quarta-feira, 18 de junho de 2014

GERAÇÃO ALGODÃO DOCE!

 


Conversava com minha mãe hoje cedo, quando ela me disse algo que eu sempre senti e quase nunca expressei, a saber: que as pessoas de antes, no tempo dela, e, também, no tempo quando nasci, ficavam velhas bem cedo.

Ela falava de uma amiga dela, velha jovem de alma e corpo, que, aos 79 anos, andava serelepe com minha mãe e a filha, esta, grande amiga de minha mãe, quando, sem mal algum, com a pressão de criança, com tudo em cima, amanheceu morta diante da televisão, levada por um súbito ataque cardíaco.

Eis o que mamãe disse depois de muito falarmos sobre a querida amiga dela:

Antigamente as pessoas ficavam velhas com cinqüenta anos. Aos sessenta se era idoso. Conheci sua avó Zezé quando ela tinha 50 anos. Morreu aos 79, mas já era muito velha desde cedo. Eu tenho 81 e me sinto jovem. O problema é o corpo. Mas se não fosse isso, eu estaria muito jovem ainda”.

Então lembrei das filhas da minha avó paterna, minhas tias queridas. Todas envelheceram sem ficar velhas também. Quase todas enviuvaram, mas não se enterraram com seus maridos. Deram-se aos filhos e netos.

Muitas vezes me parece que a geração de papai e mamãe foi melhor do que a minha e do que a de seus pais.

Recordei ainda que quando eu era menino as pessoas morriam por muitas razões. Quase tudo matava. A idade média do amazonense nos anos 50 era de pouco mais de trinta anos de idade. Hoje a idade média no Amazonas beira os 70 anos.

Um jovem de trinta anos hoje, que muitas vezes não casou e não saiu de casa, ainda que trabalhe, sente-se um menino, enquanto, a mesma pessoa, 50 anos antes, sentir-se-ia esmagado por responsabilidades, e preocupava-se com a aposentadoria mais do que com lazer, viagens ou aquisições.

É uma pena que tal “longevidade” não se faça acompanhar do carnegão que antes existia nas pessoas.

Hoje todos são muito fracos e imaturos. As exceções, em geral, acontecem apenas entre os mais pobres. No entanto, falando do todo, o que se tem é que esta geração é fraca.

Sim! Sabem muita coisa, mas são insensatos. Fazem muitas coisas, mas realizam quase nada. Pensam em dinheiro, depois em ter filhos. Antes se pensava em ter filhos, e, então, se corria atrás do dinheiro. Se houvesse alguma separação conjugal, coisa muito rara, a mulher e os filhos tinham prioridade em tudo. Não era uma questão de leis, mas de honradez. Hoje se discute na justiça. Têm-se leis, mas não se tem humanidade.

Antes os filhos tinham prazer em ajudar os pais, mesmo que eles nada precisassem. Era uma honra, um privilégio. Hoje, os filhos se penduram nos pais e se fazem de crianças debiloides até quando seja possível.

O que se tem cada vez mais hoje é uma geração de longevos idiotados e musculosos, mas sem tutano no ser, sem perseverança, sem alegria não-estimulada, sem um olhar limpo; antes, sempre angustiado, sempre sôfrego, sempre afetivamente carente, sempre quase em depressão, sempre correndo, sempre sem tempo, sempre eles, quase ninguém mais.

Mas, como disse antes, vejo que a minha geração é mais fraca de caráter e disposição do que a de meu pai.

Meu pai, todavia, é uma exceção. Até aos oito anos de idade ele se arrastava pelo chão, pois, com 1 ano, teve paralisia infantil e perdeu os movimento da perna direita. Tudo para ele era muito difícil. Mas brincava. Jogava bola no gol ou na defesa. Fazia barra e se exercitava muito com os braços. Ficou muito forte e musculoso. Amava ver os outros divertirem-se. Seu maior lazer, no entanto, era a leitura. Aos 18 foi incumbido pelo pai, que morria lentamente, de cuidar dos negócios da família, pois, os demais irmãos homens estavam estudando fora do Amazonas. Viajava 15 dias de ida e 15 de volta. Às vezes ficava semanas na beira de um rio esperando o batelão chegar para resgatar a borracha e a castanha. Sem uma alma a milhas de distancia. Sozinho. Com chuva. Muita chuva e mosquito carapanã. Queixadas, porcos do mato, o cercavam querendo comer a castanha. Ele os enxotava noites e noites a fio. Cursou todo o curso de Direito passando suas férias no Seringal. Namorou por carta durante quase dois anos. Aprendeu a esperar, a ficar só, a aguardar as estações.

Eu, de minha parte, só vi televisão aos 10 anos de idade, mas, nunca mais fui o mesmo. Até aos 18 foi uma loucura só. Embora, aos dezoito, ao me converter, da noite para o dia tenha virado homem. E foi assim desde então. Mas, estou longe de ter aprendido a paciência natural que norteava meu pai. Hoje busco crescer nas coisas que nele pareciam parte de tudo.

Quanto mais facilidades, mais fragilidades!

Quanto mais expectativa de longevidade, mais retardo!

Quanto mais instantaneidade, mais impaciência!

Quanto mais cellular, menos tutano!

Quanto mais computador, mais com puta dor!

Quanto mais fora, menos dentro!

Sempre foi assim. Hoje, porém, tais coisas são ambições de todos, e, assim, essa é a fraqueza geral.


O que fazer?

Impor dificuldades a fim de obter bons resultados?

Não! Pais têm que ajudar os filhos sempre, mas sem que a ajuda os retarde.

E mais:

Se você é desta geração virtual, sem mangueira no fundo do quintal, então, salve-se disso buscando saber que um homem é homem quando nasce, e que a fase de menino deve começar a acabar com os sinais de maturação do corpo.

Antigamente a relação entre maturidade física e psicológica era natural. Hoje o homem de 35 anos já tem fios brancos no cabelo, mas vive como um eterno adolescente na idade.

As mulheres casam tão tarde que não raramente precisam de ajuda médica para escolher um bom óvulo. Antes elas tinham filhos um pouco depois de fisicamente os poderem ter, e, também, os tinham com facilidade, e os criavam com alegria. Era um privilegio.

Para mim, no entanto, nessa área, o que há de mais feio é uma velha assanhada e sem noção.

Sim! Velhinhas que não querem ser chamadas de avó, pois, depõem contra. Velhinhas que escondem a idade. Velhinhas que não podem ver um homem. Velhinhas sem amor. E velhinhos também. Tudo igual para quem sente. Mas para quem vê, parece que na mulher além de ridículo, é ainda um perder da própria natureza.

Para alguém pode parecer apenas um falar careta. Mas creia, não é. E, além disso, também não é um falar de alguém com saudade de nada, a não ser do bem de ser bem humano, e que hoje se torna algo cada vez mais raro.

Digo o que digo visando a busca de força e saúde para a alma, pois, os dias adiante de nós serão dias muito maus, e não serão próprios para esta Geração Algodão Doce.

O ideal é que se seja longevo, resistente psicologicamente, e maduro conforme a idade cronológica. E mais ainda: que, sendo assim, sejamos também dotados de alegria séria e de séria alegria, como era com eles, os que hoje já nos são apenas grata memória.



Caio