segunda-feira, 24 de março de 2014

A FESTA DO PAI NÃO É UM BAILE DE MÁSCARAS


Soren Kierkegaard certa vez disse que a vida é um baile de máscaras.
Ele sabia que este era o escudo atrás do qual as almas se escondiam de si mesmas, e, assim, tentavam ocultar suas faces também para a percepção dos demais.
 A maioria quer ser famosa, mas poucos querem ser conhecidos!
Ora, usar máscaras, para muitos, não passa de truque, de um direito, de uma opção: ser ou não ser; mostrar ou não mostrar; como se tal bravata contra o próprio ser pudesse passar sem punição.
Para muitos, esconder-se atrás das máscaras é apenas um questão de proteção ou de diversão inexaurível e viciante.
Sim, acaba virando um vício do ser, a tal ponto que sem as máscaras muitos homens não suportam e morrem.
Assim, para a maioria, sem o personagem, acaba a pessoa.
Talvez esta seja a razão pela qual até agora ninguém conseguiu conhecer você, pois toda revelação que você faz de “si mesmo”, é sempre uma ilusão.
Você não sabe quem você é, mas apenas sabe qual deve ser a sua imagem, a sua máscara.
Nesse caso, sua mais ardente e compulsiva tarefa na existência consiste em preservar seu esconderijo. E, sem dúvida, devemos admitir que muita gente desenvolveu tal capacidade de transformismo com a mesma habilidade dos polvos miméticos.
Sendo assim, diz Kierkegaard, “você é tão mais bem sucedido, quanto mais enigmática for a sua máscara”.
Quando a existência se transforma “nisto”, eu e você viramos de fato nada além de NADA.
Ou seja, passamos a ser apenas uma “relação com os outros”; e o que nos tornamos é unicamente em razão e em “virtude dessa relação”.
A moral é a grande máscara. E os moralistas são o que detém o maior número de disfarces. Entre esses, o mais danoso de todos é o estelionatário da religião, o picareta que come as almas dos homens.
Lobos mascarados de ovelhas! A maioria existe assim. Daí, para muitos, catástrofes que lhes roubem as “máscaras” os deixam em estado de desespero, visto que sem a máscara eles não possuem um rosto próprio, algo que a própria pessoa reconheça para si e como sua, e não apenas como um reflexo da imagem que os outros devolvem para você mesmo, supostamente acerca de quem você aparenta ser para eles.
Desse modo, você vende imagem, e se alimenta dela. Mas no dia em que as máscaras são tiradas, muitos não conseguem mais viver, pois neles não há uma vida própria, mas apenas uma existência fabricada para consumo no Baile de Fantasias, que é a existência da maioria.
”Você não sabe que vem a hora chamada “meia noite” na qual todos terão que lançar fora suas máscaras? Você crê realmente que a vida se deixará zombar para sempre? Ou talvez você pense que pode escapar um pouco antes da “meia noite” e fugir de tal hora? Ou será que você fica apavorado com essa idéia?”—pergunta o profeta.
Você consegue pensar em algo mais apavorante do que ter que viver tal “meia noite” em sua existência na Terra ou em qualquer outro lugar onde isto possa lhe acontecer?
Quem vive nesse Baile de Fantasias não tem idéia do que faz de mal à sua própria alma.
Não existe droga mais viciante do que a força compulsiva da “máscara”.
Aquele que se faz um com a mascara, faz-se um com o Nada, pois sua natureza vai se dissolvendo numa multiplicidade...e que acaba fazendo com que esse ser realmente se torne muitos.
Você pode se tornar semelhante àquele pobre Gadareno, ocupado por “infelizes demônios”; numa legião de falsas identidades, que não são suas identidades, e muito menos correspondem a você!
Os demônios habitam sob máscaras.
Por isto mascarados lhes são tão desejáveis residências.
Pobre do auto-enganado que pensa que as máscaras o salvarão!
Tire de sua cara a máscara. Do contrário, você poderá vir a perder a coisa mais sagrada e preciosa de um homem - o poder unificador da personalidade, e a capacidade abençoada de se tornar alguém que seja realmente você.

Caio 13/04/04 - menos de um mês depois da passagem de meu filho, Lukas, para a Glória do Pai.
Reflexão sobre as “Máscaras”, conforme a advertência de Kierkegaard, um irmão de leite que não cheguei a conhecer pessoalmente, visto que entre nós há séculos de separação no tempo. Mas somos mais chegados que irmãos, em milhares de pequeninas coisas.