sábado, 22 de março de 2014

Em defesa de "Jesus Cristo Superstar"


Por Hermes C. Fernandes
Esta semana assisti à entrevista de Negra Li no programa "Agora é Tarde" com Rafinha Bastos. Fiquei surpreso ao saber de sua participação no elenco do polêmico musical "Jesus Cristo Superstar", mesmo confessando-se evangélica. Porém, minha surpresa foi positiva e não negativa como alguns poderiam pensar.
Desde que estreou na Broadway em 1970, por onde tem passado, a ópera-rock de Tim Rice e Andrew Lllyd Werber coleciona protestos ao redor do mundo. Com montagens em mais de 40 países, seu sucesso estrondoso se deve muito a esses protestos e já faturou mais de 120 milhões de dólares. 
Diversos grupos religiosos querem proibir sua apresentação no Brasil. Um dos mais atuantes é a Associação de Devotos de Fátima que criou uma petição online exigindo que a ministra da Cultura, Marta Suplicy, cancele o que considera um espetáculo blasfemo, sacrílego, grotesco e pecaminoso. Dentre as coisas escandalosas do musical, destacam-se o fato da história ser narrada por ninguém menos que Judas Iscariotes, o discípulo traidor, além de sugerir de maneira subliminar uma relação "indecente" com Maria Madalena. Sem contar os trejeitos descolados do Filho de Deus que aparece sem camisa e de calças jeans.
Sinceramente, não vejo razões plausíveis para tanto. Devo confessar que nem mesmo "A Última Tentação de Cristo" me causou incômodo. Fui levado a assisti-lo justamente por curiosidade, devido à repercussão negativa entre os grupos religiosos. Lembro-me da onda de quebra-quebra nas salas de exibição. Assim que o lançaram em vídeo, fiz questão de assistir para que não emitisse uma opinião baseada em suposições de terceiros. Não vi nada demais. Nada que ferisse meus escrúpulos. Sinto-me muito mais ultrajado com o circo montado em torno de Cristo pelas igrejas midiáticas. 
Obras polêmicas como essas e o Código da Vinci de Dan Brown só fazem renovar o interesse das pessoas pela figura do Nazareno. O resto, é licença poética. 
Assim como fazemos vista grossa a produções como "Os dez mandamentos", "Príncipe do Egito" e agora, "Noé", que jamais se preocuparam em ser fiéis aos textos bíblicos, acho que deveríamos ser mais tolerantes com qualquer produção que fale de Jesus. Sentir-se insultado me parece ser equivalente a tomar a direção oposta proposta por Jesus. Não somos seguidores radicais do Islã, mas d'Aquele que nunca abriu Sua boca em defesa própria, nem pediu que o fizéssemos.
Assim que o espetáculo vier para o Rio, quero prestigiá-lo. Mesmo que não concorde com tudo o que ali for exposto. Pelo menos, terá falado de Jesus e Sua proposta subversiva. 

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