quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O tempo se incumbe de revelar o valor de seu trabalho




Por Hermes C. Fernandes

A professora havia passado um trabalho para turma que deveria ser feito em dupla. O trabalho consistia numa entrevista com a aplicação de um teste psicológico que deveriam ser transcritos e entregues valendo a nota da última prova do período. Como havia feito o trabalho anterior em companhia de uma colega, resolvemos manter a dupla neste novo trabalho. Afinal de contas, a nota tirada antes foi um generoso 9 (poderia ter sido 10 caso a colega não houvesse se esquecido de incluir a conclusão).

Como a colega alegou que estaria sobrecarregada e não poderia dedicar-se ao trabalho, resolvi fazê-lo sozinho, porém, sem excluir seu nome.

Em pleno dia do meu aniversário, dediquei-me inteiramente à transcrição da entrevista e do teste, bem como à análise psicológica dos mesmos. Nem sequer pude sair com a família para comemorar meu aniversário. Informei à colega que teria que entregar o trabalho antes do prazo, pois no dia marcado estaria super ocupado. Ela pediu que enviasse para ela o trabalho para que ao menos imprimisse, já que não havia colaborado em nada até ali. Preferi imprimir, encadernar e entregar pessoalmente à professora. Porém, enviei uma cópia por e-mail para sua apreciação.

Já era madrugada quando recebi seu recado dizendo-se profundamente insatisfeita com o trabalho. Segundo ela, eu havia feito tudo errado e isso resultaria numa nota baixa para ela, fazendo com que perdesse sua bolsa do FIES. Humildemente, pedi desculpas e disse que fiz o melhor que pude. Na mensagem seguinte, ela me chamou de relapso (não com esta palavra), e que eu deveria ter prestado mais atenção às explicações da professora. Disse-me, então, que, já que o prazo para a entrega não havia vencido, ela se prontificaria a fazer outro trabalho, corrigindo os erros grosseiros que eu havia cometido. Eu disse que tudo bem. Não me importaria com isso, pois não achava justo que ela fosse prejudicada pelo meu suposto mau desempenho.

No dia seguinte, enviei uma mensagem pedindo que ela me mandasse uma cópia do trabalho para que eu pudesse apreciar, assim como eu havia enviado uma cópia do meu. Ela se sentiu ofendida e me enviou outra mensagem dizendo que não incluiria meu nome nesse novo trabalho. Estava tão estressada que usou palavras de baixo calão. Confesso que senti-me ofendido, porém, não perdi a linha. Procurei manter-me calmo. Disse apenas “tudo bem”. Então, comuniquei-me com a professora informando o ocorrido e pedindo que considerasse o meu trabalho como sendo apenas meu.

Esta situação me deixou extremamente mal. Já estava estressado com todo o corre-corre envolvendo o lançamento do meu CD, o aniversário da Reina, minhas bodas de prata, meu aniversário, etc. Aquilo foi a gota d’água.

De uma coisa eu tinha certeza: fiz o melhor que pude. E mesmo procurando agir com elegância, fui ofendido por uma colega a quem só quis ajudar.

Na segunda-feira, no comecinho da noite, recebo o recado da minha professora:"Parabéns, Hermes. Você tirou 10. Seu trabalho foi o melhor que já corrigi. Posso ficar com ele para usá-lo como exemplo para os demais alunos?"

Aquele simples recado encheu meu coração de alegria. Minha vontade era reenviar o recado para a colega, mas resisti bravamente, pois achei desnecessário me cartar depois da humilhação a que ela me submeteu.

Desde que decidi retomar minha vida acadêmica, sabia que poderia passar por situações desgastantes, mas jamais imaginava algo assim.

Resolvi compartilhar aqui para servir de estímulo àqueles que estão passando, já passaram ou vão passar por coisas semelhantes. Se deram o melhor de si, confiem. E se alguém quiser desfazer-se do seu trabalho, sigam confiantes. O tempo se incumbirá de revelar o valor de suas obras. 

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