quinta-feira, 25 de julho de 2013

Terraformação: o agir do Espírito na formação de uma Nova Terra


Por Hermes C. Fernandes

H.G.Wells foi um grande gênio, criador do gênero literário de ficção científica. Foi ele que em 1898 imaginou como seria alterar um planeta a fim de torná-lo habitável.  Em seu livro “A Guerra dos Mundos”, extraterrestres invadem a Terra, derrotam a civilização humana e iniciam um processo de terraformação, preparando-a para ser colonizada por sua raça. Recentemente, o filme “O Homem de Aço” utilizou a mesma argumentação. O general Zod e seus asseclas pretendiam transformar nosso planeta num novo Kripton.

Terraformação é a denominação dada ao processo de modificar a atmosfera,temperatura, e geologia de um corpo celeste sólido (como um planeta ou um satélite natural) até deixá-lo em condições adequadas para suportar um ecossistema com seres vivos da Terra. A maior parte do que se sabe sobre a modificação de planetas é baseado no que já observamos em nosso próprio mundo. Os efeitos da poluição sobre o ecossistema de nosso planeta evidenciam que é possível afetar o ambiente em uma escala global a fim de transformá-lo, ainda que esse processo possa ser muito lento. Os cientistas concordam que Marte seja o candidato mais provável para as primeiras experiências em terraformação. A NASA, agência espacial americana, estuda maneiras de aquecer o planeta e de alterar a sua atmosfera, possibilitando uma eventual colonização humana.

Deixando o campo da ficção científica para o campo da teologia, o que muitos cientistas desconhecem é que nosso planeta já passou por uma terraformação, e que, esta se encontra registrada no livro de Gênesis. Ali somos informados de que “a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas” (Gn. 1:2). Interessante notar que o verbo hebraico traduzido por “pairar” é o mesmo usado em referência ao ato de chocar, próprio das aves.  Este verbo aparece em Deuteronômio 32:11, onde lemos: “Como a águia desperta a sua ninhada, paira sobre os seus filhotes, estende as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas.” O Espírito de Deus estava, por assim dizer, chocando as águas, preparando o caldo primordial de onde a vida emergiria na Terra. Por isso se diz longo adiante no texto de Gênesis que a ordem de Deus foi para que as águas produzissem a vida. E aqui, ciência e fé se harmonizam, pois ambas concordam que a vida surgiu da água.

O salmista tem um vislumbre da atuação criadora do Espírito Santo ao declarar:“Quando envias o teu Espírito, são criados, e assim renovas a face da terra”(Sl.104:30). Repare numa coisa importante que esta passagem nos revela. O Espírito não apenas é responsável pela criação e manutenção da vida, mas também pela renovação da face da terra. O processo de terraformação não está acabado. A Terra prossegue em sua renovação contínua. Placas tectônicas são acomodadas. Continentes vão se distanciando uns dos outros alguns centímetros por ano. O nível do mar aumenta em algumas regiões. O que antes era floresta torna-se deserto, e vice-versa. Animais migram. Espécies desaparecem. Vulcões entram em erupção. Aterros são retomados pelas águas do oceano. Enfim, a Terra está em constante mutação.

Em que pese o papel do homem na alteração da paisagem e do clima (seja para o bem ou para o mal), o fato é que, mesmo antes de ele ter aparecido, a Terra já havia sido cenário de várias extinções em massa. Se os dinossauros não houvessem sido extintos, os mamíferos não teriam se desenvolvido e a Terra não seria capaz de abrigar a raça humana.  Quero dizer com isso que as coisas não aconteceram à revilia. O Espírito Santo guiou todo o processo, tenha durado seis dias literais ou bilhões de anos como defende a ciência. Este processo todavia não terminou.  Uma nova terra está a caminho. Não será outro planeta, como acreditam alguns, mas a nossa terra completamente reformatada, pronta para ser habitação da nova humanidade.

A criação da nova terra é um processo que se dá concomitantemente à criação da nova humanidade. Porque esta nova terra deverá ser habitação da justiça (2 Pedro 3:13). Portanto, compete ao mesmo Espírito produzir esta nova raça de seres humanos, dotados de uma consciência comprometida com a justiça.

Jesus anunciou-nos que o Consolador por Ele enviado convenceria o mundo “do pecado, e da justiça e do juízo” (Jo.16:7-8). A renovação da mente, sem a qual não podemos experimentar qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus, passa necessariamente por estes três estágios.  Sem que sejamos convencidos do mal (pecado), não poderemos experimentar o bem. Sem que sejamos convencidos acerca da justiça, não provaremos o que é perfeito. Perfeição tem a ver com integridade, inteireza, justiça. Se não formos convencidos acerca do juízo, também não experimentaremos a agradável vontade de Deus. O mesmo Espírito que renova a face da terra, também almeja renovar nossa consciência, reformatando-nos, transformando-nos segundo a imagem do Filho de Deus, Jesus (2 Co.3:18). Se a nova terra fosse habitada pela velha humanidade, esta a destruiria como está fazendo com a atual.

Há três elementos usados como símbolo da ação do Espírito Santo em Sua interação com a terra e seus habitantes: água, vento e fogo.

Todos os três são responsáveis pelo processo que os geólogos chamam de erosão, através do qual a topografia da terra está em permanente transformação.  A ação desses elementos serve-nos como analogia da ação do Espírito Santo na transformação da sociedade.

Esta analogia é proposta pelas próprias Escrituras em várias passagens, dentre as quais destaco a que se segue:
“Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que faço uma coisa nova, agora sairá à luz; porventura não a percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo.” Isaías 43:18-19

É claro que Deus não está falando de um fenômeno geológico ou ambiental, mas usando-o como analogia da obra que Seu Espírito promoveria entre os homens. Algo novo já estava em andamento, todavia, ninguém se apercebera. Assim se dá com o processo de erosão. Algumas vezes acontece abruptamente, como quando ocorre um terremoto ou tsunami. Mas geralmente, acontece imperceptivelmente. Por isso os geólogos falam de “eras geológicas”. O que para nós, humanos, representa um tempo incalculável, geologicamente não passa de um momento.

Vamos verificar a ação de cada um dos elementos que representam a atuação do Espírito em convencer-nos do pecado, da justiça e do juízo:

1.  Água

Observe como as águas açoitam as rochas na praia. Pode parecer que as pedras estejam resistindo bravamente. Mas, em longo prazo, cumpre-se o adágio que diz: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!  Não só fura, mas a esfarela. De onde vêm a areia da praia, afinal? Não vêm das rochas esfareladas pela ação contínua da água? Sem embargo, águas transformam pedras em areia. De modo semelhante, o Espírito Santo transforma “pedras” em filhos de Abraão.  Para o judeu contemporâneo de Jesus, os gentios não passavam de pedras. Jesus desafiou a sua presunção ao declarar: “mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão”(Mateus 3:9). Ora, era sabido de todos que a promessa feita por Deus a Abraão era que sua descendência seria “como a areia que está na praia do mar” (Gn.22:17). Como transformar pedras em areia? Como transformar gentios pagãos em filhos de Abraão? Através da atuação do Espírito Santo. Sim. Porém, o instrumento usado por Ele para isso é a Palavra. Ela é “como um martelo que esmiúça a rocha” (Jer.23:29).

 Mesmo antes que estas pedras se transformem em grãos de areia, o Espírito desperta nelas o desejo de clamar. Jesus disse que se nós nos calássemos, conformando-nos ao atual estado de coisas, “as pedras clamarão” (Lc.19:40).  Clamarão reconhecendo seu pecado, e o pecado da sociedade na qual estão inseridos. Clamarão por perdão e serão salvos. Clamarão por justiça e serão fartos.

As águas também são condutores de vida. O caminho do pecado conduz à morte. Mas a vereda do Espírito conduz à vida. De acordo com a visão de Ezequiel, há um rio cuja nascente é o templo de Deus, mas cujo destino é desaguar no mundo. Apesar de alegrar “a cidade de Deus”, não temos o direito de represar suas águas. Pois “onde quer que este rio passar tudo viverá” (Ez.47:9). Seu objetivo é irrigar cada área de nossa existência, tornando fértil a terra seca. A cultura, a ciência, o governo, a família, são algumas dessas áreas que necessitam ser irrigadas pelas águas do Espírito.

Além de esfarelar rochas, transformando-as em areia, de conduzir vida por onde passa, as águas do Rio de Deus também nos lavam e purificam de todo resquício do pecado (1 Co.6:11).

2. Vento

O segundo elemento responsável pela erosão é o vento. Quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos reunidos no cenáculo, ouviu-se um ruído “como que de um vento impetuoso” (At.2:2). Foi este vento o responsável por espalhar o que, até então, estava restringido a um grupo fechado. Por isso, os discípulos “ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas”(v.4). Era importante que os estrangeiros reunidos em Jerusalém para celebrar a festa de Pentecoste tivessem a oportunidade de ouvir o evangelho em seus próprios idiomas. Basicamente, é isso que o vento faz: espalha. Daí sua importância no processo de erosão. Ao espalhar, ele distribui o que estava concentrado num único lugar.

Consideremos, por exemplo, as montanhas. Como se formaram? Ao longo de eras geológicas. Cada montanha é um acúmulo de terra e outros materiais. Cada vez que o vento sopra sobre ela, parte deste material é distribuída, e assim, a paisagem é remodelada. É claro que não acontece da noite para o dia. Mas de uma coisa podemos estar certos. Está acontecendo agora mesmo.

Veja o que diz o Senhor pelos lábios de Isaías:

“Todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido; e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E a glória do SENHOR se manifestará, e toda a carne juntamente a verá, pois a boca do SENHOR o disse.” Isaías 40:4-516:7-8

Exaltar o vale e abater o monte é uma metáfora para o estabelecimento da justiça do reino. Não é justo que uns tenham tanto, e outros tão pouco. Toda concentração de bens constitui-se numa injustiça (Is.5:8), e devemos priorizar não somente o reino de Deus, como também a sua justiça. Quando o vento do Espírito sopra, há uma redistribuição de riquezas. O terreno acidentado é nivelado.  Tira-se da montanha para aterrar o vale. Como disse Paulo:  “Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre” (2 Co.9:9). Não foi isso que aconteceu na igreja primitiva? O resultado da ação daquele vento impetuoso não foi só o falar em línguas, mas também o tornar “um o coração e alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comum”(At.4:32).

Ao convencer-nos da justiça, isto é, do que é justo, o Espírito de Deus nos faz converter-nos ao nosso próximo, buscando atender às suas necessidades com aquilo que nos tem sido confiado.

3.  Fogo

Dentro do simbolismo bíblico, fogo representa juízo. O fogo é, sem dúvida, a mais poderosa ferramenta de erosão disponível na natureza. Basta observar a fúria de um vulcão em erupção para verificar o que digo. A lava que escorre da montanha nada mais é do que rocha derretida. O que a água não houver esfarelado, o fogo certamente derreterá. Ninguém fica imune à ação do fogo. Nada é capaz de resisti-lo. O mesmo pode-se dizer do juízo divino.

Na visão do trono de Deus narrada pelo profeta Daniel, “um rio de fogo manava e saía de diante dele (...) Assentou-se para o juízo, e os livros foram abertos” (Dn. 7:10). Se para o justo, aquele é um rio de água viva, para o ímpio é um rio de fogo, semelhante à lava expelida por um vulcão.

Pedro nos adverte que o dia do juízo surpreenderá a muitos, quando “os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão” (2 Pe.3:10). Não creio que devamos fazer uma leitura literal deste texto, como se o planeta em que vivemos estivesse fadado a ser incinerado. Trata-se, antes, de uma poderosa metáfora para o juízo reservado à todos os que resistiram à ação da água e do vento durante as inúmeras oportunidades dadas por Deus.

Judas diz que o Senhor virá “com os seus milhares de santos, para executar juízo sobre todos e CONVENCER a todos os ímpios de todas as obras de impiedade, que impiamente cometeram” (Jd.1:14-15).

Se não nascermos da água, recusando-nos a sermos “instrumentos de justiça”, só nos restará sermos alvos do juízo de Deus.

Deus está redesenhando a geografia do mundo. Um novo mundo emerge diante dos nossos olhos: Um novo céu e uma nova terra em que habita a justiça. Se quisermos ser moradores desta nova realidade, temos que submeter-nos à ação do Espírito, reformatando-nos, tornando-nos cada vez mais parecidos com Jesus. 

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