de Davi!

De repente, desponta no horizonte um figura doce, serena, montada num jumentinho. Seus discípulos O precediam e engrossavam os brados de hosana.

Acostumados em assistir às paradas triunfais, em que reis e generais se apresentavam montados em extravagantes corcéis, a imagem d’Aquele galileu montado num jumento era, no mínimo, frustrante. Mesmo sem entender direito o que acontecia, os brados de hosana se intensificavam. Talvez aquilo fosse um recurso cênico, visando identificá-lO com as camadas mais pobres e oprimidas da sociedade. Ninguém sabia que o jumentinho era emprestado.

Ao atravessar o portão da cidade, todos imaginavam que Ele Se dirigiria ao palácio, liderando o povo para uma tomada de poder, mas em vez disso, Ele toma o lado oposto, e Se dirige ao Templo.

Possivelmente muitos pensaram que Ele faria uma breve escala no templo, a fim de legitimar Seu motim, buscando apoio da casta sacerdotal.

Inusitadamente, Sua feição é transformada. O galileu humilde montado num burrinho, agora improvisa um chicote, adentra os pátios do templo, e de lá expulsa os cambistas e mercadores.

Confusão geral! Os brados de hosana foram substituídos por burburinhos. Todos estavam enganados em suas expectativas. Ele não estava interessado em ser unanimidade. Não buscava apoio dos sacerdotes, nem dos dos principais partidos religiosos.

O reino que Ele representava não propunha mudanças que começassem pelo palácio, mas pelo templo. A Casa de Seu Pai estava sendo profanada, transformada num mercadão a céu aberto. Antes de instaurar a ordem do reino, aquela “ordem” teria que ser subvertida. Mesas de pernas pro ar! Gaiolas abertas! Cambistas expulsos!

O mesmo Cristo do jumentinho é o Cristo do chicote. Não confunda Sua humildade com passividade. Ele jamais fez vista grossa às injustiças dos homens.

Depois de limpar o terreno, cegos e coxos Lhes são trazidos, e Ele os cura ali mesmo. De repente, o silêncio é quebrado por brados de hosana, que desta vez vinham dos lábios de crianças.

Os sacerdotes, indignados, perguntam se Ele não se incomoda com aquilo. Jesus responde: Vocês jamais leram? Da boca das crianças é que sai o mais puro louvor.

Repare nisso: Os hosanas bradados à entrada de Jerusalém não mereceram qualquer comentário de Jesus. Entretanto, Ele sai em defesa das crianças que O louvavam com a mesma expressão. Por quê? Porque estes eram legítimos, desprovidos de interesses. Os hosanas de quem O recepcionou à porta da cidade foram interrompidos, tão logo Jesus feriu seus interesses.

Aqueles O louvavam por imaginarem que Jesus planejava um golpe político, e que, em posse do trono, romperia relações com Roma, reduziria a carga tributária, e restabeleceria a monarquia de Davi. Mas Jesus tinha em mente outro tipo de revolução. Somente as crianças estavam prontas para isso. Naquele momento, Jesus Se tornou no super-herói da meninada.

Só Ele teve a coragem de desafiar o status quo. Só Ele ousou enfrentar os que detinham o monopólio religioso.

Enquanto as crianças O louvavam, os adultos, indignados, já pensavam em como detê-lO. Foi esta postura subversiva que Lhe custou a vida. Começava ali a contagem regressiva para que o Cristo subversivo fosse morto, não por defender uma ideologia, mas um ideal, o ideal do Reino de Deus.

Desde então, o grito de “hosana” deveria ter conotação subversiva, e não ser mais um jargão religioso. Que seja o hosana das crianças, dos representantes do futuro, aqueles para os quais é o reino dos céus, e não o hosana dos interesses inconfessáveis, do monopólio, da religiosidade insípida, do jogo político. É triste e revoltante ver tantos cristãos deixando seus cultos dominicais portando ramos nas mãos, sem com isso serem cúmplices de Deus na instauração do Seu reino.

Que a religião instituída desista de tentar domesticar Jesus

Fonte: Blog de Hermes C. Fernandes

sexta-feira, 20 de março de 2015

Entre a Babilônia e o Jornal Nacional


Por Hermes C. Fernandes


Para começo de conversa, detesto qualquer tipo de patrulhamento, seja cultural, político ou ideológico. “Foi pra liberdade que Cristo nos libertou”. Ou não foi? Então, não me venha com esta conversa de que devemos boicotar este ou aquele programa de TV. Cada qual deve ser guiado por sua consciência, que por sua vez, deve ser iluminada pelo Espírito Santo e pelo bom senso.

Perdoem-me a franqueza, mas estou cansado da mesma ladainha como a que se ouviu no lançamento de outras novelas como a “Salve Jorge”. Porém agora, com uma agravante. O título da novela é “Babilônia”. Como um cristão poderia dar audiência a um folhetim cujo nome nos remetesse às pragas do Apocalipse? Deixar de assistir a uma novela por se chamar "Babilônia" seria equivalente a deixar de tomar um ônibus porque seu número é 666. 

Para piorar a situação, logo no primeiro capítulo, duas atrizes consagradas se beijam. Talvez se fossem duas mocinhas alguns marmanjos não se incomodassem tanto. Deixariam passar batido. Mas duas anciãs? Que pouca vergonha é essa? Não assisti à tal cena devido ao horário em que cheguei à casa. Mas deu tempo de pegar o finalzinho do primeiro capítulo, quando uma das protagonistas assassina friamente o motorista de seu marido com quem teria se envolvido sexualmente. Ninguém se queixou disso. Tirar a vida do outro para encobrir seu erro já não embrulha estômago de ninguém. Mas duas velhinhas se beijando... isso é nojento! Também não vi comentários sobre as cenas finais da última novela (Império) em que o pai é assassinado pelo próprio filho. Ninguém deu tremelique, nem protestou. 

Quão hipócritas somos! Acostumamo-nos com certas cenas violentas, porém outras ainda mexem com nossos escrúpulos e expõem as entranhas de nossos preconceitos. “Isso é pecado!”, esbravejam alguns. Mas tirar a vida de alguém também não o é?

Quando se trata de dois rapazes, o receio é que isso acabe influenciando os jovens a se envolverem sexualmente com pessoas do mesmo gênero. Há pastores cujo temor é que um de seus filhos descambe para o homossexualismo. Que baita escândalo isso não provocaria em seu ministério! A preocupação maior é com a repercussão do que propriamente com o bem-estar do filho. É claro que não estou generalizando, mas esta a conclusão a que cheguei depois de conversar com alguns. Já ouvi alguns dizerem que prefeririam ter filhos bandidos a ter filhos gays. Mas em se tratando de duas anciãs, o que isso poderia provocar? Já pensou se a moda pega e as irmãzinhas do coral resolvem virar a casaca? rs

Ora, se o que a novela apresenta nos ofende, basta trocar de canal. Só espero que adotemos os mesmos critérios para os enlatados made in USA. A gente abomina a teledramaturgia nacional, mas consome vorazmente tudo o que o cinema e os canais por assinatura oferecem. Ainda não vi ninguém se levantar no meio de um filme e deixar a sala de exibição ofendido com as imagens. No cinema, tudo entra na conta da licença poética. É como se o escurinho do cinema nos cobrisse com um manto que nos permitisse deixar do lado de fora os escrúpulos. Mas a TV, via de regra, está no centro de nossa sala de estar, lugar de passagem de toda a família. Neste ambiente, um discurso moralista cai bem e preserva nossa imagem. Santa hipocrisia,Batman!

Assisto a qualquer filme ou novela com o mesmo olhar: o de alguém que busca entender os conflitos humanos. Para mim, o que importa não é se haverá ou não nudez ou cenas de sexo ou beijos homossexuais, e sim se há uma trama bem construída que exija de mim uma atenção redobrada e o uso de mais de dois neurônios.

É de Paulo a recomendação para que vejamos de tudo, mas retenhamos somente o que for bom. Talvez alguém argumente que não há absolutamente nada de bom num folhetim de TV. Tudo vai depender do nosso olhar. Como me interesso pelo ser humano e suas idiossincrasias, sempre encontrarei algo bom, até em filme de terror.

Parte do problema é que as pessoas não conseguem distinguir entre narrativa e apologia. Um filme ou novela que tem que lançar mão de cenas gratuitas de nudez, violência ou sexo para alavancar a audiência não é capaz de despertar meu interesse. Prezo pelo conteúdo, pela construção, pelo argumento. Se enriquece a trama, tudo bem, não me incomodo. O importante é suscitar o tema, provocar debate, nos fazer pensar. 

Alguns, mais afoitos, chegam a propor o boicote da emissora por seu conteúdo supostamente imoral. Sinceramente, considero que o pior veneno que a tal emissora destila em nossos lares não é através de suas novelas, mas de seus telejornais. Não faz sentido trocar de canal durante a exibição de Babilônia depois de dar crédito a tudo o que assistiu no Jornal Nacional. Prefiro ter meus escrúpulos ofendidos a ter minha inteligência subestimada.

Fonte: Blog de Hermes C. Fernandes

quinta-feira, 12 de março de 2015

A militarização da fé cristã


Por Hermes C. Fernandes


Recentemente a igreja universal provocou reação inusitada em boa parte da sociedade ao promover um culto em que centenas de rapazes entraram marchando, vestidos como militares e respondendo a gritos de ordem emitidos do altar. Justamente numa época em que o fantasma de um novo golpe militar paira sobre a sociedade brasileira, era de se esperar que os tais “gladiadores do altar” despertassem suspeita de que a tal denominação estivesse arregimentando jovens para uma espécie de milícia paramilitar. Particularmente, duvido que seja isso. Apesar de discordar da doutrina, da teologia e das estratégias mirabolantes da IURD, nego-me a crer que Edir Macedo tenha chegado a tal grau de insanidade. Prefiro acreditar que se trate de mais uma jogada de marketing. Todavia, não censuro os que ficaram com um pé atrás ao assistir àquele espetáculo medonho. Principalmente se levarmos em conta o estrago que milícias religiosas têm feito ao longo da história (as cruzadas, por exemplo) e as que têm agido em nossos dias em nome de uma fé fundamentalista e cega (como o Estado Islâmico).

Não consigo enxergar nem um parentesco entre a proposta de Jesus e uniformes, marchas e gritos de ordem característicos dos que batem continência nos quartéis.

A universal não é a única a lançar mão deste expediente. Muitas outras igrejas o fazem, ainda que não tão escancaradamente. Outras, entretanto, vão até além, usando fardas camufladas, promovendo acampamentos para treinamento, utilizando títulos da hierarquia militar, etc. Basta ouvir muitas das canções entoadas em seus cultos, nas quais se faz alusão a Deus como general, capitão, e ao seu povo como exército.

Alguns poderão alegar que haja precedentes bíblicos para isso. Afinal de contas, a alcunha “Senhor dos Exércitos” é encontrada diversas vezes nas Escrituras. Porém, temos que entender os tempos. Era assim que o povo de Israel se referia ao seu Deus em épocas de batalhas épicas contra exércitos numerosos de impérios como o assírio, o babilônico e o romano.

Também é verdade que o próprio Paulo, o apóstolo dos gentios, toma emprestados conceitos militares para descrever a batalha espiritual na qual estamos engajados (Ef.6 e II Cor. 10, por exemplo). Mesmo João, conhecido como o apóstolo do amor, no livro de Apocalipse apresenta Jesus à frente de um exército celestial. Tudo isso, porém, são figuras de linguagem que visavam facilitar a compreensão de cristãos primitivos que viviam num cenário caótico onde a guerra era sempre iminente.

Porém, o que prevalece nas páginas do Novo Testamento é a figura de Cristo como o Príncipe da Paz. Se houvesse nele qualquer pretensão de desbancar Roma e tomar o poder, Ele teria entrado em Jerusalém montado num soberbo corcel branco, e não num modesto jumentinho.

Vejo como falta de sabedoria o uso de elementos militares em qualquer expressão de culto que ofereçamos ao Senhor em nossos dias.

Nos anos 70 e 80, quando o Brasil vivia o auge da ditadura militar, participei de muitas marchas ao som de cornetas e tambores. Era o espírito da época. Os tempos são outros. E isso demanda de nós uma postura mais idônea, menos infantil. Se quisermos que o mundo nos leve a sério, devemos deixar as coisas de criança, como recomendou Paulo. Imagine se o apóstolo fosse além da figura de linguagem e resolvesse pregar vestido como um centurião romano. Isso seria inadmissível, além de ridículo. 

Fonte: Blog de Hermes C. Fernandes

quarta-feira, 11 de março de 2015

QUEM FEZ VOCÊ CRER NO SUCESSO DA IGREJA SEGUNDO ESTE MUNDO?


O que Jesus veio fazer neste mundo teria falhado? Sim, é justo que se pergunte isto ante o que Sua mensagem e feitos [...] realizaram na experiência da existência histórica dos humanos ou coletivamente na História humana?


É verdade que Ele disse que o mundo odiaria a Sua Palavra e aos que por ela vivessem; e também que a melhor chance que o mundo teria de crer que Ele fora enviado pelo Pai seria mediante a prática simples do amor entre os Seus seguidores; e mais: é também verdade que Ele parecia crer que quando Ele voltasse outra vez [o Filho do Homem], não haveria fé na Terra.

Também é verdade que Ele disse que o Seu Caminho/Porta era estreito, e que apenas poucos entrariam por ele; e também é fato que nas Suas mensagens proféticas não se encontra nenhum traço de “vitória” associada ao que Ele chamou de “minha Igreja” [...] como ente a impor-se sobre o mundo.

É ainda inequívoco que Ele tenha dito que o futuro não aguardava os Seus discípulos com nenhuma Era de Paz e de Amor entre os homens; ao contrário, as Sua Palavras nos falam de ódio, divisão, de irmão entregando irmão; de casas divididas; dos inimigos do homem serem os da sua própria casa; e que Ele mesmo não viera trazer paz à Terra, mas espada.

Sim, a leitura das Palavras de Jesus não nos acende na alma a esperança de controlarmos os poderes do mundo, nem das nações, e nem da Civilização humana; antes disso, no indica um caminho de fé entre poucos, uma vereda discreta, um pequenino rebanho, algo como o voar de vagalumes na escuridão da noite.

Nos evangelhos não encontramos essa Palavra de Vitória de Jesus sobre os Poderes da História, sobre o Mundo; e nem tampouco qualquer insinuação de que a Sua Igreja seria vitoriosa sobre as forças do Príncipe deste mundo como fenômeno de supremacia do bem sobre o mal.

Não, nem os evangelhos e nem o Apocalipse nos descrevem tais cenários. Portanto, outra vez, pergunto: de onde, pois, eles nos vieram, ao ponto de que hoje pensemos que alguma coisa tenha falhado?

Até ao 4º Século desta Era nenhum discípulo cria que viveria para ver a Igreja ser qualquer coisa além de um Fermento, uma Luz, um Sal na vastidão da terra, um Pequeno Rebanho entre Lobos, uma pequena Semente que cresceria como sombra e lugar de agasalho; mas não de triunfo.

Ora, e isto tudo ainda em meio a divisões internas, a apostasias, a negações, perversões e mortes espirituais de muitos grupos que, antes haviam crido, mas que, ante a imposição “da espera” [...] perderiam a fé; e, portanto, escandalizar-se-iam, trairiam, desistiriam; ou, então, tornar-se-iam “maus” e aproveitadores dos demais — conforme várias parábolas de Mateus, Marcos e Lucas nos deixam ver...

Todavia, o paradigma foi mudado para sempre nas falsificações das esperanças da Igreja que foi virando “igreja”, quando o Império Romano ungiu a “Igreja” e criou o “Cristianismo” como poder terrestre e mundano.

É daí que vem esse surto de Vitória Visível da Igreja de Jesus na Terra; e, consequentemente, a busca por tal poder entre os homens —; ou, em meio á frustração de não conseguir realizá-lo, a não ser pela espada e pelas forças do Príncipe deste mundo, vem a descrença, o sentimento de fracasso, de inviabilidade do Evangelho e da Igreja no mundo; instalam-se como descrença e cinismo na alma dos que antes criam e amavam.

Sim; tal sentimento decorre de que a Igreja passou a pensar como “igreja”, e de que o Evangelho tenha sido entendido como uma revolução inescapável a impor-se sobre os principados e potestades dos sistemas do planeta.

Desse modo, cada novo cristão se converte crendo que sua geração mudará o mundo; e que o que não aconteceu no passado, acontecerá hoje; e mais: crendo que a “vitória” da Igreja sobre o Império Romano provou tal possibilidade [...]; não enxergando eles jamais o oposto; ou seja: que, ali, naquela virada [ou melhor: naquela emborcada], quem estava sendo definitivamente derrotada era aquilo que até então, com todos os problemas previstos nas profecias, era, na sua fraqueza, forte; e na sua fragilidade e falta de densidade, invencível; a saber: a Igreja na sua melhor expressão histórica até então.

Sim, o Imperador Constantino se tornou o pai do sonho de supremacia da Igreja sobre o mundo; e, desde então, todos os grupos cristãos anelam pela volta de tais dias, ou mesmo pela reimplantação deles na sua geração. Daí os cristãos terem-se por tão honrados quando um governador se “converte”, ou quando uma “autoridade eclesiástica” é elevada de maneira pública, ou quando à “igreja” um poder politico atribua importância, significado e força histórica.

Jesus, todavia, nunca nos deu a menor margem de crença em tais coisas até ao fim. Jamais! O que Nele vemos é que apesar de tudo a Igreja não seria destruída e que as Portas do Inferno não prevaleceriam contra ela; mas, em momento algum, se vê Jesus afirmando que a Sua Igreja criaria um Milênio; algo como um impor da verdade e do amor sobre as forças do mundo e da história; ou ainda que ela tornar-se-ia reconhecida como o Oráculo divino falando aos homens.

Ao contrário, ao ouvirmos o que Jesus disse, o que percebemos é que tais possibilidades de “vitória” sempre seriam sinais de apostasia da fé; sempre seriam a declaração de que se teria aceito a cooptação das forças do Príncipe deste mundo; sempre seria algo que apenas nos poria no lugar de ungir a Besta no papel de um Falso Profeta.

Para Jesus, o reino de Deus não se manifestaria com demonstrações visíveis, mas invisíveis e interiores; seria um poder no olhar, no espírito, na existencialidade; seria algo somente discernível por quem tivesse nascido da água e do espírito; e que aconteceria sempre sob o signo do desprezo e das muitas batalhas.

Quanto a não permitir que qualquer impressão de supremacia da Igreja como Potestade se instalasse na mente dos Seus discípulos, Ele afirmou: “Não será assim entre vós; antes, o maior seja o menor; o grande seja o que sirva; o poderoso seja o fraco do amor e da entrega”. E, lhes lavando os pés, disse: “Compreendeis o que vos fiz? Eu vos dei o exemplo!”
Pedro já advertia os discípulos dos seus dias, e que começavam a sofrer e a perguntar quando seria o tempo da vitória, dizendo-lhes que não lhes parecesse que algo teria dado errado, posto que o Senhor lhes garantisse que seria como estava justamente acontecendo...; e disse também que por tal equivoco de esperança surgiriam muitos perguntando “onde está a esperança da Sua vinda?”; ou mesmo indagariam acerca do “poder da Sua Presença” entre os homens...; visto que tudo continuara como desde o principio da criação que se pervertera.

Em Mateus 24 e 25 todas as Parábolas de Jesus nos falam de uma “espera” devastadora e desalentadora; de tal modo que alguns ficariam “maus e abusivos”, outros “dormiriam de desesperança”, outros “enterrariam seus dons de amor”, outros somente O veriam em “cenários sagrados” ou predeterminados; daí não serem capazes de vê-Lo entre os pobres, marginalizados, desterrados, doentes, abandonados e não desejados desta existência.

O fenômeno da Hermenêutica Constantiniana de interpretação do significado histórico da “Igreja” foi algo tão poderoso, e continua a ser, que, para muitos, parece que a mensagem de Jesus falhou; especialmente agora, quando o mundo se torna pós-cristão; ou seja: torna-se pós-constantiniano.

Jesus, no entanto, nos disse que a Igreja estaria aqui; e que testemunharia; e que morreria; e que não desistiria; e que não seria enganada; e que não viveria de contabilidades de poder humano; mas da força do Espírito e do olhar do Reino instalado nos corações de todos os que viram e entraram no Mistério do Indiscernível do Reino de Deus em sua atual manifestação não disponível ao mundo.

Enquanto isto [...], Jesus disse que o Espírito sopra aonde quer... [...], e que ninguém sabe de onde Ele vem ou para onde Ele vai... [...]; mostrando-nos assim que a Igreja é um ente levado [...]; e que para além do que ela própria veja [...], existe o que somente Deus vê; coisas essas nas quais os discípulos têm apenas que crer; crer enquanto servem, amam, esperam, se entregam, se sacrificam; nunca se deixando vencer do mal, mas sempre vencendo, em suas vidas, o mal com o bem.

É, portanto, o espírito do mundo, de Satanás, do Príncipe que oferece poderes terrenos [...] — aquele nos lança em surtos de “vitória terrena da Igreja” sobre as aparentes forças da História.

É a mesma voz que se fez ouvir no “alto monte” ou no Capitólio Romano nos dias de Constantino [...] a nos falar que existe um mundo a ser “conquistado” pela Igreja de Deus!

Para a verdadeira Igreja de Deus este mundo, com seus poderes, é apenas o lugar da morte, do sacrifício, do testemunho, do amor não correspondido e do serviço por nada; exceto pela obediência; posto que assim como foi com Jesus seria conosco; e isto conforme Ele próprio disse e repetiu em inúmeras formas e ocasiões diferentes.

Se esse paradigma diabólico, completamente presente nas falsas esperanças, no discurso e na prática da “igreja”,  não der lugar ao que Jesus disse que seria e aconteceria [...], até mesmo a verdadeira Igreja terá seu poder minado pelo engano; havendo cada dia menos luzes de esperança e gosto de sal no testemunho do amor neste planeta marcado para o Grande Dia da Revelação.

Eu, porém, enquanto escrevo estas linhas, sinto o vento, e percebo seu bulício; por vezes mudando de direções [...], mas sinto que ele sopra em sua independência, visto que vejo o mover das árvores; sim, balançando ora pra lá, ora pra cá; e, algumas vezes, como agora, aparentemente parando de moverem-se... Mas eis que outra vez vem o vento!... Agora uma brisa sob meus pés... Sim! O mover não cessa nunca!

Desse modo entendo meu lugar na vida e no mundo segundo Jesus!

Sim, não sou o Gerente do Vento; nem sou o indicador do seu caminho; nem tampouco aquele que sabe quando e de onde ele virá. Não! Apenas o constato. Apenas o aproveito. Apenas celebro sua soberania invisível. E, conforme disse Jesus, apenas creio que do mesmo modo é todo aquele que é nascido do Espírito.

A Palavra de Jesus, portanto, não falhou; ao contrário, contra todos os esforços miseráveis, armados e dispostos a recorrer a todos os poderes deste mundo [conforme o tem feito o “Cristianismo” e ou a “Igreja” em todo este tempo], a Palavra de Jesus se impôs e prevaleceu; posto que ela teria falhado justamente se o Caminho dos Discípulos tivesse se tornado a Política Global deste Planeta; ou seja: se a ONU dissesse que é da “igreja” que procede a honra, a glória e o poder. Então era sinal de que o reino do anticristo estaria de fato definitivamente instalado.


Nele, que não nos deixou enganados quanto ao que fosse vitória e sucesso no andar do Reino, do Evangelho e da verdadeira Igreja de Deus,


Caio

terça-feira, 10 de março de 2015

Brasil: Pátria Corruptora



"Quão terrível e quão lastimável é que a nação viva em corrupção. É como óleo de peroba que vai descendo desde o topo, daqueles que deveriam ser exemplo, escorrendo até encharcar todo o tecido social. Ali o Senhor ordena o juízo até que se convertam de seu mau caminho e aprendam a prática da justiça motivada pelo amor." Uma paráfrase do Salmo 133.



Por Hermes C. Fernandes

Chegando hoje ao banco de que sou cliente, assisti a uma lamentável cena: um chefe de família sendo detido por haver roubado uma lâmina de barbear num supermercado. Os seguranças o renderam com arma em punho, como se o mesmo pudesse resistir. Enquanto eu aguardava para ser atendido, pus-me a refletir:

Qual será o futuro de uma nação em que ser honesto é uma exceção? Será que nos tornamos numa nação de ladrões em potencial? Seria esta a confirmação do adágio que diz que a ocasião faz o ladrão?

Como poderia ser diferente se a população não encontra em seus líderes uma referência de integridade moral e ética? Se os que estão no topo da pirâmide podem, por que os que se encontram em sua base não teriam o mesmo direito? Enquanto isso, nossa população carcerária não para de crescer. O político preso cumpre sua pena em casa. O ladrão de galinha divide uma cela com outros cinquenta. Como gostaria que acontecesse aqui o que está acontecendo na Suécia, onde quatro presídios serão demolidos por falta de quem os ocupe. 

Em seu discurso de posse, a presidente Dilma anunciou que o slogan de seu segundo mandato seria “Brasil: Pátria Educadora”. Mais de cinquenta milhões de eleitores acreditaram que sua proposta era a que melhor se ajustava aos anseios populares. Porém, agora, três meses depois, boa parte de seu eleitorado declara-se arrependido. A despeito da avassaladora campanha da oposição para desacreditá-la, o fato é que sua postura ante aos desmandos cometidos em sua gestão parece fornecer munição a seus adversários. É como se a presidente desse o passe que culminaria no gol contra marcado por seu próprio time. Mesmo que não seja comprovadamente corrupta, tem-se mostrado mais leal aos seus correligionários do que à nação que a elegeu; o que, diga-se de passagem, pode ser interpretado como cumplicidade ou conivência. Bem faria a presidente em dar ouvidos à admoestação bíblica:

“Até quando defendereis os injustos, e tomareis partido ao lado dos ímpios? Defendei a causa do fraco e do órfão; protegei os direitos do pobre e do oprimido. Livrai o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios. Eles nada sabem, e nada entendem. Andam em trevas. Salmos 82:2-5ª

E mais:

“Os teus príncipes são rebeldes, companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno, e corre atrás de presentes. Não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas.” Isaías 1:23

Imagino o quão difícil deve ser cortar na própria pele, ao ver colegas que lutaram ao seu lado tendo que responder por crimes de lesa-pátria e corrupção ativa. A remoção dos que agem iniquamente é condição sine qua non para que um governo resgate sua credibilidade junto a opinião pública. “Tira o ímpio da presença do rei”, exorta Salomão, “e o seu trono se firmará na justiça”(Pv.25:5).

Quem dera fôssemos realmente uma pátria educadora, onde nossos filhos encontrassem nos líderes da nação, homens e mulheres de envergadura moral e ética inquestionável. Em vez disso, eles crescem acreditando que vale a pena ser desonesto, pelo menos, aqui, em nossa tão amada e idolatrada pátria. A corrupção tornou-se num câncer cuja metástase já afeta todo o tecido social. Não há inocentes. Todos os partidos estão igualmente chafurdados neste tremedal de lama. O diagnóstico divino pronunciado pelos lábios do profeta parece caber como uma luva:

“Pereceu da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que seja reto. Todos armam ciladas para sangue; cada um caça a seu irmão com uma rede. As suas mãos fazem diligentemente o mal; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, e o grande fala da corrupção da sua alma, e assim todos eles são perturbadores”.
Miqueias 7:2-3

É esta sociedade completamente corrompida que fornece os componentes de nossa classe política. Eles não vêm de outro mundo, mas das famílias que constituímos. Ao chegarem ao poder, seu mau exemplo garante a continuidade da estirpe, retroalimentando um ciclo funesto aparentemente inquebrável. Não seria o caso de cobrarmos menos um mundo melhor para os nossos filhos e tratar de garantir filhos melhores para o nosso mundo?

Devo reconhecer que temos a classe política que reflete fidedignamente nossa estatura moral. Se quisermos que algo mude, não podemos esperar por eles. A mudança deve começar em nossa casa. Quando nossos lares fornecerem, não apenas políticos honestos, mas também empresários conscientes de seu dever cívico, comerciantes menos gananciosos, policiais íntegros, professores idealistas, advogados éticos, médicos altruístas, líderes religiosos mais afáveis e cordatos, o mundo estará ensaiando para tornar-se num lugar melhor para as próximas gerações. O ciclo da corrupção finalmente terá se partido e a justiça prevalecerá.


Seria ótimo se esta revolução começasse de cima para baixo. Mas não faz sentido ficar esperando por isso a vida inteira. Então, que comece de baixo. Que nossos púlpitos sejam menos usados para campanhas políticas e mais usados para educar nossa gente. Que nossos quadros negros não sejam usados apenas para informar, mas também para instruir e formar o caráter dos alunos. Que nossos pais sejam exemplos vivos para os seus filhos. E que sejamos motivos de orgulho para os nossos pais. 

Caso o contrário, quem precisará de um impeachment será toda uma geração. 

segunda-feira, 9 de março de 2015

O DIABO MORA NA PORTA DA NECESSIDADE


Jesus disse aos judeus que Deus poderia “das pedras suscitar descendência à Abraão”. Entretanto, Ele negou-se a transformar pedras em pães. Mas, paradoxalmente, iniciou Seu ministério transformando água em vinho.

Portanto, quando da tentação—ocasião na qual negou-se a transformar pedras em pães—a ênfase não recai na violência essencial, do ponto de vista físico, que tal “transformação” implicaria, mas sim nas razões que o induziam a ver naquilo uma tentação.
Ora, Ele estava sendo sugestionado pelo diabo, e, em toda sugestão que carregue uma motivação errada, não importando o que seja, seguí-la, é sempre algo mal.
Aqui, neste ponto, fica claro que a questão de Jesus para não realizar aquele feito, não era de natureza moral e nem teológica, mas sim existencial. Seguir aquela sugestão seria mal tanto em razão da motivação—de um lado, fome; de outro, demonstração de poder—, quanto também em razão do motivador: o diabo.
De fato, o diabo mora na esquina onde a necessidade e oferta se encontram sob o patrocínio da fome.
O interessante, naquele episódio, é que o diabo não faria nada, e não fez nada, exceto sugerir que Jesus fizesse algo por Si mesmo. Isto porque o diabo precisa do indivíduo para realizar qualquer coisa. O diabo não realiza nada na Terra sem o homem.
O mal não é pré-definido, necessariamente. Às vezes ele o é, e todos sabemos quando ele já chega com sua própria cara. Na maioria das vezes, entretanto, o mal não tem cara de nada mal, exceto pelo fato que ele realiza o casamento da necessidade instintual ou existencial, com a oferta de algo que seria anti-natural, mas realizaria um alívio imediato.
As tentações que nascem do instinto e da existencialidade são poderosas. Aliás, essas são as únicas tentações que de fato tentam.
O erro, nesse caso, está na entrega da necessidade à sugestão que vem de fora. É esse ceder à sugestão aquilo que conflitua a alma. Isto porque, sozinho, Jesus jamais transformaria pedras em pães a fim de se alimentar. Mas quando o diabo se imiscui no ambiente da necessidade, então, a simples fome virou tentação.
Ter fome não é mal, ao contrario, é bom. Pouca coisa é tão ruim quanto fome zero. Viver sem fome pode ser muito ruim, e quem já sofreu de algum tipo de inapetência sabe o que estou falando.
O equilíbrio da existência está entre a fome e o pão. Pão sem fome é um horror, e fome sem pão é uma desgraça.
É justamente nesse limbo que o diabo mora!
O diabo não vive do que é mal, mas sim de transformar o que é bom em algo ruim, pois que, tal coisa, se realizaria como concessão dele. O diabo adora pretender fazer concessões. Ele sabe que são essas concessões ilegítimas aquilo que torna até o ato de comer pão em algo culposo.
Na realidade aceitar algo como concessão do diabo é aquilo que torna qualquer coisa em algo ruim.
Nesse caso, o corpo treme de fome, e as pulsões de estranhos desejos se somam à necessidade, e a alma mergulha a caminho da transgressão a si mesma.
Pior do que a fome é o pão que carrega a sugestão do diabo!
Jesus se viu livre da tentação não negando a necessidade (o pão), mas afirmando a necessidade superior do ser: comer também e, sobretudo, a Palavra de Deus.
Negar a fome aumenta a tentação. Assumi-la, esvazia a tentação.
Quando você estiver com “fome”, e for algo normal, não negue a fome—afinal, depois de 40 dias e noite quem não estivesse morrendo de fome seria anormal—, ao contrário, respeite-a e chame-a pelo nome, você mesmo, e não deixe que ninguém se torne senhor de sua necessidade.
Jesus saiu dali e foi comer. E comeu comida de anjos. Mas só comeu o que era bom porque negou-se a comer conforme o cardápio do diabo.
Nenhuma necessidade humana é pecaminosa. A pecaminosidade da necessidade é apenas fruto da sugestão e de como ela vem.
Ora, assim como é com Deus, assim também é com o diabo, pois a questão não é o quê, mas sim como.
Sim, eu repito: a questão não é o quê—posto que todas as coisas provêm de Deus—mas sim “como”, posto que nem tudo o que é bom, é bom sempre, pois todo bem se torna em mal quando o patrono da solução é o diabo.
Assim, não se preocupe com a sua fome, mas apenas com as “soluções” que você encontra.
E lembre-se: Nem só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus.

Caio