sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Um cálice de 'cale-se' - Um brinde ao Silêncio


Um cálice de 'cale-se'

O silêncio é tributo prestado àquilo que a alma encanta

Se falo, ao céu expresso o que sinto
Se calo, réu confesso, consinto

Se falo, descrevo o que vejo
Se calo, é pela paz que almejo
Se falo, eu ancoro o desejo
Se calo, num mar calmo velejo
Se falo, demonstro traquejo,
Se calo, de repente um lampejo
Se falo, faço sempre gracejo
Se calo, só desperto bocejo
Se falo, enxurrada despejo
Se calo, valorizo o gotejo

Palavra é braçada.
Silêncio, mergulho.
Palavra é presente.
Silêncio, embrulho.
Palavra é porta.
Silêncio, janela.
Palavra conforta.
Silêncio, anela.
Palavra exorta.
Silêncio, apela.
Palavra distrai.
Silêncio, revela.
Palavra é tinta.
Silêncio é tela.
Palavra distingue.
Silêncio, nivela.
Palavras marcam.
Silêncio, sequela.
Palavra é palácio.
Silêncio, capela.
Palavra é barco.
Silêncio, a vela.
Palavras são partos.
Silêncio, gestação.
De palavras, fartos
Por silêncio buscarão.

Antes de levantar nossas vozes
lembremo-nos que diante dos algozes
O Verbo Divino se calou
Por nós sorveu inteiro o cálice
Se vai orar, primeiro, cale-se
em reverência à sua dor e a eloquência do amor.


Por Hermes C. Fernandes em 15/08/2013

* O poema tem a sugestiva forma de cálice

Ed René Kivitz - Responsabilidade