terça-feira, 10 de março de 2015

Brasil: Pátria Corruptora



"Quão terrível e quão lastimável é que a nação viva em corrupção. É como óleo de peroba que vai descendo desde o topo, daqueles que deveriam ser exemplo, escorrendo até encharcar todo o tecido social. Ali o Senhor ordena o juízo até que se convertam de seu mau caminho e aprendam a prática da justiça motivada pelo amor." Uma paráfrase do Salmo 133.



Por Hermes C. Fernandes

Chegando hoje ao banco de que sou cliente, assisti a uma lamentável cena: um chefe de família sendo detido por haver roubado uma lâmina de barbear num supermercado. Os seguranças o renderam com arma em punho, como se o mesmo pudesse resistir. Enquanto eu aguardava para ser atendido, pus-me a refletir:

Qual será o futuro de uma nação em que ser honesto é uma exceção? Será que nos tornamos numa nação de ladrões em potencial? Seria esta a confirmação do adágio que diz que a ocasião faz o ladrão?

Como poderia ser diferente se a população não encontra em seus líderes uma referência de integridade moral e ética? Se os que estão no topo da pirâmide podem, por que os que se encontram em sua base não teriam o mesmo direito? Enquanto isso, nossa população carcerária não para de crescer. O político preso cumpre sua pena em casa. O ladrão de galinha divide uma cela com outros cinquenta. Como gostaria que acontecesse aqui o que está acontecendo na Suécia, onde quatro presídios serão demolidos por falta de quem os ocupe. 

Em seu discurso de posse, a presidente Dilma anunciou que o slogan de seu segundo mandato seria “Brasil: Pátria Educadora”. Mais de cinquenta milhões de eleitores acreditaram que sua proposta era a que melhor se ajustava aos anseios populares. Porém, agora, três meses depois, boa parte de seu eleitorado declara-se arrependido. A despeito da avassaladora campanha da oposição para desacreditá-la, o fato é que sua postura ante aos desmandos cometidos em sua gestão parece fornecer munição a seus adversários. É como se a presidente desse o passe que culminaria no gol contra marcado por seu próprio time. Mesmo que não seja comprovadamente corrupta, tem-se mostrado mais leal aos seus correligionários do que à nação que a elegeu; o que, diga-se de passagem, pode ser interpretado como cumplicidade ou conivência. Bem faria a presidente em dar ouvidos à admoestação bíblica:

“Até quando defendereis os injustos, e tomareis partido ao lado dos ímpios? Defendei a causa do fraco e do órfão; protegei os direitos do pobre e do oprimido. Livrai o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios. Eles nada sabem, e nada entendem. Andam em trevas. Salmos 82:2-5ª

E mais:

“Os teus príncipes são rebeldes, companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno, e corre atrás de presentes. Não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas.” Isaías 1:23

Imagino o quão difícil deve ser cortar na própria pele, ao ver colegas que lutaram ao seu lado tendo que responder por crimes de lesa-pátria e corrupção ativa. A remoção dos que agem iniquamente é condição sine qua non para que um governo resgate sua credibilidade junto a opinião pública. “Tira o ímpio da presença do rei”, exorta Salomão, “e o seu trono se firmará na justiça”(Pv.25:5).

Quem dera fôssemos realmente uma pátria educadora, onde nossos filhos encontrassem nos líderes da nação, homens e mulheres de envergadura moral e ética inquestionável. Em vez disso, eles crescem acreditando que vale a pena ser desonesto, pelo menos, aqui, em nossa tão amada e idolatrada pátria. A corrupção tornou-se num câncer cuja metástase já afeta todo o tecido social. Não há inocentes. Todos os partidos estão igualmente chafurdados neste tremedal de lama. O diagnóstico divino pronunciado pelos lábios do profeta parece caber como uma luva:

“Pereceu da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que seja reto. Todos armam ciladas para sangue; cada um caça a seu irmão com uma rede. As suas mãos fazem diligentemente o mal; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, e o grande fala da corrupção da sua alma, e assim todos eles são perturbadores”.
Miqueias 7:2-3

É esta sociedade completamente corrompida que fornece os componentes de nossa classe política. Eles não vêm de outro mundo, mas das famílias que constituímos. Ao chegarem ao poder, seu mau exemplo garante a continuidade da estirpe, retroalimentando um ciclo funesto aparentemente inquebrável. Não seria o caso de cobrarmos menos um mundo melhor para os nossos filhos e tratar de garantir filhos melhores para o nosso mundo?

Devo reconhecer que temos a classe política que reflete fidedignamente nossa estatura moral. Se quisermos que algo mude, não podemos esperar por eles. A mudança deve começar em nossa casa. Quando nossos lares fornecerem, não apenas políticos honestos, mas também empresários conscientes de seu dever cívico, comerciantes menos gananciosos, policiais íntegros, professores idealistas, advogados éticos, médicos altruístas, líderes religiosos mais afáveis e cordatos, o mundo estará ensaiando para tornar-se num lugar melhor para as próximas gerações. O ciclo da corrupção finalmente terá se partido e a justiça prevalecerá.


Seria ótimo se esta revolução começasse de cima para baixo. Mas não faz sentido ficar esperando por isso a vida inteira. Então, que comece de baixo. Que nossos púlpitos sejam menos usados para campanhas políticas e mais usados para educar nossa gente. Que nossos quadros negros não sejam usados apenas para informar, mas também para instruir e formar o caráter dos alunos. Que nossos pais sejam exemplos vivos para os seus filhos. E que sejamos motivos de orgulho para os nossos pais. 

Caso o contrário, quem precisará de um impeachment será toda uma geração.